A gente precisa parar

Aline Galvão
Sai dessa vida
Published in
2 min readMay 11, 2017

Se um dia alguém me pedir um conselho aleatório, se eu for miss, assinar coluna em jornal ou na próxima vez que for conversar ~sério~ com a minha sobrinha de cinco anos, vou me ajoelhar, olhar nos olhos dela e dizer: pare de se justificar. E comece já.

Pare de arrumar motivos para continuar fazendo algo que já não traz mais satisfação.
Pare de se atrasar para compromissos diários por pura preguiça e falta de organização e culpar o trânsito, o uber, o metrô lotado, o acaso.
Pare de desperdiçar dinheiro dizendo que caixão não tem gaveta. Ou, pior, pare de guardar todo o dinheiro que ganha, alegando preocupações com um futuro que nunca chega.
Pare de dizer que não malha porque não gosta — afinal, quem gosta?
Pare de criar reuniões que não explicam nada e expõem ideias irrelevantes para pessoas desinteressadas.
Pare de entrar em confessionário virtual, de se sentir na obrigação de criar polêmica em mural de rede social e de se tatuar em latim.

Prestar contas é a parte burocrática da vida em sociedade. Mas terrível mesmo é viver pra dar satisfação, sempre buscando
aprovação. O mundo não tá aí pra bater palma pra gente. E esperar a mãozinha na cabeça pra amenizar a dor pelo tempo que faltou, pelo dinheiro que não sobrou ou pelo compromisso que perdeu, só vai criar mais expectativas difíceis de serem atingidas.

Se permita errar, assumir e se perdoar. Se permita ao silêncio do que não se explica.
Pare de dar desculpa, resposta para tudo, textão, opinião. Pare de justificar o que não tem justificativa e de se justificar.

Às vezes, a gente só precisa parar.

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