Vai à Flip? Roteiros Boêmios e outros rolês em Paraty

Escritores que já participaram do evento dão dicas de comes, bebes e afins na cidade.

Roteiros Literarios
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6 min readJul 30, 2014

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Ilustração: Lucas Busto

Quando se relaciona literatura à boemia, muita gente lembra logo de cara de Hemingway, Bukowski ou ainda Lima Barreto e Paulo Mendes Campos, para falar dos brasileiros.

Este último, já tinha até uma resposta quando lhe perguntavam porque se bebia tanto: “ Bebemos para empatar com o mundo. O mundo está sempre a ganhar da gente, de 1 a 0, 2 a 0… bebe-se na esperança de igualar o marcador.”

Hemingway, inclusive, cunhou [e colocou em prática] uma frase que vira e mexe aparece pelas redes sociais: “ Escreva bêbado, edite sóbrio “. Mas, antes de virar esse lugar comum — quase um epíteto de vários escritores — a relação entre literatura, bebida e comida representa muito mais do que uma prática boêmia ou um estilo de vida.

A comida, assim como a bebida, não fica atrás. Simone de Beauvoir, por exemplo, via a alimentação de forma sensual ou, em outros momentos de sua vida, como uma forma de confronto.

Gertrude Stein era famosa por sua comida cosmopolita, desde pratos franceses, americanos até a colaboração de Alice Toklas na manipulação de produtos escassos durante a guerra.

Ou seja, há uma importância simbólica por trás dos alimentos e da bebida na vida das pessoas, um papel social muito maior do que apenas uma tradição boêmia.

E, como a festa literária mais famosa do Brasil, a FLIP, acontece numa cidade famosa por sua gastronomia e sua cachaça, o Roteiros Literários convidou alguns escritores que já participaram da festa em anos anteriores para darem dicas de comes, bebes & outros rolês bacanas pela cidade. Afinal, nada mais simbólico do que lembrar de Paraty pelos lugares que enchem os olhos e os estômagos, além claro, da literatura.

[*as dicas estão numeradas para facilitar a localização no mapa acima]

1- Alice Sant’Anna — Pastelloni, a pastelaria na saída da ponte

“Meu ponto preferido de Paraty não é nenhum esconderijo (embora ache lindo aquele beco chamado “Rua do Fogo”). Gosto de ficar bem na ponte que liga o centro histórico à praia, onde armam as tendas. Lá, todos sabem, tem uma pastelaria que vende pastéis gigantes, não sei de quantos centímetros, trinta ou quarenta. Bom mesmo é ficar ali perto vendo os cachorros dormindo no meio-fio. Quando acordam, sempre têm um final de pastel, ou praticamente o pastel inteiro (ninguém dá conta) para beliscar. Depois voltam a dormir. Parece uma boa vida.”

2 — Caco Galhardo — Barril Pub e Prainha

Rua Marechal Deodoro, s/n — Centro Histórico

O cartunista sugeriu o Barril Pub, “um boteco que rola forró na madruga e que fica no Centro Histórico”. Outra dica é o bar (o único) na Prainha, praia minúscula ao lado de Paraty e cujo acesso é feito por uma trila curtinha. “Lá é bom de dia, para rebater a ressaca com uma caipirinha”, recomenda Caco.

3- Allan Sieber — Restaurante Villa Verde

Estrada para Cunha, Km 7, 8

“Nos meus tempos de boemia eu bebia muito e consequentemente esqueci tudo (risos), só não esqueci das pedras nas ruas. Mas em 2013, um amigo que mora em Paraty levou eu e minha adorável esposa num restaurante afastado que tem uma cachoeira no quintal. Bizarro. Inclusive tomamos banho na cachoeira enquanto esperávamos a comida. Para ressaca parece a melhor opção”.

4- Ivana Arruda Leite — Thai Paraty

R. do Comércio, 308A, Centro Histórico, Paraty

“Fui a cinco edições da FLIP, a última vez foi em 2009. Recomendo o Thai Paraty, um restaurante tailandês delicioso”.

5- Lila Azam e Noemi Jaffe — Banana da Terra

Rua Dr. Samuel Costa, 198 — Centro

“Os lugares que eu visitei são conhecidos de todos: o Banana da Terra, próximo à esquina da praça”, diz Noemi. A escritora franco-iraniana Lila Azam compartilha a preferência: “O que mais gostei em Paraty foi a moqueca vegetariana do Banana da Terra”.

