As mulheres teólogas na Reforma

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
2 min readAug 2, 2021

Sônia Mota

Na tradição reformada, embora o sacerdócio universal dos crentes fosse um tema amplamente difundido, ele não foi aplicado para garantir às mulheres o direito ao ministério ordenado. Se, na Idade Média, o ideal feminino era o de monja, na época da Reforma, o ideal era ser esposa e mãe.

Lutero viu como apropriado para as mulheres o papel de ajudantes e companheiras dos homens, cabendo a elas o tradicional papel de esposa e mãe, permanecendo sujeitas aos maridos. Para ele, não existe nenhuma permissão divina para que elas exerçam papel de liderança. Mesmo as que são rainhas precisam de um conselho masculino para administrarem, pois só ao homem é dado o direito de mandar.

João Knox é ainda mais radical, chegando até mesmo a ser grosseiro ao publicar um tratado intitulado “O primeiro clangor da trombeta contra o monstruoso regimento das mulheres” (1558), no qual anunciou a sua posição contra qualquer tipo de governo de mulheres, o que para ele significava contrariar a natureza da Escritura e usurpação da autoridade masculina. Mesmo reconhecendo que Deus colocou mulheres notáveis em posição de comando, ele afirma que as mulheres “são fracas, débeis, impacientes, vulneráveis e tolas; e a experiência tem demonstrado que elas são inconstantes, volúveis, cruéis e destituídas do espírito de deliberação e organização”. Há quem justifique esta postura devido às experiências que este reformador teve com as rainhas.

Calvino assume uma posição ambivalente. Segundo Jane Douglas, “Calvino é o único teólogo do século XVI que vê o silêncio das mulheres na Igreja como coisa ‘indiferente’, isto é, como matéria determinada pela lei humana e não pela lei divina”. Ele mesmo manteve contato e trocou correspondência com Marguerite de Angoulême. Calvino tratou do assunto sobre o silêncio das mulheres, instituído por Paulo na Igreja, como matéria de ordem política. Examinou criticamente vários textos bíblicos, nos quais reconhece a participação e a importância das mulheres nas Escrituras Sagradas. No seu comentário sobre Gênesis, rompeu com a tradição escolástica ao afirmar que a mulher não foi dada para Adão para ter filhos, mas para ser sua companheira. No entanto, mantém a subserviência da mulher em relação ao homem.

Mesmo analisando os textos referentes à participação das mulheres na Bíblia, e até rompendo com a tradição em alguns escritos, o seu trabalho não trouxe consequências favoráveis ao papel das mulheres na liderança das Igrejas. Embora reconhecesse a existência de profetisas, admitia que seria um escândalo uma mulher ensinar ao seu marido pela pregação. Faltou aos reformadores coerência teológica, pois todas as pessoas, independentemente de raça, gênero ou condição social, estão incluídas no sacerdócio universal dos crentes. Mas, apesar dos posicionamentos das lideranças masculinas da Reforma, as mulheres buscaram ocupar seus espaços e muitas delas tornaram-se pregadoras.

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