Resenha: Pastoral em Crise — Ailton Sanches Junior

Por Jonas Fagundes

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
4 min readMay 1, 2019

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Jonas Fagundes é graduando em Teologia pela Faculdade Latino-americana. Atualmente têm começado a realizar pesquisas sobre Sociologia Teológica e Antropologia e trabalha como um de nossos resenhadores no blog.

SANCHES JR, Ailton. Pastoral em crise: Paulo e o ministério contemporâneo. Campinas: Editora Saber Criativo, 2018.

Para adquirir ou saber mais sobre a obra, acesse: www.editorasabercriativo.com.br.

O autor, Ailton Sanches Júnior, é pastor batista e capelão do Exército em Brasília - DF, além de ser professor de Novo Testamento, Grego Bíblico e Teologia Pastoral. Graduado em Teologia pela FATE-BH e Mestre em Teologia pela FAJE (BH), neste livro, ele se propõe a discutir os principais problemas da Igreja brasileira, causadores da crise pastoral que vivemos hoje. Ao fim, ele oferece possíveis soluções a partir das cartas pastorais do Novo Testamento. Ailton faz uma análise de causa e efeito, do púlpito ao público, e a relaciona ao texto bíblico, a partir de uma exegese das cartas pastorais, visando compreender as causas da crise, para fins de elaboração de novas práticas.

O autor inicia o primeiro capítulo com uma crítica da teologia e da prática pastoral em ascensão no Brasil, pontuando seus desvios, como por exemplo o pragmatismo religioso e o pensamento mercadológico, os quais se preocupam com os números, resultados, e com a instituição e a fama do pastor — que sacrifica a qualidade e o objetivo da função pastoral. A função pastoral, segundo Ailton Sanches, se realiza na pregação cristocêntrica e no discipulado pessoal, responsáveis pela instrução cristã ou formação do crente na maturidade da fé. O problema da crise da Igreja é, então, de ordem teológica e pastoral. Na obra, este problema fica evidente na análise crítica sobre a Teologia da Prosperidade, que o autor expõe com uma excelente pesquisa, pontuando seus mecanismos e ressaltando a influência do capitalismo norte-americano sobre os novos processos sociais.

Conforme a análise do autor, tais processos sociais contemporâneos abrem o mercado para o seguimento religioso, enquanto a Teologia da Prosperidade faz a síntese entre uma espiritualidade supersticiosa e o uso de conceitos bíblicos equivocados com base em interpretações bíblicas com tendências capitalistas. O resultado desta combinação é catastrófica para a religião cristã, que adere ao pragmatismo e à sua busca por resultados rápidos — onde o que é verdade é o que dá certo, ao consumismo — que determina o valor do indivíduo na sociedade e na Igreja, e em relação à benção de Deus, ao hedonismo e sua busca por satisfação pessoal, ao prazer a qualquer custo e à negação dos problemas. Por fim, Ailton Sanches também compreende o individualismo como efeito da Teologia da Prosperidade no Brasil, o qual corrompe o conceito cristão de comunidade e de amor ao próximo. Estas ações acabaram gerando diversas doutrinas falsas, apoiadas em textos bíblicos mal interpretados ou usados como pretexto para falsas afirmações e venda da ‘fé’ na forma de um produto.

A resposta, proposta pelo autor, se dá na retomada dos conceitos bíblicos e do testemunho cristão nas Escrituras. Elas foram encontradas nas cartas pastorais do Novo Testamento, atribuídas ao apóstolo Paulo. Ele introduz esta segunda parte do discurso desenvolvendo, primeiramente, uma análise geral sobre o conjunto das três cartas: I e II Timóteo e Tito, expondo as discussões de sua datação, autoria, estilo literário e etc. Com isso, o autor mostra os principais pontos de vista dos pesquisadores sobre o conjunto das cartas e analisa o seu conteúdo e forma. Em seguida, ele faz uma breve descrição das personalidades de Timóteo e Tito, e de suas funções como cooperadores diretos de Paulo em seu ministério apostólico, encarregados pelo próprio apóstolo da organização e ensino das igrejas de Éfeso e Creta. No terceiro capítulo, Ailton Sanches realiza uma crítica exegética, abstraindo os fundamentos do pastoreio de Paulo com seus discípulos comissionados. Desta maneira, o autor propõe um modelo pastoral a partir do cuidado de Paulo com seus discípulos (discipulado), e das instruções de Paulo para o trabalho delegado a eles em administrar e organizar a Igreja de Cristo (ekklesia). Ele conclui sua proposta com um arquétipo bíblico da função do pastor, que deve ser pautada em sua vocação de cuidar e ensinar a Igreja de Cristo nos dias atuais, levando em conta os desafios contemporâneos da Igreja.

A obra de Ailton Sanches nos fornece uma crítica muito esclarecedora da problemática da Igreja no contexto brasileiro e seus desvios teológicos. Ao lê-la, o leitor entenderá e conhecerá, de fato, a Teologia da Prosperidade e seu potencial nocivo para os objetivos de Deus em relação à Igreja. Estes objetivos estão claros nas Escrituras. A exposição do problema é muito rica e de grande proveito para o leitor que procura entender os esquemas e estruturas dessa suposta teologia que tem tomado conta das igrejas cristãs no Brasil. A solução não é uma ideia nova, mas um modelo antigo, presente no Novo Testamento, que caracteriza a própria comunidade eclesial e a função pastoral a partir daqueles que a começaram. Fazer a abstração desse modelo de seu contexto, entendendo os motivos pelo qual eles foram criados e usados, é o objetivo da teologia, para possibilitar a sua utilização na realidade atual de forma coerente. Esse trabalho exegético e hermenêutico é alcançado por Ailton Sanches na sua proposta com ênfase no ministério pastoral. Ele entrega essa obra, que é bastante útil para quem procura orientação teológica em seu ministério pastoral, ou se entende vocacionado para ensinar às pessoas o caminho de Cristo.

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