A Queima das Fitas na cidade do Porto

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5 min readAug 25, 2020

por Maria Fernanda Moraes

Minha viagem por Portugal começou pela cidade do Porto. Cheguei pelo aeroporto de Lisboa, peguei o comboio (trem) e segui rumo ao norte do país para conhecer a primeira cidade portuguesa do meu roteiro.

Era início de maio, aquele meio de primavera já com cara de verão, o sol ardia durante o dia e a noite caía fria, conjunto perfeito para flanar pela cidade. Eu tinha lido que o Porto tinha um clima mais ameno, que era uma cidade menos solar, mas fui surpreendida com dias claros e abertos. A bruma, marca registrada da cidade, também estava lá em todo final do dia. Uma coisa bem bonita de se ver sobre o rio D'Ouro.

Além da luz bonita da cidade, outra coisa que me surpreendeu foi a movimentação estudantil por esses primeiros dias de maio. As ruas estavam tomadas por estudantes, centenas deles, e todos usando uma roupa característica que vim a saber depois que é tradição da vida universitária portuguesa.

A foto é de Nuno Fonseca, do jornal Sábado.pt

Trata-se de um traje típico: roupa social preta, capa, cartola e uma bengala. A base preta da roupa é comum a todos os estudantes. O que muda e diferencia uma turma da outra são as cores da cartola, da bengala e das fitas.

Foto: FAP

Elas, as fitas, são a chave de todo esse enredo. Comprei um jornal na banca para tentar entender a movimentação e estava lá: "Grande Queima das Fitas agita a cidade do Porto". Segundo a Federação Académica do Porto (FAP), responsável pela organização do evento, a Queima movimenta cerca de 350.000 estudantes anualmente.

Foto: Blog Erasmus

Trata-se de uma espécie de semana acadêmica, como acontece nas universidades no Brasil. Os estudantes se reunem para celebrar a passagem de períodos na universidade (leia mais sobre a história das fitas).

Há carros de som, gritos de guerra, além das cores variadas que diferenciam os cursos: amarelo, verde, violeta, azul. Ouvi bastante música brasileira nos carros de som pelas ruas e, também, algumas apresentações musicais que os estudantes fazem na rua para arrecadar doações (imagino que para a formatura).

A festa teve início na Universidade de Coimbra, em 1919, e logo no ano seguinte foi adotada pelos estudantes da Universidade do Porto.

Foto: Elle

As Fitas são os acessórios que selam a pasta que um estudante passa ao outro quando finaliza seu curso. Por exemplo: um estudante que está se formando passa sua pasta e sua fita a outro estudante que está entrando no último ano. Por isso a festa ficou conhecida como Queima das Fitas. E acontece em diversas outras universidades do país.

O curioso, realmente, fica a cargo das vestimentas do estudantes. Vê-los pelas ruas usando as togas (nome do traje universitário) remete a outra época. Logo me veio à memória uma outra referência.

Antes de chegar no Porto, eu tinha lido que uma livraria na cidade, a Lello, tinha servido de inspiração para a escritora J.K. Rowling escrever sua famosa saga Harry Potter. E, quando chego na cidade e me deparo com esses estudantes pelas ruas, não há como não fazer a ligação.

À esquerda, o traje acadêmico do Porto. À direita, o uniforme do filme Harry Potter (divulgação)

Confesso que não sou leitora de Harry Potter, mas basta ter assistido a um ou dois filmes que a familiaridade já vem à cabeça. Grifinória, Sonserina, Corvinal e Lufa Lufa certamente foram inspiradas pelas cores dos estudantes nas ruas do Porto.

A Livraria Lello fica nas redondezas da Universidade do Porto. Visitei a livraria pela manhã e, em seguida, depois de algumas passadas, já estava no largo da universidade, onde os estudantes estavam reunidos festejando com suas togas coloridas.

Os principais pontos desse centro histórico do Porto podem ser feitos todos a pé. Eu me hospedei próximo à rua Santa Catarina e percorria tudo a pé, com calma: a Sé, a livraria, a universidade, a Torre dos Clérigos, o Cais da Ribeira.

Fiz todo esse trajeto de visitação à pé

Outras referências de Harry Potter no Porto

Além da Livraria Lello e do traje dos estudantes, reza a lenda de que a cidade trouxe outras inspirações para J.K Rowling. Isso se explica porque a escritora viveu no Porto por alguns anos.

Ela se mudou para Portugal em 1991. Chegou na cidade do Porto e trabalhou em uma escola de idiomas como professora de inglês. Morava com outras duas colegas professoras, Jill Preweet e Aine Kiely, a quem ela faz uma dedicatória no livro O Prisioneiro de Azkaban.

Rowling se casou com um jornalista português, com quem teve a filha Jessica Isabel Rowling Arantes, em 1993. Mas o relacionamento logo chegou ao fim e ela retornou ao Reino Unido.

Café Majestic

O Café Majestic fica na rua Santa Catarina, área movimentada com intenso comércio que vai de lojinhas de souvenirs, docerias, restaurantes, galerias de compras até quitandas e cafés.

Foto: Café Majestic

A fachada do Majestic já o diferencia do seu entorno, embora o Porto tenha muitas construções antigas bem preservadas. Ele foi inaugurado em 1921 e é um dos cafés históricos mais bonitos do mundo, referência da cultura portuguesa. Além de servir refeições, o lugar recebe recitais de poesia, concertos de piano, exposições de pintura e lançamentos de livro.

Foto: Café Majestic

O que se conta é que J.K. Rowling sentava-se nas mesas do Majestic periodicamente para escrever A Pedra Filosofal, o primeiro livro da saga.

Jardins do Palácio de Cristal

Também se conta que Rowling passeava pelos jardins do Palácio de Cristal, que tem uma bela vista para o Rio D’Ouro. E que estes jardins a inspiraram a criar a Floresta Proibida.

Os jardins foram criados pelo arquiteto paisagístico alemão Émile David para envolverem o Palácio de Cristal, construído pelo arquiteto Thomas Dillen Jones tendo como modelo o homônimo londrino. Foi inaugurado em 1865. Em 1951, o edifício foi demolido dando lugar ao Pavilhão dos Desportos, hoje Pavilhão Rosa Mota.

Ainda no Porto, teremos post sobre a Livraria Lello e a Rua das Flores, que reúne os sebos mais legais da cidade.

Com informações do jornal Expresso

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