Uma leitura narrativa e pragmática de Marcos

Regina Fernandes Sanches
Editora Saber Criativo
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3 min readFeb 15, 2021

Vigiar estando à espera do Filho do Homem: O discurso escatológico do Jesus histórico em Marcos 13

Pe Johan Konings e Pe Jaldemir Vitório

Marcos 13,1–37 seria produto de atividade editorial da comunidade de Marcos atribuído ao Jesus histórico, diante da espera iminente da vinda de Jesus? Essa é a primeira pergunta que se impõe diante do discurso de Jesus neste capítulo.

Outra pergunta: Qual é o diferencial de Jesus nesse discurso escatológico e sua relação com o pensamento apocalíptico?

Estudos identificam, neste capítulo de Marcos, traços da apocalíptica judaica. A apocalíptica é um modo de pensar que ocupou o pensamento judaico e cristão entre os anos 200 a.C. e 100 d.C. No judaísmo, a linguagem apocalíptica procurava revelar, por meio de visões, as soluções para os problemas do mal e do futuro de Israel, de forma clara e delimitada no tempo e no espaço. Já no cristianismo da primeira hora, predominava o pensamento da volta apocalíptica de Jesus.

Relação entre escatologia e apocalíptica em Mc 13

A relação entre escatologia e apocalíptica pode ser identificada na estrutura narrativa do capítulo. Marcos constrói o texto do capítulo 13 com a seguinte estrutura narrativa:

Introdução (v.1–4): Jesus conversa com os discípulos sobre a profecia da destruição futura do templo, preparando o ambiente para a compreensão de seu discurso escatológico.

Princípio das dores (v. 5–13): Jesus começa a fazer para os discípulos um discurso, apresentando os sinais dos tempos, falando dos enganadores, das guerras e das perseguições que eles sofreriam. Ele deixa claro que esses sinais não indicam ainda o fim, pois este não tem um tempo determinado.

A grande tribulação (v. 14–23): Jesus apresenta vários fatos que ocorrerão em Jerusalém, e convoca os discípulos a ficarem firmes diante das tribulações. Ele fala de guerras, falsos messias e falsos profetas que enganarão o povo.

A manifestação gloriosa do Filho do Homem (v. 24–27): Jesus oferece sinais de como será a sua segunda vinda. O sol não mais brilhará, a lua não dará a sua claridade e as estrelas cairão do céu. Em meio a esses sinais, uma novidade: o Filho do Homem vindo entre nuvens com grandes poderes e glória. Por fim, a reunião dos eleitos.

Discurso sobre a iminente vinda (v. 28–37): Jesus, de forma catequética, fazendo uso do gênero parábola, fala da figueira para colocar o discípulo na condição de vigília. Vigiar por quê, para quê, e com qual finalidade? O discípulo deve vigiar durante todo o dia, pois o tempo está próximo, é certeiro, mas tem dia desconhecido. No fim de seu discurso, Jesus, novamente, não marca o tempo, mas termina com o convite de forma imperativa: vigiai! O verdadeiro discípulo sabe discernir o significado do vigiar.

A partir dessa estrutura, ainda podemos identificar outra possibilidade, a qual identifica uma introdução e três partes, dispostas nos versículos 5 a 37, que desenvolvem temas e colocam a parte central nos versículos 24 a 27, a vinda do Filho do Homem. Ele seria, então, o tema que dá o tom ao discurso. Podemos visualizar essa estrutura da seguinte forma[1]:

1. anúncio e admoestação (5,23);

2. vinda do Filho do Homem (24–27);

3. anúncio e admoestação (28,37).

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