As casas dos escritores
Livro reúne as moradas de diversos autores, do “castelo de festas” de Lord Byron à casa barco de Dylan Thomas.
por Maria Fernanda Moraes
L ord Byron tinha um castelo na abadia de Newstead, em Nottinghamshire, onde dava festas grandiosas e mantinha alguns hábitos peculiares, como treinar tiro no salão principal e manter um urso e um lobo domesticados andando livres pelos corredores.
Já Dylan Thomas mantinha modos mais simples: em 1949 mudou-se com a esposa para uma casa-barco, em Carmarthenshire, e era considerada a casa dos sonhos dele. A vista constante para o curso da d’água inspirou muitos de seus poemas. Atualmente, o lugar se transformou na The Boat House Bed & Breakfast pousada.
Além dessas, outras casas de escritores espalhadas pelo Reino Unido estão no livro “Writers’ Houses: Where Great Books Begin” (em tradução livre: Casas de escritores: onde começam grandes livros), do inglês Nick Channer, publicado nos Estados Unidos, mas ainda não lançado no Brasil.
São 57 casas no total e o livro também traz fatos históricos e curiosidades sobre esses lugares, com um diferencial interessante: além dos detalhes da vida de cada escritor, Channer traça pequenos panoramas de como se vivia em cada época e região da Inglaterra onde estão localizadas as casas.
Numa entrevista ao jornal britânico The Guardian, o autor contou que essa ideia surgiu de uma forma diferente no começo. Ele tinha em mente fazer um livro sobre o roteiro de Agatha Christie, lugares por onde ela passou e que influenciaram seus livros. Mas, no final das contas, acabou saindo um projeto mais abrangente, incluindo outros escritores.
O mais legal dessa história toda é que Channer se mostrou ser “gente como a gente”. Durante a pesquisa para o livro, ele esteve em bibliotecas, visitou as casas, museus e pousadas — já que algumas das construções tiveram esse destino. E ele confessa que essa foi a parte mais emocionante, como quando hospedou na casa que foi de Dylan Thomas e chegou a dormiu no quarto do poeta.
O livro tem prefácio de Julian Fellowes, o roteirista da série “Downton Abbey” e pode ser comprado no site da editora inglesa. Além das casas, também há uma seção de casas de férias e hostels por onde passaram alguns dos escritores.
Pra matar um pouco a curiosidade, selecionamos algumas casas que estão no livro:
Casa de George Eliot em Arbury Hall, Warwickshire
George Eliot é o pseudônimo da romancista Mary Ann Evans que cresceu perto de Arbury Hall, onde seu pai trabalhava como administrador de terras e fazendas.
Isso contribuiu para que ela tivesse uma grande variedade de assuntos a abordar nesse âmbito, como os que ela explorou nos contos de Warwickshire e Scenes of Clerical Life.
A escritora era intrigada com a história dessa casa e remodelação gótica pela qual passou, que levou mais de 50 anos para ser concluída. Quando criança, ela acompanhava seu pai ao salão, onde ela tinha acesso livre aos quartos e podia visitar a biblioteca.
Jane Austen: Chawton House, Hampshire
Chawton foi a casa da família de Jane Austen (leia mais sobre a autora aqui) no início do século 19. Hoje, a casa foi transformada num museu, mantendo o ar e a atmosfera de uma casa de campo modesta.
Quando vivia em Chawton, Jane costumava preparar o café da manhã na sala de jantar todos os dias por volta das 9 horas. Ela trabalhava em uma mesa de três pés na sala, lugar onde fez revisões de Razão e Sensibilidade e Orgulho e Preconceito antes da publicação.
Às vezes, quando lhe surgia alguma ideia, ela se apressava ao quarto ao lado, onde tinha sua escrivaninha
Frances Hodgson Burnett: Great Maytham Hall, em Kent
Uma das obras mais conhecidas de Frances é O Jardim Secreto, publicada em 1911, cuja inspiração veio da casa onde viveu até o pai falecer.
Um dia, quando estava no jardim na Great Maytham Hall, Frances se distraiu com um passarinho que acabou levando-a a descobrir uma porta escondida pela hera em uma das paredes de tijolo. Do outro lado havia nada mais nada menos do que um jardim do século 18 que estava abandonado e quase morto. E a escritora o ressuscitou.
Agatha Christie: Greenway, Devon
Com uma vista gloriosa do Rio Dart, em Devon, Greenway pertenceu a Agatha Christie (leia mais sobre a autora aqui). A casa de estilo georgiano marca presença em vários de seus romances e foi cenário para um dos rituais pré-publicação de Christie.
A Rainha do Crime teria lido um capítulo de seu novo “whodunnit?” (história que trata de uma morte, mas cujo assassino só é revelado no final) à sua família e perguntado se eles conseguiriam descobrir o assassino. Muitas vezes, o marido de Christie, Max Mallowan, acordava durante o sono com uma pista que pudesse identificar o assassino.
John Keats: Keats house, London
O poeta da segunda geração romântica alugava um quarto no Wentworth Place (hoje conhecida como Keats House) em Hampstead, por £ 5 ao mês (cerca de £ 250 hoje). Sua vida mudou completamente em 1819, quando a senhora Brawne, uma viúva, mudou-se para lá também junto com seus três filhos.
A jovem Fanny, de dezoito anos de idade, fisgou o coração do poeta logo quando se conheceram. Hoje em dia, o salão da casa tem estantes cheias de publicações conhecidas por terem sido a biblioteca de Keats.
Henry James e EF Benson: Lamb House, East Sussex
A primeira vez que Henry James viu a Lamb House, situado na pitoresca East Sussex Cinque Porto de Rye, foi em uma aquarela que pertencia a um amigo arquiteto. Ao longo dos verões seguintes, James já poderia ser visto lançando olhares apaixonados por Lamb House.
Em 1898, ele descobriu que o proprietário havia morrido e Lamb House estava disponível para alugar. Não perdeu tempo e conseguiu um contrato de arrendamento em termos bem amigáveis. Lamb House mais tarde se tornou o lar de EF Benson, cuja obra Mapp and Lucia foi adaptada para a televisão pela BBC em 2014.
Lucy M Boston: The Manor, Heminford Grey, em Cambridgeshire
Continuamente ocupada por quase 900 anos, esta é uma das mais antigas casas da Inglaterra, com grossas paredes de pedra. Apenas algumas semanas antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, a mansão tornou-se a casa da escritora Lucy M. Boston, que usou a antiga casa e seu maravilhoso jardim como pano de fundo para os contos Greene Knowe, dedicados às crianças e publicados entre 1954 e 1961.
As irmãs Brontë: The Parsonage, West Yorkshire
“Haworth expressa as irmãs Brontë; as Brontës expressam Haworth”, escreveu Virginia Woolf após uma visita à casa das três irmãs, Charlotte, Emily e Anne.
“Eles se encaixam como um caracol em sua concha.” Uma das primeiras coisas que os visitantes vêem é a sala de jantar, que também foi uma sala de estar, onde os membros da família se reuniam e onde as irmãs Brontë concretizaram seus romances, circulando pela mesa inúmeras vezes e lendo excertos em voz alta uma para as outras. Os romances Jane Eyre, O Morro dos Ventos Uivantes e Agnes Grey foram escritos aqui.
* Com informações do The Guardian