Vinicius de Moraes: um roteiro boêmio pelo Rio de Janeiro

Um passeio pelo quadrilátero do poetinha em Ipanema.

Roteiros Literarios
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5 min readMay 12, 2020

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por Maria Fernanda Moraes

Fachada do número 107, na rua Nascimento Silva

É o cúmulo de todos os clichês da face da terra, eu sei! Mas não tenho como negar. É só chegar no Rio de Janeiro que a minha playlist imaginária já dispara os versos de Samba do avião automaticamente.

“Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar
Praia sem fim
Rio, você foi feito pra mim”.

Da última vez, essa playlist aí ganhou uma contribuição de peso. Fui conhecer o famoso endereço em Ipanema, na Rua Nascimento Silva, 107. E novos versos grudaram imediatamente na cabeça. O endereço que ficou famoso pela música Carta ao Tom é o prédio onde Tom Jobim morou entre os anos de 1954 e 1960 e era ponto de encontro de Vinicius de Moraes, Tom, João Gilberto e boa parte dos artistas que gravavam com o maestro. Hoje em dia, na fachada, existe uma placa (foto acima) para sanar a curiosidade dos visitantes e confirmar que a história realmente existiu.

Vinicius contava que foi lá que eles ensinaram Elizeth Cardoso a cantar as canções do histórico álbum ‘Canção do Amor Demais’. Daí a letra:

“Rua Nascimento Silva, 107
Você ensinando pra Elizeth
As canções de ‘Canção do Amor Demais’”.

Reza a lenda que ali também nasceram boa parte das músicas da peça Orfeu da Conceição e o álbum Chega de Saudade, de João Gilberto que foi produzido por Tom. Não é possível entrar no prédio, visto que ainda é um lugar residencial, mas para os fãs mais afoitos, uma foto da placa já alegra o coração. Na época, Vinicius também morava em Ipanema, em uma casa em estilo normando na Avenida Henrique Dumont, 15.

Esse quadrilátero do bairro já rende um tour bem interessante para os fãs do poetinha. Andando meio quarteirão da antiga casa de Tom, a placa já declara: você está na Rua Vinicius de Moraes.

A rua foi rebatizada em 1980 (foto: Maria Fernanda Moraes)

Mas, claro, nem sempre foi assim. Até 1980, a rua se chamava Montenegro. Como forma de homenagem a Vinicius que passou muitos momentos ali e, também, pela peregrinação que ele provocou ao bairro, ocorreu essa mudança.

A rua é também exatamente o caminho que a Garota de Ipanema percorria em direção ao mar, segundo a canção. O ponto de ‘contemplação’, digamos assim, dos autores da canção, Vinicius e Tom, era o antigo Bar Veloso (rua Vinícius de Moraes, 49 — Ipanema. De segunda a domingo, de 12h às 2h), que atualmente também foi rebatizado: é o Bar Garota de Ipanema.

Amigos no antigo Bar Veloso (Foto: Jobim.org) e o bar nos dias de hoje

Ele fica exatamente no cruzamento da Rua Vinicius de Moraes com a Prudente de Morais, a uma quadra da praia. Apesar de algumas controvérsias, o bar leva a fama de ter sido o lugar onde a canção foi composta. É desses bares típicos do Rio: chope gelado, porções e pratos fartos.

TOCA DO VINICIUS

Seguindo ainda pela rua Vinicius de Moraes, no número 129, surge um pequeno paraíso para os fãs. É quase um pequeno santuário, podemos dizer.

A Toca do Vinicius (rua Vinicius de Moraes 129-C, Ipanema) foi criada em 1993 e é uma mistura de livraria, loja de discos, museu e um instituto de Bossa Nova, com aulas e palestras. Vende desde livros e discos antigos, a peças relacionadas ao poeta. Vale também o bate papo com o dono, Carlos Alberto Afonso.

ANTONIO’S

No bairro vizinho, o Leblon, também ficava um ponto de encontro famoso entre a dupla, o bar Antonio’s (Avenida Bartolomeu Mitre, 297-C, Leblon). O lugar tinha passado por uma revitalização e foi reaberto em 2013 com o nome de Tom do Leblon, mas fechou logo depois.

BECO DAS GARRAFAS

Também no Leblon, na Rua Duvivier, fica o Beco das Garrafas, uma travessa sem saída entre os edifícios de números 21 e 37, que abrigava um conjunto de casas noturnas nas décadas de 50 e 60. Foi ali que Vinicius iniciou os primeiros acordes da parceria com Baden Powell.

Contam que o local foi batizado assim pelo pianista Sergio Mendes, porque os vizinhos costumavam lançar garrafadas quando o barulho dos bares começava a incomodar. Hoje em dia restam poucos bares por ali, como o Bottle’s Bar e o Little Club, que continuam promovendo shows.

CASA VILLARINO

O famoso painel do Villarino (foto: Guia Cultural do Rio)

Apesar de Ipanema ter levado a fama do ponto de encontro, foi no centro da cidade que Vinicius e Tom se conheceram. Mais precisamente na Casa Villarino que é uma mistura de bar e delicatessen, onde se pode encontrar bebidas e comestíveis finos, nacionais e importados.

Foi no verão de 1956, como informa orgulhoso o próprio site da casa, que a magia aconteceu. Foi o crítico e historiador Lúcio Rangel quem apresentou os dois. Ele buscava alguém para musicar a peça ‘Orfeu da Conceição’, de Vinicius.

Em uma das paredes do bar, foi instalado um painel fotográfico, em tamanho natural, para homenagear seus ilustres frequentadores boêmios intelectuais. Segundo os garçons, o White Horse era o uísque preferido do Poetinha. No menu, também há pratos tradicionais como o bacalhau à Gomes de Sá.

Serviço: Avenida Calógeras, 6, Centro. De segunda a sexta, das 12h às 22h.

VINICIUS DA GÁVEA

Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasceu em 19 de outubro de 1913 em uma casa da Rua Lopes Quintas, no atual bairro do Jardim Botânico, na época considerado parte da Gávea.

Morreu em 9 de julho de 1980 também em uma casa, no mesmo bairro da Gávea. A casa onde o poeta nasceu não existe mais — deu lugar a um edifício —, mas a última residência ainda está de pé, na rua Frederico Eyer, 149.

PARA LER

· Antologia Poética, Vinicius de Moraes, Companhia das Letras

· Pois sou um bom Cozinheiro -Receitas, histórias e sabores da vida de Vinicius de Moraes, Companhia das Letras

* Com informações do livro “Pois sou um bom cozinheiro” e da Agência Brasil.

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