6- Luisa Geisler — Restaurante e Pizzaria Punto Divino

Rua Marechal Deodoro, 129, quase do lado da praça do Centro Histórico

“Não sei se é porque tive momentos muito bons lá, encontrei pessoas queridas, mas tenho boas memórias. É um lugar legal para comer antes de ir pra um barzinho ou ir ver uma mesa. É importante lembrar que as pizzas são porções individuais ou pra duas pessoas, mas são deliciosas”.

7- Marcelo Moutinho — Creperie Le Castellet

Rua Dona Geralda, 44

“É parada obrigatória toda vez que vou a Paraty. Feitos com trigo sarraceno e preparados na hora pelo chef Yves Lepide, os crepes são os melhores que já comi. É um lugar simples, sem luxos desnecessários, um pequeno bistrô em estilo provençal. Recomendo, sobretudo, o crepe de filé com mostarda dijon, que acompanha tartelete de batata e tomate. Simplesmente espetacular. O patê campagne também é ótima pedida. Só não vale ir com pressa, já que tudo lá é feito com capricho, mas muita calma.

Outro ponto bacana na Flip é o bar Coupê. Menos pela comida e mais pela localização estratégica: a Praça da Matriz. Vale parar para tomar uma(s) cerveja(s) e papear com os amigos, observando o vai e vem do público. Além disso, o Coupê acaba servindo de ponto de encontro entre os escritores, já que todos em algum momento passam pela praça que é o coração da cidade. O problema do Coupé é que, à medida que a Flip vai ficando lotada, principalmente na sexta e no sábado, torna-se difícil conseguir mesa”.

8 -Paulo Lins — Armazém da Cachaça

Rua Maria Jácome de Mello, 279

“Indico o Armazém da Cachaça, um lugar bom pra comprar cachaça e pimenta”.

9- Vanessa Barbara — Sorveteria Miracolo

Praça da Matriz

“Eu gosto da Sorveteria Miracolo, na praça principal, que tem um bom sorvete de chocolate. Todo início de Flip eu vou pra lá e compro uns seis ou sete tíquetes pra não ter que pegar a fila… O ruim é que é caro, e além disso tem uma bizarrice que eu nunca vou entender: uma bola é 7 reais, duas bolas é 15. Mas, sei lá, virou tradição. Eu não bebo, então fico ali nos bancos da pracinha me sujando de sorvete e vendo a vida passar. Outro ponto negativo é que você encontra a sua agente literária e só muito tempo depois percebe que estava com o braço imundo de chocolate”.

“Bebidas de deixar qualquer Hemingway ou Bukowski satisfeitíssimos, petiscos sensacionais… Os donos, o poeta Gil Jorge e a mulher Jacira Diniz, fizeram história com bares clássicos de SP como Jungle, Van Helsing etc.”

10- Xico Sá — Quiosque Biruta Grill

Praia do Jabaquara

“Bebidas de deixar qualquer Hemingway ou Bukowski satisfeitíssimos, petiscos sensacionais… Os donos, o poeta Gil Jorge e a mulher Jacira Diniz, fizeram história com bares clássicos de SP como Jungle, Van Helsing etc.”

11 - José Luiz Passos — Praia do Jabaquara e Praça da Matriz

“Pretendo voltar ao primeiro lugar onde pus os pés quando fui à Flip pela primeira vez: a Praia do Jabaquara, a uns 20 minutos de caminhada do Centro Histórico. Foi onde me hospedei em 2011. É uma praia de água bem tranquila, com vista para as ilhas. Tem um ponta relativamente longa, de areia grossa, bonita, boa de andar. Tem barracas onde se pode comprar cerveja ou açaí. E dá para estar na Flip sem estar na Flip, se é que você me entende. Às vezes, um descanso de toda aquela intensidade é bom para ler e pensar.

Outro lugar de que gosto é aquela pracinha ao lado da igreja matriz, na frente de um sorveteria. Muitos dos eventos da Flipinha acontecem por ali. Dá para ver a criançada brincando, correndo, lendo livros no chão. Passam os sorveteiros e o algodão-doce. Às vezes, um palhaço ou uma pessoa mascarada. Gosto de me sentar num dos bancos daquela praça e ficar olhando as crianças. Claro, fico com saudades das minhas, que ainda não puderam conhecer Paraty.”

As ilustrações são de Lucas Busto. Confira mais do trabalho dele na página: www.facebook.com/LustoLusto

Originally published at http://novo.roteirosliterarios.com.br on July 30, 2014.

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