Amsterdã no livro A Culpa é das Estrelas

Um pequeno tour com locais que estão no livro e que vai além da Casa de Anne Frank e do banco mais famoso da cidade.

Roteiros Literarios
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9 min readDec 3, 2019

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colaboração para o Roteiros

Indiana, nos Estados Unidos, é o cenário principal de A culpa é das estrelas, onde Hazel Grace e Augustus Waters se conhecem, se apaixonam e fazem com que todos nós, leitores, fiquemos suspirando e torcendo pelo amor deles.

Mas, outra cidade tem importância fundamental nessa história: Amsterdã, na Holanda, que representa na trama a realização de um sonho pra nossa mocinha. Para quem não se lembra, é na Holanda que mora o escritor preferido dela, Peter Van Houten, autor de Uma aflição imperial, livro que Hazel dá para Gus ler logo quando se conhecem.

O casal embarca nessa viagem para perguntar ao escritor sobre o destino dos personagens depois que o livro acaba, já que Peter não escreveu mais nada depois desse livro e se enclausurou em Amsterdã.

Aliás, a cidade tem uma importância não só no enredo fictício: o autor do livro, John Green, escreveu a história lá, hospedado num hotel. A inspiração estava logo ali na frente dele, o que deixa claro o porquê dos belos canais da cidade estarem bem presentes na trama.

Além de rolar toda essa intertextualidade de escritores em Amsterdã, o livro também traz muitas referências literárias pro público juvenil, o que é muito bom num best-seller e acaba incentivando outras buscas literárias.

William Shakespeare, Samuel Beckett, Walt Whitman são alguns escritores que aparecem no decorrer da narrativa, além de outros artistas como Magritte que também são citados.

Mas, voltando pro enredo, lá em Amsterdã, dois pontos turísticos chamaram a atenção na história: a Casa de Anne Frank, museu que o casal visita depois de ir à casa de Peter van Houten; e o famoso banco que eles se sentam à margem do canal.

O livro foi publicado no Brasil em 2012 e, em junho de 2014, foi a vez da sua adaptação cinematográfica dominar as telas grandes. É claro que como todo filme baseado num livro, há pequenas diferenças de roteiro. E elas vão ser apontadas logo adiante.

Logo que sai do aeroporto, Hazel Graze começa a observar do táxi a cidade que vai se mostrando à sua frente. O trio pega uma estrada com várias placas azuis com vogais dobradas — Oosthuizen, Haarlem — ao lado de uma grande planície desocupada ao que ela logo associa à sua cidade natal. Resumindo, a Holanda se parecia com Indiana, só que com carros menores”, diz a protagonista.

Ainda no táxi, depois de saírem da estrada, os três turistas começam a avistar as casas germinadas repousando precariamente sobre os canais, as bicicletas onipresentes e os cafés anunciando: salão de fumo.

O taxista foi explicando a eles que muitas casas do canal datam da Idade de Ouro, século XVII. Ele arremata com uma observação de que a maioria dos turistas só querem saber do Bairro da Luz Vermelha, mas a cidade tem também uma história riquíssima.

Alguns turistas acham que Amsterdã é a cidade do pecado, mas a verdade é que ela é a cidade da liberdade. E é na liberdade que a maioria das pessoas encontra o pecado”.

HOTEL FILOSOOF

Fachada do Hotel Filosoof (foto: Beth Berens)

Para esse roteiro, o nosso ponto de partida será o hotel onde Hazel, sua mãe e Augustus se hospedam em Amsterdã.

Kierkegaard, um filósofo e teólogo dinamarquês; e o de Gus, no andar de cima, o Heidegger, um filósofo alemão.

O escritor John Green também dormiu nesse hotel.

VOLDENPARK, O PARQUE MAIS FAMOSO DE AMSTERDÃ

A vista convidativa do Vondelpark (Foto: Expedia)

Próximo ao hotel, o parque é citado no livro logo quando os personagens se instalam em Amsterdã. A mãe de Hazel planeja um passeio pelo parque enquanto a filha descansa da viagem, mas acaba não rolando.

O parque é considerado o pulmão verde da cidade e reúne muita gente em busca de atividades física: a galera faz caminhada, anda de skate, joga futebol, passeia com o cachorro, faz piquenique ou fica de bobeira deitada na grama pegando um pouco de sol. No inverno, os lagos congelam e ficam liberados para patinação no gelo.

