Nova York: a biblioteca pública do Brooklyn de portas abertas

Visitamos um dos templos do livro da cidade americana, com um acervo de quase 3 milhões de títulos.

Roteiros Literarios
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6 min readDec 11, 2019

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por Maria Fernanda Moraes

Era um domingo típico de finalzinho de outono: céu azul estralando e um frio cortante que trazia notícias do inverno. O dia estava reservado visitar a região do Brooklyn e conhecer a Brooklyn Bridge, mas meu hostess deu a dica dos campeões: deixar a ponte para algum dia durante a semana por causa do movimento e ir conhecer a Biblioteca Pública do Brooklyn e o Prospect Park.

Bingo! Saímos de Manhattan em direção ao Brooklyn e descemos na estação de metrô na Franklin Avenue. Logo de cara, a primeira notícia boa, chegar ali era mais rápido e fácil do que eu imaginava (metrô ❤). Caminhando alguns passos além da estação, o Jardim Botânico do Brooklyn já foi dando as caras, sem vergonha de exibir suas folhas coloridas pelo chão.

A exuberância da fachada do Museu do Brooklyn, a poucos metros da biblioteca (Foto: Maria Fernanda Moraes)

Mais um quarteirão vencido e uma construção que vai apequenando quem passa pela calçada surgiu. Fiquei na dúvida se já seria a biblioteca, mas uma placa informativa me alertou. É o Museu do Brooklyn de Artes e Ciências com sua escadaria arredondada que parece querer abrir os braços sobre os visitantes.

Mais algumas pernadas à frente e lá estava ela. Ou melhor, elas. A Biblioteca Pública do Brooklyn (BPL) fica exatamente em frente à Grand Army Plaza, onde um belo monumento em forma de arco marca a intersecção de diversas avenidas por ali. Ambas são monumentais.

A fachada é lindíssima ❤ (foto: Maria Fernanda Moraes)

Colunas de 15 metros de altura e desenhos pintados a ouro enfeitam a fachada da biblioteca. É bem verdade que isso tudo traz uma primeira impressão um tanto quanto confusa. Isso porque apesar da bela fachada, ela dá uma ideia de imponência, sabe, como se fossem aqueles antigos templos do saber, em que não se pode ouvir um pio e nem sair fora da linha. Que nada! É só pisar do lado de dentro e tudo cai por terra.

Venci a imponência, senti a calefação quentinha lá de dentro, dei graças a Deus pelo Wi-Fi grátis alcançado e fui tentando me localizar ali dentro. Do lado direito à entrada ficava o salão principal, com prateleiras de livros e mesas para leitura. A BPL tem mais de três milhões de títulos, segundo o site, e também disponibiliza coleção de eBooks e audiobooks online.

À esquerda, uma ala infantil, de onde vinha um burburinho e logo avistei que estava lotada de crianças e pais. Como eu contei no começo, era um domingo e, pelo que pude notar, a maioria das crianças estava ali fazendo dever de casa ou estudando. A biblioteca é bem preocupada com esse público, em acolhê-lo. Oferece programas para crianças de todas as idades.

A ala infantil tem um charme especial para cativar os pequenos

Há cursos de inglês e de alguns outros idiomas. Também oferece programas de alfabetização precoce para crianças aprenderem a ler e um programa específico para melhorar as notas delas através de ajuda na lição de casa. Senti que a biblioteca funciona como um centro comunitário: não só oferece acesso gratuito a computadores públicos, como tem um programa de recolocação profissional que põe candidatos em contato com empresas, além dos programas de cultura e lazer que trazem na programação escritores, músicos e artistas visuais.

As crianças e adolescentes se sentem à vontade dentro da biblioteca

Um detalhe que me chamou a atenção é que havia uma unidade de polícia ali dentro da biblioteca. Um funcionário me contou que eles também promovem reintegração dos presidiários com suas famílias por meio da educação e leitura. Houve dois programas específicos já realizados: o Daddy and Me, em 2010, e o TeleStory, que está em andamento este ano.

No primeiro, os filhos dos presidiários podiam visitar os pais, que liam histórias para as crianças. Um funcionário da biblioteca sempre acompanhava os encontros e gravava as sessões. As crianças podiam, então, levar esse áudio para casa e ouvir sempre que quisessem.

Já no TeleStory, as famílias vêm até a biblioteca e fazem videoconferências em tempo real com o presidiário. Eles têm um tempo junto para também contar histórias, cantar músicas, essas coisas.

Outro detalhe interessante é que a biblioteca funciona num sistema de teia. Essa é a unidade central, mas há outros 58 ramos ou filiais menores (que eles chamam de branches) espalhados pelo Brooklyn. São as Carnegie Libraries. A BPL ainda mantém uma outra iniciativa divertida, os bookmobiles, alguns ônibus personalizados que circulam pelos bairros numa espécie de biblioteca itinerante. São quatro no total, entre eles um específico para o público infantil e outro que carrega uma coleção de livros de língua espanhola.

Aqui, estamos de frente para a fachada da BPL e com a Grand Army Plaza ao

#DICA

Como vocês perceberam, no caminho entre o metrô e a biblioteca, passei pelo Jardim Botânico, o Museu do Brooklyn e a Grand Army Plaza (aqui na foto abaixo, ao fundo).

Além disso, o Prospect Park também é logo ali em frente à biblioteca.

Ele é uma versão reduzida do Central Park, mas não menos charmoso, vale a visita. É o combo perfeito, com opção para todos os gostos, num só passeio.

Vale a visita ao Prospect Park, logo à esquerda da BPL

FLEA MARKET

Este era um dos sebos da Flea Market ❤

Neste mesmo dia, estiquei um pouco a programação e também fui conhecer a Flea Market. É uma feira de antiguidades, um mercado de pulgas famoso no Brooklyn.

No verão, a feira é realizada a céu aberto, em Williamsburg. Mas como estávamos quase no inverno, ela estava montada numa antiga fábrica ali nas redondezas da BPL.

Da esquina da Grand Army Plaza até o prédio da feira deu uns 6, 7 quarteirões a pé. Dá pra aproveitar a andança e ir olhando os brownstones, os prédios característicos do bairro.

Além das quinquilharias, a Flea Market também tinha muitos sebos e alguns achados interessantes, como uma coleção de revistas New Yorker antiga. Se você for visitar o Brooklyn, vale olhar no site e se programar.

Outro canto da Flea Market, que tem de tudo um pouco

HISTÓRIA DA BPL

Originalmente concebido como uma pequena rede de bibliotecas no Brooklyn, o sistema BPL foi aprovado por uma lei do Estado de Nova Iorque em 1 de Maio de 1892, e mais tarde passou por resolução do Conselho Comunitário do Brooklyn em 30 de Novembro de 1896.

O edifício no Grand Army Plaza começou a ser construído em 1912 e foi concluído em 1941. Entre 1901 e 1923, o filantropo Andrew Carnegie doou $ 1,6 milhões para o desenvolvimento das bibliotecas filiais (por isso levam seu nome). Hoje, o sistema BPL é o quinto maior sistema de bibliotecas do país.

SERVIÇO

Endereço: 10 Grand Army Plaza, Brooklyn, Nova York, 11238. De segunda à quinta, das 9h às 21h; sexta e sábado, das 9h às 18h. Domingos, das 13h às 17h.

Como chegar

Vá de metrô: descer na estação Eastern Parkway–Brooklyn Museum, da linha IRT Eastern Parkway Line, ou na estação Botanic Garden, da linha Franklin Avenue Shuttle.

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