Da violência ao amor vulnerável

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
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2 min readOct 12, 2020

Sobre a morte sacrificial de Jesus Cristo

Há poucas décadas, a pesquisa científica, em geral, e o pensar teológico se encontravam num silêncio em comum quando o assunto era o tema sacrifício. Tal inércia mantinha, de um lado, pesquisas científicas pouco objetivas ou que não levavam a sério evoluir e desdobrar dados incipientes, simplesmente por classificar toda linguagem religiosa não compreensível como superstição. Por outro lado, uma fé cristã, desarticulada e puramente dogmática, celebrava o corpo e sangue de Cristo indiscriminadamente, sem a capacidade de conectar a memória viva do sacrifício vicário do Cordeiro de Deus à sensibilidade e à fecundidade da vida da fé no mundo. Pela presente obra, percebemos que tal apatia não é mais possível. Ao menos, não sem sérios prejuízos para ambas as partes — e para a própria vida em sociedade –, já que o sacrifício fala diretamente da violência e a violência fala diretamente da relação entre os seres humanos.

Quem em sã consciência concordaria com um ato de violência ou um sacrifício, sejam eles pelas razões que fosse? Não deveria nos causar surpresa que, ainda hoje, apenas duas reações são concebíveis diante da violência: ou se participa ativamente, conivente ou entorpecido por uma ignorância funcional, ou se morre (gradualmente ou de uma única vez), na luta inconformada contra um sistema sacrifical de injustiça, para não se ter parte alguma com o sangue-combustível derramado.

Ao conectar, tanto os pontos de partida quanto os pontos de chegada, tanto do pensamento de René Girard quanto da teologia de Jürgen Moltmann, a articulação desenvolvida no interior desta obra, minimamente presentificada neste recorte epistemológico, redescobre a sempiterna hermenêutica do sacrifício de Cristo pela humanidade que abarca a multifacetada compreensão do todo sacrificial, tanto no Antigo como no Novo Testamento, desdobrando-se através da inconsútil história da salvação.

Portanto, para ambos os pensadores, no acontecimento da Cruz está estabelecido o maior paradoxo de toda a história do cristianismo e do mundo, que apenas poucos intérpretes bíblicos, mártires e místicos puderam notar. E, quem sabe, também nele resida boa parte da razão da incompreensão do ateísmo filosófico, que fustiga a ratio da fé cristã?

Sidnei José da Silva

Em www.editorasabercriativo.com.br

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