CRÍTICA

Por um futuro com amor, liberdade e resistência

Texto a partir do espetáculo ‘Assembleia comum’, da Trupe Luiz Estrela (BH), apresentado no FIT-BH de 2018.

Mateus Araújo
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Espetáculo ‘Assembleia comum’. Foto: Alexandre Guzanshe/Divulgação

um cartaz de divulgação de Tatuagem (2013) que diz: “No futuro, o amor e a liberdade serão como num filme”. Eu adorava vê-lo colado pelos muros do Recife, porque me parecia sempre uma lembrança onipresente, um estímulo, um empurrão. Para qualquer tristeza, valia olhar o cartaz.

Acontece que a gente só não sabe quando esse futuro vai chegar, mas insiste. Persiste, resiste.

Lembrei de Tatuagem no último domingo (16), enquanto assistia ao espetáculo Assembleia comum, da mineira Trupe Luiz Estrela, dentro do FIT-BH. A peça foi apresentada na Ocupação Dandara, na região da Pampulha, que surgiu há 10 anos e onde vivem hoje 1800 famílias. A princípio, a lembrança do filme me veio pela imagem da trupe em desfile pelas ruas sem calçamento, cercadas de casas com tijolos aparentes, com os artistas seguidos de crianças que estavam ali desde cedo à espera do teatro. Era uma cena semelhante àquela do filme de Hilton Lacerda, de quando os atores de Chão de Estrelas saíam pelas ladeiras de Olinda fantasiados a convidar o público para assistí-los.

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Grupo Chão de Estrela, em cena do filme ‘Tatuagem’.

Tanto em Tatuagem quanto em Dandara, o teatro é um simulacro da vida real, projeção do sonho de um futuro livre. Se no filme, o grupo Chão de Estrelas concentrava naquele espaço marginal, em pleno Brasil da ditadura militar, as utopias do amor idealizadas na relação entre um ator e um soldado, em Assembleia comum é a realidade distópica desse Brasil de agora que norteia a alegoria do desejo de um mundo igualitário.

No caso mineiro, a ficção nasce da experiência vivida. A Trupe Luiz Estrela foi criada dentro de uma ocupação social no centro de Belo Horizonte. Leva esse nome em homenagem ao artista mineiro cuja obra alinhava discussões sobre loucura, arte e direito à moradia. Na peça, à valia do teatro de oprimido, o grupo discorre sobre a força do capitalismo e do fascismo contra a revolução social. Os personagens se apresentam diante do público, como em uma audiência, em defendem o que pensam e sua presença na sociedade: entram de um lado do jogo o Afeto, o Amor, a Revolução e a Natureza; e do outro, a Morte, a Miséria, a Alienação, o Ódio e o Patenteador.

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Crítica publicada originalmente no site da revista Continente, em 19 de setembro de 2018.

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Mateus Araújo
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Jornalista. Repórter do TAB UOL. Mestre em Artes pela Unesp e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro