Algumas notas pretensiosas sobre a vida

Alana Della Nina
Sai dessa vida
Published in
2 min readOct 14, 2016

A primeira é que ela é dura, fique sabendo. Diferente dos filmes que você assiste, sua existência não é desenhada com começo, meio e fim. Serão vários inícios e finais — nem todos felizes. Talvez você vire abóbora e não ganhe o sapato de cristal. Talvez suas justiças não sejam feitas. Ou pode ser que, saravá, você ganhe o bilhete premiado.

Inconstantes, não lineares e instáveis ciclos ainda vão te pegar de surpresa. Muitas vezes. E você provavelmente será presunçoso de pensar que todas as coisas têm que caber no seu entendimento. Tudo bem. Nossa mania de ser pequeno é compensada por essa eterna culpa que a gente carrega por achar que nunca seremos o que poderíamos ser.
Mal sabemos.
Com sorte, lá na frente a gente entende que fomos exatamente o que precisávamos.

A segunda é que ela passa. Desculpa o clichê, mas: não deixe para depois. Guardar a vida é uma forma triste de deixá-la correr sem o nosso conhecimento. A gente também tem prazo de validade. Pior: somos altamente perecíveis. A morte — essa cuja existência custamos a acreditar — chega soberana, para todos nós. Sorrateira e imprevisível, muitas vezes. Como um grande pé na bunda. Então, faça, sobre todas as outras coisas, o que você quer fazer. Mais do que o que você precisa fazer.

Mesmo assim, algumas coisas você realmente vai precisar fazer. Das muito importantes: olhar para dentro. Acho que é a lição mais valiosa que consigo te dar, mesmo que nem sempre eu mesma seja bem-sucedida nela. Já adianto: é preciso mais coragem que vontade para abrir sua caixa de pandora particular. A gente faz qualquer negócio para se distrair de si mesmo. Mas é preciso se encarar. Com toda a imensidão das coisas conhecidas e desconhecidas que certamente te habitam.

Aprenda a fazer trocas que valham a pena. O que nos preenche são as intensidades, boas ou ruins. Sempre que possível, fique com as boas. Em vez de se gastar detestando as piores pessoas que você conhece, vá se divertir com as melhores. No lugar de criar pilhas imaginárias de coisas a fazer, ler, estudar, viver, valorize o seu repertório, a sua história. Você é exatamente o resultado do que viveu e consumiu. E — necessário — não se compare com os outros. Essa é uma das angústias mais inúteis que conheço. As pessoas vivem em camadas diferentes, algumas mais rasas e outras mais profundas. Nade na sua velocidade e respeite o princípio básico da humanidade: cada um é cada um. O único papel que te cabe é o de si mesma.

A falta faz parte do jogo. E é essencial para a sobrevivência. Nossa jornada é sobre ocupar espaços existenciais, emocionais e físicos. A vida nunca vai deixar você se acostumar. Seus pequenos apegos estarão sempre à mercê da implacável impermanência das coisas.

--

--