Os cineastas Fernando Meirelles e Marcos Magalhães — Foto: Valterci Santos/Montenegro Produções

Meu encontro com Fernando Meirelles

E Marcos Magalhães

Rômulo Zanotto
Blog do Rômulo Zanotto
4 min readOct 21, 2015

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Como raras vezes acontece em Curitiba, o Conversarte promoveu um grande encontro entre dois dos maiores realizadores do audiovisual brasileiro: Fernando Meirelles — diretor de Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira e de Felizes para sempre? (a minissérie da bunda da Paola Oliveira, lembra?) — e Marcos Magalhães — um dos mentores e diretores do Anima Mundi (maior festival de animação das Américas e segundo maior do mundo) e criador do Ratinho do Castelo Rá-Tim-Bum (“meu pé, meu querido pé que me aguenta o dia inteiro… tchu-ru-ru!”).

Numa louvável iniciativa da Montenegro Produções de promover e fomentar o debate artístico tão minguado em nossa cidade, o encontro teve como tema “A Produção Audiovisual Contemporânea”.

Eu tive o privilégio, na ocasião, de um encontro privado com os dois, para uma entrevista para a Revista ONE. O resultado? Você confere a seguir.

ONE — Os curitibanos gostamos de acreditar que somos culturalmente exigentes e que somos referência e vanguarda em diversas áreas culturais e artísticas. Honestamente, o quê é que vocês conhecem de realizadores e do mercado audiovisual curitibano? Como Curitiba é vista no eixo Rio-São Paulo?

MARCOS MAGALHÃES — Eu ganhei dois prêmios em festivais de Curitiba, então desde sempre fiquei simpático com a cidade. Tinha um grupo daqui, Os Irmãos Wagner, que fazia animação com Super 8. Não sei por onde andam, nunca mais tive notícias, mas foram pioneiros na história da animação brasileira. Entre os contemporâneos, conheço o trabalho do Paulo Munhoz.

FERNANDO MEIRELLES — Pois estávamos aqui a perguntar exatamente por quê é que nunca ouvimos falar no Paraná… (risos) Temos Minas, Rio, São Paulo, aí pula o Paraná e vai direto para o Rio Grande do Sul! Eu conheço o Silvio Back (catarinense radicado durante muitas décadas em Curitiba), excelente documentarista, e o Aly Muritiba (baiano radicado em Curitiba). Por quê é que o Paraná não tem uma música forte, um cinema forte, vocês têm uma explicação? Por quê é que o Paraná não tem uma cara? Passei um mês fazendo trabalho no Pará e lá tem a cara do estado o tempo inteiro. Tem o ritmo, tem tudo. Aqui não! Vocês são muito civilizados, parecem a Suíça do Brasil. A Suíça também não tem um grande músico, um grande cineasta… Faltam problemas para vocês, ninguém cria, a vida é boa. (risos).

Fernando Meirelles — Foto: Valterci Santos/Montenegro Produções

"Por quê é que o Paraná não tem uma música forte, um cinema forte, vocês têm uma explicação? Por quê é que o Paraná não tem uma cara? Faltam problemas para vocês, ninguém cria, a vida é boa." (risos) (Fernando Meirelles)

ONE — Marcos, qual era o papel de um festival como o Anima Mundi quando ele surgiu, no início dos 90, e qual sua importância hoje?

MAGALHÃES — Nos anos 90, era sensibilizar o mercado e os produtores para novas referências, novos formatos, para sair da mesmice, deixar de lado as regras esgotadas, criar produtos novos. Agora que esses novos produtos já surgiram, com o Festival servindo inclusive como fonte formação, a responsabilidade é de colaborar no estabelecimento deste mercado. Todos os festivais que têm história evoluíram para isso: não deixar de lado o aspecto artístico e atender ao público que naturalmente vai atrás de oportunidades, de criar negócios.

MEIRELLES — No meio dos anos 90, o único modo de assistir animação era o Anima Mundi. O Festival tinha, então, na minha opinião, este efeito de curadoria: vou lá porque alguém que já conhece escolheu. Na internet, eu assisto tudo hoje em dia, não dependo mais do festival para ver. Mas é importante o olhar do Marcos para dizer “vai lá e assiste este, este e este”. O festival vale pela curadoria.

Marcos Magalhães — Foto: Valterci Santos/Montenegro Produções

"Eu ganhei dois prêmios em festivais de Curitiba, então desde sempre fiquei simpático com a cidade." (Marcos Magalhães)

ONE — Para além da bunda da Paolla Oliveira, como é que você gostaria que Felizes para Sempre? fosse lembrado? É frustrante realizar um projeto como este, com uma qualidade bem acima da média televisiva, e a série ser comentada pelo que tem de mais “mundano”!? (risos)

MEIRELLES — Pois é! (risos) Sabe que, no dia que aconteceu essa onda, eu tomei um susto. Mas aí conversei com a Paolla, ela disse que “é assim mesmo”, ajudou a vender a série… ela estava tranquila. Fiquei chateado por ela.

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Rômulo Zanotto
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Escritor e jornalista literário. Autor do romance "Quero ser Fernanda Young". Curitiba.