Ao meu redor

Alana Della Nina
Sai dessa vida
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2 min readJan 31, 2017

Eu não ia embora porque o vazio ocupa muito espaço, mas você ocupava mais.

Porque o silêncio pode ser ensurdecedor, mas menos que a sua voz insistindo em dizer as coisas que eu já não queria mais ouvir.

Porque achei que fosse sentir demais a sua falta, até entender que era de mim mesma que eu tinha saudade.

Te amei porque não escolhi. E descobri que preciso viver das minhas escolhas.

Agora cá estou, rodeada de vazio, sufocada de silêncio.

Com a lenta missão de desistir. Deixar ir o sentimento que me definiu por mais tempo do que deveria.

Admitir o desamor é saber se despedir do que já não serve. Crescer é também não caber mais.

Parei de contar as horas. Esqueci o calendário.
É mentira tudo o que te contam sobre o tempo. ‘Um dia após o outro’ é anestesia disfuncional. Descobri que relógio emocional não tem essa linearidade cartesiana. Minutos que duram 60 segundos de eternidades. Domingos de 24 horas infinitas.

O tempo no luto de si mesmo é ondulado e cruel. Ziguezague imprevisível. Sobe e desce. Inferno e céu.

Parei de confiar na aparente estabilidade que acordava comigo. Podia ser traída novamente no dia seguinte. Ou na próxima hora.
O mundo — o meu, que fique claro — é frágil.
E aceito a dor como parte do processo. Logo eu, que deixei de viver para não sentir.

Em um dia qualquer, estava procurando uma notícia no jornal e, sem querer, li uma linha do seu horóscopo. Sem aviso, caí naquele velho buraco do vazio e do silêncio. Como, então, agora só saberia da sua vida pelos astros.
Ainda não consegui mudar a minha senha do banco, o seu aniversário. Abraço a burocracia como uma simbólica e derradeira lembrança.

Hoje entendo que são trocas justas. Dou o conforto entediante do meu moto-contínuo pela liberdade, esta distinta entidade que a gente não sabe o quanto vale — e o quanto pesa — até a termos em mãos.

Sigo, então, em frente. Tento não confundir segurança com covardia e embarco nessa nova existência carente de previsão.

Confio no tempo interno das minhas próprias coisas e caminho pela tempestade com a paciência de quem sabe que vai chegar do outro lado.

E não posso reclamar, me caiu bem o absoluto despreparo.

Se eu soubesse que seria assim, não teria ido embora. Ainda bem que não sabia.

06/2015

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