Hermenêuticas e Teologias

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
Sent as a

Newsletter

2 min readOct 19, 2020

Por Juan Stam

Em um outro texto que escrevi recomendei “o método do restaurante”. Quando vou a um restaurante, espero um cardápio amplo e variado, não só uma opção. Depois analiso os prós e contras de cada alternativa: costela de porco é minha favorita, mas me dá problemas de colesterol; frango é mais saudável, mas jantei frango ontem; o peixe também é mais saudável, mas no momento não me apetece, então restam as massas, e entre espaguete e lasanha, opto pela última. Entre todas as opções do cardápio, considerando as razões a favor e contra cada alternativa, escolho uma, faço então o pedido e como. Estudar a Bíblia é um processo semelhante.

Muitos textos bíblicos, talvez a maioria, são válidos para mais de uma interpretação. Alguns textos permitem muitas interpretações possíveis, com suas respectivas razões a favor e contra e, às vezes, sem argumentos contundentes a favor de uma só. O cavaleiro do cavalo branco (Ap 6:1–2) pode ser interpretado, com seriedade exegética, de umas dez maneiras diferentes, cada uma, sem exceção, com suas razões e seus problemas. O fato é que os dados desses dois versículos (cavalo branco, arco, coroa, vai vencendo) servem legitimamente para interpretações até contraditórias (guerra ou paz, Cristo ou anticristo). O responsável é considerar todas as possibilidades e todos os dados, optar pela que mais convence, “comer” dela e obedecer como palavra de Deus e mensagem para nossa vida.

A interpretação correta dos textos nem sempre fica totalmente evidente e segura. Eu gosto de “qualificar” as interpretações pelo seu grau de fidelidade provável ao sentido do texto. Em uma escala de um a dez, por exemplo, pode-se qualificar como um “dez” que o Cordeiro é Cristo, mas minha interpretação do cavalo branco (do qual, diga-se de passagem, estou muito convencido) pode ser um sete ou um oito em seu grau de probabilidade. De alguns outros detalhes, como os 144.000 que “não se contaminaram com mulheres” (Ap 14:4), o grau de probabilidade hermenêutica da interpretação que prefiro não passa de uma nota três ou quatro. Logicamente, interpretações claramente erradas devem receber um zero bem merecido.

É importante observar que estas ambiguidades de interpretação se aplicam principalmente a detalhes e frases das passagens. Nessas mesmas passagens, a mensagem, “o que o Espírito diz às Igrejas”, é clara e imperativa.

(Trecho do livro Hermenêuticas e Teologias. Pode ser encontrado em www.editorasabercriativo.com.br ou em ebook em https://amzn.to/2IJS5qK)

--

--