Aquela Velha Planilha com os VCs brasileiros…
A História do Dealbook.co
O ano era 2008. Eu era apenas mais um nerd, curioso sobre os caminhos que a então chamada Web 2.0 estava seguindo.
Na época, eu estava lendo e consumindo muito conteúdo sobre startups, venture capital e tendências do mercado digital brasileiro. Estava me preparando para lançar a versão brasileira do ReadWrite (RIP).
E como eu estava buscando aprender e entender o mercado de venture capital, fusões e aquisições, acabei sentindo a necessidade de catalogar e organizar as informações do mercado Brasileiro para aprendizados pessoais e também para consulta futura.
Então, tudo começou.
O nascimento da planilha
Naquela época as informações não eram muito divulgadas e poucas pessoas acompanhavam este mercado. Então eu comecei uma planilha, que chamei carinhosamente de “Brazil Startup Dealbook”, nome inspirado pela coluna Dealbook, do New York Times.
Na primeira versão, o Dealbook era apenas para referência pessoal. Eu seguia as principais notícias sobre startups e tentava catalogar por lá, mas só eu tinha acesso aos dados.
Àquela época a planilha tinha apenas 6 colunas:
- Data da transação;
- Nome da empresa;
- Tipo da transação: Investimento, fusão, aquisição?;
- Valor/quantia;
- Nome do fundo/comprador;
- Link para a fonte da informação.
Ela também tinha uma aba para cada ano, começando em 2007. Era simples, mas funcionava bem.
Porém, no ano seguinte aconteceu algo que esquentou MUITO o mercado de investimentos, startups e empreendedorismo digital no Brasil.
Enter Buscapé:
Em setembro de 2009 o grupo Naspers (um conglomerado de mídia da África do Sul) anunciou a aquisição do Buscapé, por US$342 milhões. De repente, startups e investimentos de venture capital se tornaram algo cool no Brasil.
O mercado que antes estava praticamente morto, começou a se mover. Investidores como a Monashees, Tiger Global, Naspers e outros, começaram a acelerar o passo dos investimentos no país. Rapidamente o Brasil começou a ter notícias frequentes de investimentos, fusões e ainda que tímidas, aquisições, no setor de Internet.
Em pouco tempo eu já não conseguia mais acompanhar todos os deals. Aí, em 2011, comecei a pensar sobre os potenciais benefícios do Crowdsourcing para o Dealbook. Subi a planilha no Google Drive e comecei devagar, compartilhando “my precious” com alguns empreendedores mais próximos.
O formato do Google Drive era legal, pois ele permitia que outras pessoas incluíssem novos deals e, aos poucos, a base de dados foi crescendo. Para incluir um negócio, as únicas coisas que você precisava fazer era incluir um link para a notícia e a data da transação.
Como eu convivia com muitos outros empreendedores e estava sempre conversando sobre o mercado, várias vezes por semana eu me via enviando a planilha para algum investidor ou alguém em busca de investimentos. Lá pela 10a vez que compartilhei a minha criação, me peguei pensando em porque não torná-la um material público, aberto e livre para toda a comunidade.
Going Public
Em 2011 publiquei a planilha para o mundo (veja o post no Startupi) e aí ela realmente ganhou tração muito rápido. Na data da publicação, por exemplo, a planilha tinha apenas 85 transações. Mas 42 delas tinham sido apenas naquele ano, até o mês de Novembro.
A primeira grande ajuda veio de um parceiro de curadoria/moderação. O Luciano Tavares, fundador da Magnetis, estava fazendo alguns investimentos anjo (Disclosure: Ele é investidor-anjo na Rock Content) e curtiu bastante a ideia da planilha, começando então a contribuir com frequência.
Rapidamente estávamos nos tornando a base de dados oficial de VC no Brasil e até atualizamos ainda mais a planilha incluindo investimentos de anos anteriores, tentando traçar com mais detalhes a história do Venture Capital no país. Sim, escavamos todos os deals de venture capital públicos BR que conseguimos encontrar. Legal, não?
E o Caos Reina…
Com o crescimento no volume de deals, e mais pessoas com acesso à planilha, rapidamente ela ganhou vida própria. A cada dia, mais colaboradores adicionavam novas transações. Alguns chegavam a criar novas abas como listas de VCs, anjos, aceleradoras e muito mais.
