O refúgio de Mário de Andrade na Lopes Chaves
Conheça a casa onde escritor morou com a família em São Paulo, reaberta em 2015
Por Andréia Martins
Como era vontade do escritor Mário de Andrade (1893–1945), sua cabeça está guardada na Lopes Chaves, 546, endereço da casa onde morou com a família e que foi reaberta em São Paulo em 2015 (data da nossa visita), no ano em que o autor completaria 70 anos. Ali estão dois bustos do escritor, em semblante sereno, guardando parte de sua história e obra.
O local reabre com o nome Museu Casa Mário de Andrade, e agora pretende levar movimento abrigando oficinas culturais e a exposição permanente “O Coração Perdido”, que conta a história de Mário reunindo objetos pessoais, móveis antigos e réplicas e todo um conjunto de memórias e afetos que o autor paulistano acumulou em vida.
Logo na entrada, o visitante se depara com um mobile com o traço mais marcante do autor: seus óculos redondos. Nos primeiros passos você encontra objetos pessoais do autor, como carteira de trabalho, documentos eleitorais e um curioso caderno de finanças.
O primeiro andar da casa contempla uma grande sala aberta, a biblioteca onde Mario tocava piano e dava aulas — ali, entre livros, o piano e partituras, o visitante pode ver um dos programas de aula, chamada de “Chás Musicais do professor Mário de Andrade”. Num deles, datado de setembro de 1924, a aula trazia Beethoven, Chopin, Schumann e outros. Os livros ali reunidos não pertenciam à coleção original de Mário. O curador, Carlos Augusto Calil, optou por colocar livros ligados à obra do escritor e aos modernistas.
Na outra sala há retratos de diferentes fases de Mário, postais enviados por amigos ilustres das artes e literatura, um dos programas da Semana de Arte Moderna de 1922 e vídeos e trechos de relatos da viagem que o autor fez por Minas Gerais, Belém, Bolívia e Peru.
O segundo andar da casa traz um material multimídia com vídeos ligados à vida e obra de Mário e três salas onde serão realizados cursos e oficinas. Ao lado da casa foi erguido um galpão onde poderão ser exibidos filmes, peças, espetáculos de dança, shows e exposições.
A reabertura da casa marca o reencontro do escritor com sua cidade natal e o local onde viveu sua fase mais fértil. No ano seguinte, em 1922, ele publicaria seu segundo livro, Pauliceia Desvairada, dando início a uma intensa produção literária.
Mário de Andrade chegou a casa na Lopes Chave em 1921, quando sua mãe, já viúva, comprou o sobrado após vender a casa da família no Lago do Paiçandu. Ficou ali até 1945, quando morreu.
Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paiçandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves, a cabeça
Esqueçam. (Lira Paulistana, Mário de Andrade)
A casa era, ao mesmo tempo, um abrigo para o escritor, um espaço reservado à intimidade pessoal, mas ao mesmo tempo tinha um caráter bastante social, pois era lá onde o escritor recebia seus amigos para festas e comemorações. E ele gostava da casa cheia.
Ele mesmo desenhou os móveis de seu escritório e biblioteca, inspirado pelo trabalho de Bruno Paul, que conheceu numa revista de arte alemã. Uma das marcas da residência, embora modesta, era o número de quadros, livros e discos que Mário acumulava.
Para quem é leitor habitual do escritor sabe que referências ao sobrado são frequentes em suas prosas e versos. Então, já era tempo de Mário voltar para casa.
SERVIÇO
- Rua Lopes Chaves, 546 — Barra Funda (perto do metrô Marechal Deodoro)
- Telefone: (11) 3666–5803 / 3826–4085
- Segunda a sexta-feira, das 13h às 22h; sábado das 9h às 13h
- Entrada gratuita
PARA LER
- Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade
- Lira Paulistana
- O Turista Aprendiz, de Mário de Andrade
Originally published at http://novo.roteirosliterarios.com.br on May 25, 2015.