São Petersburgo não dorme na primavera
As inspirações de Fiodor Dostoiévski para os cenários do livro “Noites Brancas”, escrito em 1848.
Por Ana Paula Campos
“Um céu tão luminoso, que ao olhá-lo seríamos obrigados a nos perguntar infalivelmente: como pode viver sob um céu assim toda sorte de gente irritadiça e caprichosa?”, questiona o protagonista sem nome sobre a noite branca de São Petersburgo, na Rússia, para, em seguida, se entregar. “Esse também é um questionamento de quem é jovem, caro leitor (…) Desde bem cedo começou a me afligir uma tristeza singular. Pareceu-me de repente que eu, um solitário, estava sendo abandonado”.
Sob esse manto de melancolia, o não tão jovem narrador conta sua história de desamor que se desenrola na antiga capital russa. Dada à proximidade do país com o polo norte, em junho principalmente o azul escuro do céu perde a vez, e a noite se torna um prolongado pôr do sol. O fenômeno é conhecido como o sol da meia-noite ou noites brancas.
É esse tempo e espaço que Fiodor Dostoiévski faz de cenário para Noites Brancas, obra escrita em 1848 em que flerta com o romantismo ao mesmo tempo em que brinca com seus exageros.
Após três dias de angústia, o personagem resolve sair a esmo pela cidade. “Andei muito e por muito tempo, tanto que, como é meu costume, consegui esquecer completamente onde estava.”
Veja três pontos de São Petersburgo (pouco mais de 600km da capital Moscou) por onde ele passou:
MARGENS DO RIO NEVA
A via marginal do Rio Neva é composta pelos cais Inglês, do Almirante, do Palácio, de Kutuzov e de Robespierre. Foi nela que o protagonista viu a sonhadora Nástienka pela primeira vez — apoiada na grade, de chapéu amarelo, olhando fixamente para a água e chorando.
AVENIDA NEVSKY
É a principal avenida da cidade. Em seus 4,5 km aproximados de extensão estão cafés, restaurantes, lojas e museus. Ali também está a Catedral de Nossa Senhora de Cazã. A avenida também empresta o nome ao romance de Nikolai Gogol.
FONTANKA
É um dos mais conhecidos canais da Europa e corta o centro de São Petersburgo. Fontanka fazia parte da rota diária do protagonista, que era capaz de reconhecer os passantes e se sentia íntimo das construções.
Para ler
- Noites Brancas, Fiódor Dostoiévsky (Editora 34)
Originally published at roteirosliterarios.com.br on May 20, 2014.