CASA DO ESCRITOR

Vista da rua Vondelstraat, onde, na ficção, fica a casa do escritor Peter van Houten

O escritor favorito de Hazel, o fictício Peter van Houten , que é motivo da viagem à Amsterdã, se recolheu no número 158 da Rua Vondelstraat e preferiu ficar ali no canto dele: não dá entrevistas, não responde às cartas dos fãs, nem nada.

Por isso, mesmo a casa dele sendo mera ficção, não chame à sua porta, porque Peter certamente não atenderia!

Vale lembrar que no romance, o escritor reside no número 158, numa casa branca e geminada e, no filme, durante a cena em que Hazel e Augustus chegam à casa, dá pra ver o número 162 estampado na porta.

RIJKSMUSEUM

O belíssimo museu Rijksmuseum (foto: Wyndham-Amsterdam)

O museu nacional Rijksmuseum existe há mais de 200 anos e faz parte da lista dos melhores museus do mundo com pinturas importantes de Rembrandt e Vermeer. Há um enorme fluxo de visitantes ali que deve-se, em grande parte, a uma grande praça que o Rijksmuseum divide com os museus Van Gogh e Stedelijk (arte moderna e contemporânea), a Praça dos Museus.

As pessoas vão a pé de um museu ao outro e, por isso, a praça e os seus arredores transformaram-se numa espécie de ilha. Além disso, há uma espécie de ciclovia que passa pelo museu, conhecida como Túnel de Bicicletas.

Os transeuntes e os ciclistas passam pelo túnel, criado no início da rua e que cruza metade da planta do prédio do Rijksmuseum, e podem chegar rapidamente à Museumplein (Praça dos Museus), onde estão o Museu Van Gogh e o Museu Stedelijk.

Hazel e Gus caminharam pelo Vondelpark, passaram pelo túnel de bicicleta, onde uma pequena orquestra tocava As quatro estações, de Vivaldi e continuaram em direção a Frederiksplein.

Para visitar:

Horário de funcionamento: das 9h às 17h
Quanto custa: Adultos: € 15. Grátis para menores de 18 anos.
O Rijksmuseum conta com restaurante, dois cafés, boa infraestrutura para quem tem limitação de acesso, visita guiada para grupos e atividades especiais para crianças a partir de 4 anos de idade, mediante agendamento.

ESTAÇÃO FREDERIKSPLEIN

Os bondes elétricos são um dos meios de transporte em Amsterdã (foto: Aron de Jong)

O casal protagonista teve um jantar romântico em Amsterdã oferecido pelo escritor Peter.

Para isso, tomaram o bonde (ou tram) na Estação Frederiksplein, com direção à Estação Central e assim conseguir mais duas paradas em Keizersgracht e Utrechtsestraat.

Se você está de passagem por Amsterdam, o mais provável que o tram seja seu maior meio de transporte (fora as pernas e, se você tiver alugado uma, a bike, claro).

RESTAURANTE ORANJEE

A descrição que John Green faz do caminho até o restaurante é encantadora. O jovem casal, depois de descer do bonde, caminha até o número 498 da Keizersgracht Leidsestraat . Ao chegarem, percebem que o restaurante fica de um lado da rua e as mesas ao ar livre, no outro, em cima de uma extensão de concreto à margem do canal.

Se dirigem, então, para o lado de fora, onde está chovendo flores de olmo, é primavera em Amsterdã! Vale lembrar que nesta parte também há uma diferença entre livro e filme. No filme, o casal se acomoda no interior do restaurante e não no lado externo.

Mas, infelizmente, os turistas que visitarem a cidade não conseguirão fazer uma reserva no Oranjee, porque afinal de contas, o restaurante não existe na vida real, só na ficção. O número 498 corresponde, na verdade, a uma casa residencial.

E este é o grande mistério do romance. Apesar da descrição detalhada do autor, não existe um restaurante com esse nome em Amsterdã. Há apenas um pub chamado “Oranjee”, mas fica bem distante dali.

O encontro dos canais Leidsegracht e Herengracht

BAIRRO JORDAAN

Apesar do restaurante ser fictício, o bairro em que ele fica não é. Jordaan é uma bairro perto da casa de Anne Frank, que também aparece no livro. É uma boa pedida para fugir um pouco das ruas lotadas de turistas e passear pela calmaria local. Jordaan tem ruazinhas estreitas com nomes de flores e pequenos canais.

