A tentação de Jesus

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
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3 min readJan 14, 2021

Sidney Sanches

Ao lermos nas Escrituras que Jesus foi tentado, nós, nos lembramos, imediatamente, das três tentações de Satanás contadas pelos evangelhos: transformar as pedras em pão para saciar a fome, atirar-se do pináculo do templo para ficar famoso, adorar a Satanás para ter os reinos do mundo.

Isso não está incorreto, mas está mais que claro que as Escrituras avançam muito mais no entendimento sobre as tentações que Jesus sofreu. E duas declarações na epístola aos Hebreus têm muito a nos dizer sobre isso:

Por isso, ele teve de assemelhar-se em todas as coisas aos irmãos, para se tornar um misericordioso sumo sacerdote e fiel em relação a Deus, para expiar os pecados do povo. Pois, pelo fato de ele próprio ter sofrido e ter sido posto à prova, pode socorrer àqueles que [por sua vez] são postos à prova. (Hb. 2.17,18. Tradução de Frederico Lourenço)

O verbo “tentar” diz mais coisas do que a tentação ao pecado. Também fala sobre ser testado ou examinado, ser posto à prova, algo como: vamos ver o quanto humano você é? E ao desafio dessa humanidade: uma desgraça que resulta em grande sofrimento e a capacidade humana de suportá-lo sem perder a humanidade. Se observarmos mais de perto a declaração ousada do autor anônimo de Hebreus descobrimos que sua ênfase não está na tentação, nem no teste. Mas, sim, na desgraça e no seu padecimento: foi posto à prova pela desgraça que sofreu.

Mas, que tipo de desgraça ele sofreu? De novo, respondemos irrefletidamente: a morte na cruz. Mas, não é bem assim. A resposta está bem mais próxima de nós, nas coisas ruins que temos de aturar enquanto vivemos nossas vidas nesse mundo. Sim, a cruz foi a maior de todas elas, mas não somente ela, porque toda vida humana vivida por Jesus Cristo foi feita de opções pela desgraça humana que conduziram inapelavelmente para a desgraça humana maior: a rejeição e a morte na cruz.

Quase como um complemento, queremos saber por que Jesus Cristo aguentou a desgraça humana até a morte na cruz. E, a resposta, mais uma vez, é tão rápida em nossa mente como um relâmpago: “pelos pecadores”, “pelos pecados”, “para salvar os pecadores dos seus pecados”. A soteriologia definiu esse entendimento. Ela explica que havia um plano de Deus em andamento para salvar os seres humanos dos seus pecados, no qual a morte de Jesus Cristo seria o preço pago por eles, de modo que eles pudessem ir para o céu. E esse esclarecimento desvenda alguma ordem metafísica do universo desde as relações de Deus e a humanidade antes da sua criação e após ela.

Mas, estamos falando de um ser humano chamado Jesus Cristo que sofreu a desgraça humana até a morte na cruz. E a finalidade disso foi: “pode socorrer os que são tentados”. O primeiro verbo nos fala que Jesus Cristo “pode”, o que significa que é capaz porque se habilitou para isso. É melhor traduzir: “fez-se capaz”. Mostra quanto ele mesmo se empenhou na tarefa de entendimento da desgraça alheia pelo envolvimento nela.

Continua no livro…

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