Ler a Bíblia a partir da América Latina

Hermenêutica Teológica Contextual

A teologia evangélica latino-americana encontrou seu lugar e tempo no último quarto do século XX, a partir de um movimento eclesial e missionário, interdenominacional e internacional, que culminou na realização dos CLADEs (Congresso Latino-americano de Evangelização), na fundação da Fraternidade Teológica Latinoamericana (FTL) e em várias outras instituições, movimentos e igrejas que adotaram o ideário da chamada missão integral.

De modo semelhante à Teologia da Libertação, a teologia evangélica (evangelical) latino-americana nasce do compromisso com Deus — em suas dimensões de espiritualidade e serviço ao próximo. É, assim, uma teologia conscientemente contextual, ou seja, nascida no contexto da vida cristã e da prática missionária e realizada para o aperfeiçoamento da vida e missão no contexto onde nasceu e se desenvolve.

Neste curto período de sua vida e desenvolvimento, a teologia evangélica latino-americana se ocupou primariamente, é claro, da missão e da espiritualidade. Mas, simultaneamente, se defrontou com o complexo e fundamental tema da leitura da Bíblia e do método teológico, problema que pode ser resumido no termo hermenêutica.

Desde os primeiros números do Boletin Teológico da FTL e do CLADE I, a questão hermenêutica acompanhou passo-a-passo a reflexão e a prática sobre missão e espiritualidade. O ponto fundamental da discussão hermenêutica na teologia evangélica latino-americana foi, e continua sendo, a tensão entre fidelidade à Escritura e relevância contemporânea. Em outras palavras, a espinhosa questão de: “como tornar relevante o sentido do texto bíblico para a vida e prática missionária do povo de Deus na atualidade?”

Algumas dezenas de artigos foram escritos sobre o tema, fruto de encontros teológicos e de pesquisas pessoais, oferecendo uma rica diversidade de manifestações e propostas hermenêuticas. Faltava, porém, um trabalho de reunião densa dessa rica diversidade, que não só sintetizasse esse esforço, mas também relacionasse o mesmo com a hermenêutica filosófica e com a teologia da libertação. Este livro faz exatamente isto. De forma clara, concisa e didática, Sidney conseguiu sintetizar o esforço evangelical latino-americano de construção de uma hermenêutica que levasse a sério a autoridade da Escritura (sem cair no fundamentalismo) e a contribuição do contexto na compreensão da Bíblia. Você encontra aqui uma brilhante síntese da hermenêutica evangelical latino-americana, acompanhada de uma reflexão consistente sobre as semelhanças e diferenças entre a hermenêutica evangélica e a da teologia da libertação.

Ademais, a discussão sobre a hermenêutica evangélica é situada no contexto mais amplo da hermenêutica filosófica, através de um importante diálogo com Gadamer, temperado com pitadas da hermenêutica de Paul Ricoeur, dois dos principais nomes da filosofia hermenêutica contemporânea. Desta maneira, Sidney mostra que a reflexão evangélica, embora ocultasse seus pressupostos filosóficos em função dos públicos endereçados pelos artigos e livros sobre a interpretação bíblica, nunca se esquivou de discutir esses pressupostos e de estar em dia com a discussão filosófica de seu tempo.

Enfim, este é um pequeno livro que promete uma grande contribuição à teologia latino-americana. Tanto à teologia evangélica, quanto à ecumênica e a da libertação, posto que sua ênfase no contexto e no diálogo, o tornam uma leitura indispensável para quem faz e quem deseja fazer teologia e missão seriamente nosso continente.

Júlio Paulo Tavares Zabatierosta obra foi publicada por outra editora como Teologia Contextual, agora está sendo lançada por nós com um título mais correspondente ao seu conteúdo “Hermenêutica Teológica Contextual”, pois é exatamente isso que é a teologia latino-americana, uma teologia hermenêutica.
O autor, prof. Sidney, é biblista, pós doutor em Novo Testamento. Ele tem escrito vários textos e obras na área da cristologia. Trabalha há mais de 30 anos com exegese bíblica, ensino do grego e da hermenêutica em geral.
A obra tem prefácio do Júlio Zabatiero e comentário de Carlos Caldas, Manuel Munõz e Claiton Pommerening.
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