Tivemos algumas vandalizações pontuais, mas o Google Drive tornava fácil reverter e banir os culpados. Aos poucos, a comunidade aprendeu a se policiar e só tivemos que reverter os dados para versões anteriores algumas poucas vezes.
Em pouco tempo estávamos batendo o limite máximo de colaboradores do Google Drive e o Lu veio com uma ideia. Ele me mandou uma mensagem no chat mais ou menos assim:
“Diego, estou aprendendo Rails num bootcamp e tenho que fazer um projeto final. Sabe o que vou (vamos, implícito) codar? DEALBOOK!”
Cara, aquilo foi massa. Eu não sou um bom programador, mas topei na hora. Em pouco tempo a coisa estava saindo do papel. Nossa ideia era soltar uma versão simples do app, abrir o código no Github e deixar rolar.
O Lu fez a maior parte do trabalho de coding e eu fiz aquele design maravilhoso usando Twitter Bootstrap 1.0 e uma simples integração com o LinkedIn.
Dealbook.co
Em dezembro de 2012 o Lu comprou o domínio e colocamos o app no ar. O código está aberto no Github desde então (veja meu último commit aqui). Já em 2014 ele ganhou um protótipo de uma API básica.
Mas o tempo passou e com a correria do dia a dia de empreendedores, acabamos deixando o projeto de lado por um tempo. A surpresa foi que o Dealbook já tinha criado vida própria.
Apesar de ser um produto simples, vários usuários submeteram patches, conteúdo e sugestões de melhoria. Hoje o Dealbook.co conta com uma curadoria bem rica, feita por mais de 900 colaboradores voluntários. Por isso, apesar de o app ser extremamente simples e básico em muitos aspectos, seus dados chegam a ser mais completos do que os do famoso Crunchbase.
Você ouviu certo: 9 anos depois, continuamos na área e com muito conteúdo legal, em muitos aspectos melhor que o Crunchbase.
Um belo causo… mas chegou a hora de um revamp?
No último ano, intensificamos bastante o trabalho de curadoria, e enriquecemos muito os dados do Dealbook. Apesar disso, um produto de software desta idade, também nos traz alguns desafios.
Nosso objetivo com o Dealbook continua sendo buscar, entender e documentar o mercado Brasileiro com uma plataforma aberta e gratuita de dados confiáveis. Atualmente, estamos pensando sobre como podemos melhorar e evoluir o projeto.
E é aqui que você, que gastou seu tempo lendo essa longa história, entra no jogo com a gente.
Como eu posso ajudar?
Existem 3 formas.
A primeira é muito fácil e só toma alguns minutos.
- Se você tem uma startup ou um fundo de investimento, cadastre-se no Dealbook.co, verifique seu perfil e os deals associados a ele. Fique à vontade para atualizar possíveis erros e/ou informações que possam ser enriquecidas.
Além disso, se você quiser participar de uma forma mais séria, basta responder a essas perguntas nos comentários do post:
- O que você acha do Dealbook?
- Ele é útil?
- Ele ainda é relevante?
- Como ele poderia melhorar?
- Você tem interesse em contribuir com o projeto de alguma forma?
Quer fazer ainda mais pelo Dealbook? Você pode mandar patches de funcionalidades no Github! Estamos aceitando contribuições, ok?
O aprendizado do Dealbook
Bom, depois dessa longa história, aqui vão algumas das coisas legais que aprendemos com este projeto.
A maior lição é que, em pouco tempo, uma simples planilha com dados do mercado brasileiro conseguiu cobrir um amplo território ainda não explorado: o mercado de startups, VC’s e investidores no Brasil.
Hoje, quase 10 anos depois, o Dealbook pode ser considerado a base de dados mais confiável (por ser moderada) dos investimentos, fusões e aquisições no Brasil, desde os anos 2000. Ele foi usado, por exemplo, para a criação do Brazil Startup Report, que hoje já conta com quase 100 mil visualizações.
Sim, o Dealbook é um MVP (e põe MVP nisso!) mas pouco tempo depois da sua publicação, o trabalho dos poucos colaboradores iniciais foi amplificado e a comunidade tomou o controle. Hoje o app cataloga mais de 10x mais negócios do que quando foi criado, em 2008, o que é super bacana para uma iniciativa voluntária e sem fins lucrativos.
E pra finalizar, se você já usou ou se lembra do Dealbook.co, dá um alô aí nos comentários e me conte como foi a sua experiência. Eu adoro saber como podemos melhorar. :)
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