Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
2 min readMar 22, 2024

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Sempre tive medo de dançar…

Nunca consegui acompanhar o ritmo. As pernas travam, eu perco os passos e me sinto, para ser sincero, inadequado e ridículo. É um verdadeiro constrangimento. Eu olho as pessoas ao redor e me pergunto: como elas conseguem balançar seus corpos com estilo sem que se sintam incomodadas? Elas dançam como se ninguém estivesse observando. Sentem-se livres. Sempre apreciei a dança e essa liberdade, mas nunca pude dançar. Quando tento, sinto que todos estão focados em meus passos e rindo. Não sei se elas estão apenas felizes ou se o motivo da alegria são a inaptidão e o desjeito. Não, pode ser que elas não estejam nem sequer olhando. Acho que o holofote está em mim e, talvez, tenho dado muita atenção ao meu umbigo — ou, pelo contrário, pode ser que eu esteja olhando muito para o umbigo dos outros, não dando a atenção correta aos meus próprios passos.

A dança é uma expressão e uma arte. As pessoas expressam seus sentimentos e manifestam suas vitalidades dizendo e afirmando, através dela, que estão vivas. Para alguns, dançar é tudo. Os passos têm sentido. Parece que todos sabem o que estão fazendo. Esperam o ritmo dizer o que precisam fazer em seguida, antecipam e aguardam o que está por vir, e o corpo obedece sincrônica e harmoniosamente ao ritmo, conferindo confiança e suavidade aos dançarinos. Gostaria de sentir essa elasticidade do corpo; sentir essa liberdade correndo nas veias, guiando os meus passos, dominando meus impulsos, deixando delineados no ar os movimentos, enquanto se respira a própria música.

Acho que minha predileção pela dança vem da paixão que minha mãe tinha por essa arte, pois ela, sim, foi uma dançarina. Expressar-se com paixão na dança foi sua distinção na vida, sua marca. Embora haja muitos dançarinos por aí, os seus passos eram únicos, expressavam-se com vigor, não importava o ritmo, ela estava pronta, era alegria e era dor, um completo esvaziamento de si que a fazia plena e eterna. É o que consigo lembrar. Talvez, por isso, nos últimos tempos, tenho buscado essa expressão, para tentar aproximar-me da sua presença, lutando contra o esquecimento. Mas o que fazer e como encontrar a paixão quando ela parece desaparecer nos eventos da vida e quando você ainda não descobriu o seu propósito e, talvez, já tenha desistido de encontrá-lo?

P. H. MARTINS

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