3. O Papel do Leitor/Anfitrião

Semana de 22 a 28 de Junho do Workshop de Autores #RPGenesis 2015

Numa das muitas hipóteses que na semana passada imaginei para um caderno de encargos, sugeri:

Para oferecer de prenda a um amigo.

Este possível requisito levanta a questão de como vocês vêm a pessoa que vai ler o vosso jogo e eventualmente organizar uma sessão para o experimentar. A própria figura do leitor está em causa, na medida em que vocês podem até construir um texto que sirva para ser lido durante a sessão quase não havendo uma leitura prévia. Podem até haver múltiplos leitores e anfitriões.

Estas pessoas são essenciais para qualquer jogo não-computadorizado. Qualquer RPG, jogo de tabuleiro, miniaturas, cartas, etc. precisa de alguém que siga as instruções nele indicadas e junte os amigos para jogar. Sem estes leitores e anfitriões, os nossos jogos ficam só a acumular pó na prateleira. São eles que lhe dão vida.

Por isso, cada RPG á sua maneira deverá respeitar e acarinhar estas pessoas que o tornam realidade no convívio da sua mesa de jogo. E, para isso, cada autor precisa de:

• saber a quem o seu texto se vai dirigir,
• ser claro sobre o que precisa dessa pessoa,
• explicar que função ela poderá desempenhar no seu jogo e
• providenciar recursos para tornar essa tarefa o mais fácil possível.

Dentro dos RPGs, há também várias questões mais específicas, por exemplo:

• Quando a sessão começar, o leitor/anfitrião vai ser árbitro ou jogador?
• Ao longo do jogo, que tipo de decisões ou perguntas só poderão ser respondidas por uma pessoa?
• De que pressupostos o texto poderá partir sobre o seu leitor (pelo menos numa versão inicial para playtest)?
• O anfitrião é convidado a se tornar co-autor do jogo ou necessariamente tem de o ser?
• Quantas pessoas precisam de saber as regras para o jogo funcionar? E conhecer o seu universo? E ter uma ideia da sua estrutura narrativa?
• Quanto tempo é preciso para aprender o jogo e se preparar uma sessão? Que materiais são necessários?
• Que expressões os leitores irão provavelmente citar do texto para explicarem o jogo e/ou para o jogarem? Quais são as partículas nucleares do jogo?

Mais uma vez, o tópico desta semana pode levar-nos a reconsiderar o que escrevemos nas semanas anteriores. Quem imaginam que é o vosso leitor? Faz parte de algum público-alvo? O que é que o poderá inspirar a jogar? De que forma entenderá o assunto proposto pelo vosso RPG?

Também novamente é mais importante terem em conta estas questões do que já terem de saber a resposta a todas elas. À partida, vocês são o vosso primeiro leitor e anfitrião, o fã número um do vosso jogo. Assumam que mais ninguém no mundo alguma vez poderá saber mais do que vocês sobre o vosso RPG. Amem cada palavra de cada linha que escreverem, pois são vocês que têm de se importar com as vossas criações antes de qualquer outra pessoa. Este amor, esta paixão pelos RPGs, ficará expressa no vosso texto e assim poderá chegar a alguém que também se importa.

Pensem no vosso jogo, mas pensem também em quem o vai ler e jogar.

Boa sorte!