Uma história de terror que enganou a Inglaterra
Cíntia Angélica, João Pedro Ferreira, Maria Luiza Lopes
O Ghostwatch tinha uma proposta de ultrapassar os limites da televisão, mas não previa como conseqüências.
Em 1992, a BBC exibiu, na noite de Halloween, “Ghostwatch”, um programa de terror que marcou a história do país, pois todos acreditavam que a verdade era. Foram mais de 30 mil Ligue para o telefone da BBC e diversos problemas para emissão, um ponto desse tipo que nunca existiu.
O programa foi criado por Stephen Volk, que, primeiramente, apresentou uma série de drama de seis episódios com temática de investigação paranormal. O último episódio dessa temporada seria uma simulação de um programa ao vivo em que as coisas sairiam do controle, para causar o pavor e sensação de real. A BBC aprovou um especial de 1 hora e meia e Volk escolheu fazer esse formato de simulação do ao vivo.
A emissora sabia que era perigoso fazer esse formato de programa e que deveriam tomar algumas medidas para que os espectadores soubessem que se tratava de uma história de ficção. Para isso, antes de iniciar o programa era apresentado uma mensagem que avisava que o episódio que assistiriam a seguir se tratava de uma ficção. Além disso, o programa era apresentado pela bandeira BBC ONE, que produz dramas, logo, não seria um programa jornalístico. O número dado durante o programa para que os espectadores supostamente interagissem com o apresentador deveria reproduzir uma mensagem dizendo que o programa se tratava de uma narrativa gravada. Porém, devido ao grande número de ligações, a linha ficou sobrecarregada e a mensagem não era mais reproduzida.
Agora falando um pouco da história, em “Ghostwatch” os apresentadores de TV Sarah Green e seu marido Mike Smith passariam a noite numa casa mal assombrada, enquanto Michael Parkinson ficava no estúdio junto com uma especialista em casos sobrenaturais, recebendo as ligações do público e conduzindo o programa. Lembrando que tudo foi previamente gravado.
A escolha do casting também foi fundamental para que trouxesse aspecto de veracidade para o programa, uma vez que Parkinson era um famoso apresentador de talk shows, Sarah apresentava programas infantis e Mike era apresentador de rádio e TV.
A casa era de uma família composta por sua mãe e suas duas filhas, que eram assombradas por um fantasma que elas apelidaram de Pipes (canos em inglês), uma vez que ele fazia barulho nas tubulações.
As coisas começaram a ficar estranhas quando o estúdio recebe uma ligação dizendo que tinha visto um vulto na cena do quarto das meninas. Porém quando se repete a cena não há vulto nenhum. As ligações vão aumentando à medida que o programa vai acontecendo.
Em determinado momento do programa se descobre que tudo é uma farsa. Uma das filhas estava batendo nas paredes para fazer o barulho dos canos e tudo parece solucionado. Porém as coisas começam a se complicar. Os barulhos voltam mesmo as duas meninas estando em frente às câmeras, os equipamentos começam a falhar e dar interferência, a “transmissão” cai. No estúdio as ligações aumentam, dizendo que seus animais estão latindo descontroladamente, que estavam sentindo perturbações em suas casas.
A especialista então chega à conclusão que o fantasma estava assombrando as casas dos espectadores através do programa e as coisas ficam mais estranhas. A Sarah Green é capturada pelo fantasma para dentro do porão, eles perdem a conexão, o estúdio é assombrado pelo fantasma, todo mundo no estúdio foge e o programa termina com o próprio Michael Parkinson sendo possuído pelo espírito.
Todos os espectadores foram tomados pelo pânico e as consequências foram das mais variadas. Estudos mostraram que duas crianças tiveram estresse pós traumático e também um caso mais triste em que um garoto de 18 anos com transtorno de aprendizado suicidou. Foi emitido um pedido de desculpas pela emissora e tentaram esquecer o programa durante uma década.
“Ghostwatch” se enquadra no gênero de mockumentary (ou mocumentário), que é um gênero híbrido entre o documentário e a ficção, ou seja, consiste em uma história de ficção que utiliza do formato de programas documentais e jornalísticos. A maioria dos programas desse gênero é de comédia, mas também pode ser de drama ou terror, como o programa analisado.
Apesar de controvérsias, muitos acreditam que a origem do mockumentary se deu na década de 30 com a famosa transmissão de rádio feita por Orson Welles, baseada no livro Guerra dos Mundos, que simulava um noticiário e, assim como “Ghostwatch”, fez com que o público acreditasse ser real.
Apesar das repercussões negativas da época, “Ghostwatch” foi exibido sobre como fazer terror, uma vez que mostra quem é quem sente medo e acredita que algo é real. Sete anos depois, nos cinemas A Bruxa de Blair , que utiliza o mesmo conceito de história de terror, mas fazendo com que todos acreditassem que era real.
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