A novidade das Teologias Latino-americanas

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
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3 min readOct 21, 2020

Uma teologia libertadora é, na América Latina, no estilo paulofreiriano, não somente ensina a fé conforme ela já foi pensada, mas em como a pensar a partir de nossas próprias condições de vida, acadêmicas e socioculturais. Isso afeta a própria compreensão de Teologia e da Educação Teológica na América Latina.

Não há como nos libertar da dependência dos antigos manuais e das teologias importadas se não aprendermos a fazer teologia a partir de nossa realidade. Mesmo para o diálogo e melhor compreensão de tais teologias estrangeiras é necessário desenvolver pontos de partida, a partir de nossas próprias produções teológicas, de modo a não sermos meros repetidores delas. Mas devemos sempre lembrar que uma teologia contextualizada é algo novo, colocá-la em odres velhos das antigas tradições por vezes faz com que não suportem tamanha novidade e a força vital que ela traz em si. Em suma, a confusão pode ser grande.

A questão do como fazer teologia foi o que desde cedo me chamou a atenção, pois, para mim, era ali que estava a novidade. Entre meus alunos a TdL se tornou “paixão nacional”, não exatamente devido à militância que ela faz, mas devido à clareza no modo de se fazer. Para eles, ela era mais que a nuvem, mas a chuva que caia e podia ser recolhida nas mãos. No trato teológico, usando como metáfora a teologia do Reino, a TdL era o “já” e a TMI o “ainda não”, sempre uma esperança, uma utopia, “coisa linda de se ver”, mas não de “tocar”.

Ao estudar a história do movimento descobri que o percurso para a construção da TMI passava por ele, o que fazia dela uma teologia contextual. Gibellini, Libânio, Gutiérrez foram de grande ajuda nessa parte, com Samuel Escobar, as pesquisas de Luís Longuini e todos aqueles que recuperam a história da TMI. A conclusão é que o contexto (em sentido abrangente) latino-americano gestou e pariu uma forma de teologia cristã, que é a Teologia Latino-americana. Um dos fatores de unificação das teologias que a formam é que nasceram da mesma situação sócio-histórica e cultural.

Nascer, no entanto, não significa vir do nada, pois todo nascido possui uma genética. De modo geral, a TLA traz (em si) elementos de hereditariedade de teologias europeias e norte-americanas, tanto católicas quanto protestantes, podemos listar as teologias de Rahner, Metz, Barth, Bonhoeffer, Tillich, Niebuhr (Nibur) e tantas outras. Há, entretanto, uma novidade na TLA, que é mais do que em nível de conteúdo, é epistemológico, no sentido de ser um percurso novo de cosntrução de conhecimentos. Ela faz parte das epistemologias do Sul Global e das propostas decoloniais.

Por mais que muitas teologias também possam ser chamadas de contextuais, no sentido de que nasceram de uma situação específica, as teologias contextuais assumem esse lugar de nascimento, esse amplo espaço, como situação a partir de onde se fazem e para a qual querem responder, embora não de modo exclusivo. Elas abrem mão da pretensa universalidade como saber da fé e passam a se apresentar como “teologias”.

Regina Fernandes

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