Montevidéu: 3 livrarias para descobrir no meio do caminho

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5 min readJul 25, 2019

Por Andréia Martins

Os endereços das livrarias clássicas de Montevidéu, no Uruguai, eu já sabia. Logo, encontrá-las foi só uma questão de tempo. Nesse sentido, durante minha visita à cidade, as experiências mais legais que tive foram com as livrarias que encontrei pelo caminho meio que sem querer, como se achasse pequenos tesouros.

Foi assim que conheci as livrarias Moebius e Purpúrea, ambas no centro, e a Diomedes Libros, no Parque Rodó — esta em particular não é recomendável para leitores com mania de organização. Explico tudo nos próximos parágrafos.

MOEBIUS

Fazia o caminho rumo ao Mercado do Porto pela terceira vez (compreensível quando você fica seis dias em Montevidéu) e resolvi descer por uma rua diferente. Caminhei por quase toda a famosa rua Sarandí, no bairro Cidade Velha, e peguei a Perez Castellano do início. Tinha passado por ela, mas começado por baixo. Quatro quarteirões fizeram toda a diferença.

Descendo a rua, que é na verdade um calçadão, reparei em um letreiro grande onde se lia “Moebius”. Embaixo: “Arte, livros e objetos em extinção”. Achei que era uma loja só de quadrinhos (o que já seria maravilhoso), em referência ao quadrinhista francês, mas era na verdade um pequeno tesouro no meio de um reduto de lojas caça-turistas.

Uma mesinha em frente à livraria, bem no calçadão, já é um convite para uma parada. Livros expostos em cima de uma mesa retangular com uma toalha vermelha. Lá dentro, objetos como uma máquina de costura, dedais, máquinas de datilografar e telefones de fio dão um ar de lugar antigo.

A livraria foi aberta em La Pedrera, um balneário a 230 km de Montevidéu, e há sete anos migrou para a capital. E o nome, bem, trata-se de uma referência ao cientista Moebius. O local ainda expõe trabalhos de diversos artistas, entre eles, Daniel Barbeito. Há quadros, postais, imãs e marcadores com as ilustrações do artista uruguaio, além de objetos em extinção, basicamente da década de 50 e 70 e um vasto catálogo de livros de arte.

  • Endereço: Sarandí 274, entre Colón E Pérez Castellano — Centro

PURPÚREA LIBROS

Andar pela avenida 18 de Julio é uma das caminhadas mais agradáveis que você pode fazer pela capital uruguaia. Isso se você for daqueles que gosta de conhecer as cidades andando. Pela avenida, não deixe de reparar numa espécie de caixa retangular no canto da praça Entrevero, atrás da galeria de exposições Subte. Ali está a Purpúrea. Nela você vai encontrar filmes, livros de arte, quadrinhos e de ilustrações, bem como ficções e não-ficções uruguaias (e de outros autores latinos) e um vasto acervo de livros infantis.

Quando você entra, a disposição da livraria faz você se sentir em casa, num cantinho aconchegante e lúdico– há um violão com uma placa onde se lê “para tocar” e que o visitante mais prendado pode aproveitar.

Esse clima, aliás, é o que Judith, uma das livreiras, vê como diferencial da Purpúrea: “Muita atenção, simpatia, uma conversa agradável, mesmo que não compre nada, uma indicação e um lugar aconchegante onde você pode entrar em contato com a cultura uruguaia através da literatura, da música e do cinema”.

Como professora de literatura, ela vê sua outra profissão como muito satisfatória e entende que “indicar livros é como uma forma diferente de ensinar algo e ajudar para que cada vez mais gente leia mais”.

  • Endereço: Plaza Entrevero — Avenida 18 de Julio (Centro) |
  • Aberta todos os dias, das 11h a 21h

DIOMEDES LIBROS

Embora eu estivesse hospedada a apenas cinco quadras da livraria/sebo, provavelmente não a teria conhecido se não tivesse ido ao Museu de Artes Visuais. Explico. Uma das obras em cartaz era sobre um sobrado que pertencera a uma militante de esquerda perseguida pela ditadura uruguaia, que lá ficou escondida até ser denunciada à polícia. Bem, no catálogo, o autor dizia que quando soube da história quis ler tudo a respeito do local para realizar a instalação e, para tal, recorreu ao Jorge, da Diomedes Libros, “o melhor lugar na cidade para você achar literatura sobre qualquer tema”. Alguma dúvida de que eu precisava conhecer esse lugar?

Li um pouco sobre o local e visitei a livraria dois dias depois. Jorge, o livreiro responsável pela Diomedes, está no balcão atendendo uma estudante de psicologia.

-Provavelmente estes livros devem estar naquela parte de psicologia, certo? — pergunta a moça.

-Essa seria uma boa lógica, responde o livreiro rindo.

Não espere encontrar na Diomedes Libros aquela tradicional organização de livrarias ou sebos: livros separados por temas ou autores, em ordem alfabética, por idioma, ficção ou não ficção… Esqueça. Há uma ou outra placa identificando o que você pode encontrar nessa ou naquela pilha de livros. Mas isso não significa nada.

A livraria divide-se em duas salas — sem contar a mesinha em frente à entrada com livros baratinhos à venda. A primeira conta com livros mais novos, de diferentes gêneros, enquanto a segunda é um sebo. Ali, as pilhas de livros são um convite ao leitor mais curioso e um desafio para quem tenta passar por entre elas.

E é justamente essa “desorganização” que torna a livraria interessante. Você se vê procurando algo que nem sabe o que é. De repente, pode ser surpreendido com um livro, novo ou velho, e sair de lá satisfeito. Por isso, vá com tempo ao local se você quiser ter a experiência de não escolher um livro, e sim ser escolhido por ele.

  • Endereço: Bulevar España 2129, Parque Rodó
  • Aberta de segunda a sábado, das 10h às 22h

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