A TEOLOGIA E A VIDA

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
3 min readNov 19, 2023

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Gil Nsilu Estefani André

A noção da vida como algo sagrado e dádiva divina, de fato, não tem apenas a sua origem na cultura africana, mas também na Bíblia onde ela é apresentada como um presente de Deus para ser desfrutada, compartilhada e devolvida a Ele — “É um dom de Deus que inclui todas as bênçãos vinculadas à sua presença e à sua ação na história humana.” A relação entre a Teologia e a vida é uma questão missiológica, tanto o Antigo como o Novo Testamento a colocam no âmbito da missão de Deus na perspectiva da esperança pela sua restauração.

A mensagem do Antigo Testamento consiste na proclamação da vinda do Messias como aquele que trará paz no mundo. O Novo Testamento, por sua vez, descreve a realização da mensagem do Antigo Testamento, ou seja, o cumprimento das profecias através da encarnação de Jesus Cristo. Padilla afirma que o “Messias prometido veio na pessoa de Jesus e que com ele se iniciou a era da shalom, a era da paz que é a plenitude da vida, vida em abundância – vida eterna.” De fato, “Quando fazemos teologia em um contexto em que a vida é procurada como o dom sagrado por excelência, as palavras de Jesus em relação à vida não podem passar despercebidas.”

A fala de Jesus em João 10.10b: “Eu vim para trazer a vida, e a trago em abundância”, descreve a perspectiva profética consumada quanto ao Antigo Testamento: escatológica presente/futuro, e missionária: quanto à vinda do Messias. A vida em abundância que Cristo traz é a comunhão do humano com Deus, sua salvação e a vida eterna, mas também a comunhão da criação. De acordo com João, a salvação, ou a vida em abundância que Jesus trouxe, não é parcial, como muitos ensinam, da alma somente na forma de uma escatologia futura, ao contrário, é histórica e integral. A vida, também, é a experiência de uma escatologia presente, em abundância por meio da paz que Jesus oferece. Essa paz abarca toda realidade do ser humano que tem Cristo. Ele não transforma apenas o interior do ser humano, senão também o seu exterior. A paz de Cristo não está reduzida apenas ao coração, mas à toda sua realidade.

É a partir dessa concepção que a Teologia africana se assume como teologia da vida, pois busca aplicar a mensagem de Cristo como libertação, não apenas do pecado espiritual, mas também do pecado estrutural e suas consequências. Sua preocupação é com a luta contra os “processos que excluem pessoas, matando-as espiritual, emocional e socialmente” para a transformação dessa situação. Trata-se de uma teologia que visa relacionar diretamente as Escrituras com a realidade e, no caso africano, esse último aspecto envolve as observações culturais e históricas. Ela busca tratar a cultura como elemento fundamental do contexto do qual a comunitariedade é um dos principais aspectos no modo de vida africano.

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