Interpretando o Paladino — Como Ser Uma Verdadeira Mão de Deus

André “Oneiros” Sitowski
Rolando Dados
Published in
5 min readAug 7, 2017

Olá roladoras e roladores de dados desse incrível multiverso. Vamos nos tornar melhores jogadores de RPG?

Eu resolvi fazer uma série de posts com dicas para melhor interpretar um personagem, focando inicialmente nas classes básicas do RPG medieval fantástico, a começar pelo paladino.

Mas por que o paladino? Olha, pra ser bem sincero… foi bem aleatório. Pensei nessa série de posts e precisava começar por algum lugar, o paladino me veio em mente e comecei a escrever. Mas vamos parar de firulas e ir logo ao que interessa:

Paladino — A Origem

Voltemos à França do século XI. Lá se originaram as lendas de Roland e sua inquebrável espada Durandal. Os Doze Pares da França, que eram liderados por Roland, eram cavaleiros leais a Carlos Magno, rei dos francos naquela época, com extrema semelhança entre si em termos de força, habilidade com armas e lealdade ao rei, e daí o termo “par”. Em teoria, ali se dá a origem à palavra paladino, que seria derivada de palatinus, latim para palácio.¹

Numa antiga canção francesa, La chanson de Roland, esse bravo conde e sobrinho fiel de Carlos Magno, lidera seus onze companheiro (e mais uns vinte mil) numa batalha contra os mouros, que os atacam numa covarde armadilha combinada entre o líder do mouros, Marsílio, e o sogro de Roland, Ganelão… sempre o sogro, né?

Mort de Roland

Durante a batalha, apesar de estar em extrema desvantagem numérica (os mouros estavam em aproximadamente 400 mil), Roland se recusa a tocar o olifante (uma corneta) e avisar Carlos Magno da emboscada, já que isso poderia significar a derrota do rei.

Antes de morrer, Roland, montado em seu cavalo Vigilante e portando Durandal, decepa a mão direita do líder dos mouros e então toca o olifante. Sua alma é levada aos céus por anjos de luz.

Quando Carlos Magno chega ao local e se depara com o massacre, uma intervenção divina para o Sol no céu, amedrontando e impedindo que os mouros se escondam nas sombras da noite.

Os homens de Carlos Magno massacram os mouros, o rei segue Marsílio até sua cidade e lá derrota a todos os soldados, obrigando os moradores a se converterem ao cristianismo e levando a Rainha para roma, para que ela se convertesse “por vontade própria”.

Ganelão, é julgado e considerado culpado de traição contro rei, sendo executado de forma cruel: Seus braços e pernas são atados, cada um a um cavalo, sendo então arrancados quando os animais são açoitados e correm cada um para um lado.

Rei Arthur e os Paladinos da Távola Redonda

Távola Redonda

Já no Reino Unido, a lenda do Rei Arthur também nos apresenta os Cavaleiros da Távola Redonda, fieis ao rei, heroicos e justos. Estes também são considerados paladinos. Assim como na lenda de Roland, esses cavaleiros são condes, guerreiros e leais ao rei, que é a representação divina na terra.

Arthur, o cara que conseguir tirar a espada da perda e é coroado rei, tem em seus companheiros (o número varia muito entre 12 e 150), fieis guerreiros que sacrificariam sua vida por seu povo e soberano.

Então Thomas Malory, romancista e autor de Le Morte d’Arthur, descreveu um certo Código dos Cavaleiros, e é em cima desse código vou tentar te guiar para interpretar seu paladino.

  • Buscar a perfeição humana
  • Se formos ver que, na maioria dos RPGs, temos outras raças sapientes, podemos considerar “perfeição humana” como “perfeição da sua raça”, o que nos leva a perguntar: O que a sua raça mais preza? É isso que você deve lutar para conquistar!
  • Retidão nas ações
  • Isso vai depender muito das lei e do deus que seu paladino segue. Cortar a mão de um ladrão onde vigora a lei de Talião é certo, portanto, uma ação reta. O que vai importar é,novamente, o que sua raça, seu reino e/ou seu deus diz que é certo fazer?
  • Respeito aos semelhantes
  • Se no seu RPG existem elfos, anões, meio-orcs e outras raças, o cenário deve dizer como essas raças se relacionam entre si. Se a sua religião os considera semelhantes, ou seja, iguais, de mesmo nível, seria bom que você interpretasse isso e tratasse o elfo de forma igual à que trata o mei-orc. Mas se o cenário diz que as raças não consideram iguais, é um problema a menos para se preocupar. Dependendo do deus que seu paladino segue, é até bom que você olhe para outras raças de cima para baixo, afinal de contas, os francos não consideravam os mouros seus iguais!
  • Amor pelos familiares
  • E por familiares podemos considerar seus companheiros de aventuras e de guerra, pois nada deixa pessoas, sejam elas humanas ou não, mais próximas, que superar desafios e perigos juntas.
  • Piedade com os enfermos
  • Não preciso dizer nada, né? Se algum companheiro gritar por cura, já viu, né?
  • Doçura com as crianças e mulheres
  • Cavalheirismo, mas sem machismo.
  • Ser justo e valente na guerra e leal na paz
  • Justiça é, novamente, dependente do cenário, política, leis e religião em que seu personagem se encontra. Estude isso e se enquadre ali dentro. A valentia é valentia em qualquer parte e lealdade é ser fiel à sua palavra.

O Paladino do RPG

Nos jogos de Role Playing, o paladino é sempre tido como a mão de algum deus, na maioria das vezes bondoso e justo, que cumpre as leis de sua religião custe o que custar.

Curiosamente, os paladinos originais eram fieis ao seu rei, mas esse, por sua vez, era considerado a voz divina e sua vontade era a vontade de Deus, tendo esse deus dos cristão, inclusive, parado o Sol em favor de Carlos Magno… na lenda, claro!

Então temos um guerreiro, muitas vezes um conde, exímio na arte da espada e da montaria, fiel ao seu rei e deus, bondoso e justo (aos olhos de sua crença).

O paladino é aquele lutador que confia em seu deus pois sempre cumpriu à risca seu código moral e religioso, por isso sabe que será socorrido por esta divindade quando precisar. Roland lutou até a morte pois confiava em seu deus e, ao morrer, teve sua alma e corpo conduzidos aos céus por anjos! Tendo isto em mente, ele não teme mau algum, peita desafios que mais ninguém tem coragem e se sacrifica para proteger seu companheiros, seu povo e, acima de tudo, sua fé e seu rei, mas sem ser burro!

Ser bom e justo não significa ser uma toupeira, besta tapada e estúpida, caindo em qualquer armadilha ou pegadinha do ladino ou de um inimigo qualquer. Justamente por ter treinamento de guerra e por ter como objetivo principal proteger alguma coisa, ele sempre vai ser o mais cauteloso e justo, analisando a situação de forma equilibrada.

Portanto, equilíbrio, justiça, coragem e fé, mas tudo baseado nos moldes do cenário em que ele se encontra. A justiça de um deus da guerra vai, com certeza, ser diferente da justiça de um deus da natureza, por exemplo.

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André “Oneiros” Sitowski
Rolando Dados

Criador e autor do finado site Rolando Dados, André é apaixonado por literatura fantástica, principalmente a tolkiana, e adora filmes, games e música.