3 lugares: Yuri Al’Hanati e suas viagens inesquecíveis

O escritor e criador do canal Livrada! destaca os lugares que marcaram sua experiência criativa e formação literária.

Roteiros Literarios
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4 min readSep 7, 2020

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Por Leonardo de Lucas

Yuri Al’Hanati, do Livrada (Foto: Rafael de Andrade)

Yuri Al’Hanati é um autor multimídia. Saltou dos convencionais meios impressos de Curitiba, onde trabalhou como jornalista e cartunista, para os blogs e daí alcançou um público cada vez maior nas plataformas de vídeos e redes sociais. Muito conectado às novas linguagens interativas, comanda, desde 2010, o projeto criativo e irreverente de divulgação e de crítica literária chamado Livrada! No YouTube o canal já conta com mais de quarenta mil inscritos.

No ano passado, Yuri debutou no mundo dos livros com o lançamento de Bula para uma vida inadequada. A obra reúne crônicas que refletem sobre alguns aspectos biográficos, avançando em temas que circundam o cotidiano, sempre com um olhar lúdico, distante e singular.

Mas é na relação com os espaços e seus universos distintos que o escritor encontra a sua melhor matéria prima. O ponto alto, nesse sentido, são as narrativas que tratam de suas viagens insólitas para destinos como Letônia, Albânia e Sérvia.

“Se somos a soma de nossas experiências e viajar é quase sempre uma experiência marcante na vida, somos, em boa parte, a soma de nossas viagens também”, diz.

Amante de viagens e de livros, o criador do Livrada! destaca ao Roteiros Literários três lugares que o influenciaram como escritor, seja pela história conturbada, pela literatura magnífica ou pelo encanto de seus contrastes.

SÉRVIA

Belgrado, na Sérvia

A Sérvia foi o primeiro lugar que visitei com um certo receio do que poderia haver lá e do que poderia me acontecer. Ouvi bastante história, mas no fim das contas, fui muito bem recebido e fiz ótimas amizades que mantenho até hoje. Foi a primeira vez que me joguei em um desconhecido real, hostil, para fora das zonas turísticas da Europa. Ali comecei a ter uma noção do tipo de viajante que eu era. O que gostaria de fazer, o que procurava. Tudo era livre das pressões turísticas dos destinos regulares. Foi o começo de minha viagem pelos Bálcãs. Passaria ainda por todos os outros países que compuseram a antiga Iugoslávia na mesma viagem (à exceção da Eslovênia, que conheci quatro anos depois). Acredito que ali estava em busca de uma parte da história do homem para a qual muita gente não quer olhar. A guerra fratricida, o terror que choca o mundo, o estado permanente de tensão entre os povos. Muito disso está em parte da literatura ficcional que produzi. A maldade que o homem é capaz de fazer e enterrar em sua própria história”.

RÚSSIA

Estátua de Fiídor Dostoievski em frente à biblioteca estatal de Moscou

A literatura, por sua vez, me levou à Rússia. Foi a primeira viagem que decidi fazer por causa dos livros. Desde que li Tarás Bulba, do Gógol, me encantei pelo que a literatura russa tinha para oferecer, e desde então nunca parei de ler autores russos dos séculos 19 e 20. Visitar Moscou e São Petersburgo foi uma realização. A Rússia mantém viva em suas ruas, praças e museus a história de sua literatura. Estátuas, estações de trem, praças e ruas dedicadas a Dostoiévski, Tolstói, Maiakovski, Gógol e tantos outros me emocionaram. Estar nas ruas russas é como estar em algum parque temático de seus heróis dos livros. Os russos consomem muito a própria literatura clássica, para além da escola, e se orgulham muito dela. Então pude ter longuíssimas conversas sobre literatura russa com praticamente qualquer um que encontrei nessa viagem. Foi uma experiência ímpar”.

TURQUIA

Göreme, na Turquia

O terceiro lugar que colocou minha imaginação para rodar longe foi a Turquia. Istambul, Goreme, Pamukkale, parece que cada lugar oferecia um desafio à coerência. Um mar que atravessa a cidade como um rio, casas feitas como castelos de areia em cavernas, piscinas calcárias ao redor de uma aridez indescritível, os padrões geométricos dos sufis por toda parte, a sempre presente bandeira vermelha com o crescente (a lua como símbolo do mistério religioso), tudo isso não me deixava esquecer que estava em um lugar excepcional. Havia lido antes de viajar para a Turquia o livro Istambul, de Orthan Pamuk, mas nada me prepararia para o que encontrei. É um lugar realmente excepcional”.

PARA LER

Bula para uma vida inadequada (Dublinense, 2019), Yuri Al’Hanati

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