A Nine Streets (nove ruas) é um lugar comercial com várias lojas alternativas e vintage. O bairro tem galerias e pubs antigos. Na área estão o Noordermarkt (onde são realizadas algumas das melhores feiras de rua da cidade) e lugares como o Museu da Tulipa e o Museu Casa-Barco, que mostra o interior de uma das emblemáticas residências flutuantes dos canais da capital holandesa.

O FAMOSO BANCO NO CANAL LEIDSEGRACHT

Cena do filme em que o casal conversa no banco, à margem do canal

Na narrativa do livro, depois que finalizam o jantar, o casal segue andando pelo canal e à distância de um quarteirão do Oranjee, se sentam num banco de praça, de frente para o canal, de onde conseguem avistar uma luz verde que vem do Bairro Vermelho. Chegam a achar graça com essa discrepância entre a cor da luz e o nome do bairro.

Na livro, Augustus conta a Hazel as más notícias sobre sua saúde no quarto do hotel mas, no entanto, no filme, os roteiristas decidiram trazer esse momento para o banco.

O banco fica aproximadamente onde o canal Leidsegracht converge com o Herengracht. Aqui, vale lembrar de uma história que chega a ser cômica: no ano passado, logo depois do lançamento do filme, o banco, que antes era anônimo, mais um banco entre tantos outros ali, virou febre na cidade.

E, numa manhã, aconteceu o inesperado: o dia clareou e o tal banco não estava mais lá! Pois é, acreditem se quiserem, roubaram o banco! A prefeitura logo se prontificou e colocou outro no lugar.

A CASA DE ANNE FRANK

Interior da Casa de Anne Frank (foto: annefrank.org)

Pra fechar esse roteiro, um dos lugares mais visitados de Amsterdã aparece em A culpa é das estrelas: é a Casa de Anne Frank. Uma enorme fila se forma diariamente em frente à fachada de vidro moderna dessa construção na rua Prinsengracht, no centro de Amsterdã.

Depois de saírem um tanto desapontados da visita ao escritor Peter Von Haute, o casal Hazel e Gus está ainda meio atordoado com a situação quando a secretária de Peter chama por eles e os convida a visitarem o museu.

Pra quem não conhece a história de Anne, é o seguinte: durante a segunda guerra mundial, sua família, judia, se escondeu dos alemães por mais de dois anos num anexo secreto atrás da fábrica de extrato de frutas que, antes das restrições impostas pelos nazistas, pertencia a seu pai. Anne tinha 13 anos na época.

Estante de livros esconde a entrada para o anexo, onde a família se escondia (foto: iaminamsterdam)

A família Frank permaneceu escondida até 4 de agosto de 1944, quando foram denunciados anonimamente. Oficiais alemães invadiram o local e enviaram todos para campos de concentração nazistas.

O único sobrevivente da família foi o pai de Anne que, posteriormente, descobriu que sua filha escrevia um diário durante esse período de clausura. O diário foi publicado, virou um best-seller, e foi traduzido para diversas línguas.

A casa preserva toda essa história. Os visitantes do museu têm acesso a uma exposição sobre o nazismo na Holanda e a vida da família Frank.

A parte mais interessante é a visita aos três andares do apartamento, que conta com três cômodos pequenos; um banheiro; uma cômodo amplo que servia de cozinha e sala e um sótão. A porta para o anexo, localizada no andar superior da antiga fábrica, ainda hoje é camuflada com uma estante de livros.

Sobre o museu:

Como chegar: fica a 20 minutos de caminhada da estação central. Pegue os trams 13, 14 e 17 ou os ônibus 170, 172 e 174. O nome da parada em que você deve descer é Westermarkt.

Quanto custa: A entrada custa 9 euros (4,5 para menores de idade) e não pode ser substituída pelo IAmsterdam Card. Para reservar online e evitar filas, clique aqui. Mas tente fazer a reserva online com antecedência, porque a procura também é grande.

PARA LER

· A culpa é das estrelas, de John Green (Ed. Intrínseca): Hazel Grace é uma paciente terminal que conhece Augustus Waters no Grupo de Apoio a Crianças com Câncer. Se apaixonam e, juntos, dividem suas dores e dilemas adolescentes e da doença.

· O diário de Anne Frank, de Anne Frank (Ed. Record): Anne Frank registrou a catástrofe que foi a Segunda Guerra Mundial. Seu diário está entre os documentos mais duradouros produzidos neste século, mas é também uma narrativa tenra e incomparável, que revela a força indestrutível do espírito humano.

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