Sobre as coisas que você pensa

Alana Della Nina
Sai dessa vida
Published in
2 min readJun 7, 2016

Eu não sei que histórias você anda se contando, mas me pergunte primeiro. Me pergunte porque você inventa versões de mim a quem não fui apresentada. Porque eu também invento versões de você e me conto histórias.

Entre o que um diz e o outro interpreta, desconheço a distância. Entre falar de menos e pesar na palavra, nunca sei a medida. Assim como você, também penso coisas que não digo. Mas tento não pensar. Tento não imaginar, não criar expectativa, não ler entrelinhas possivelmente inexistentes.

Já entrei em você por inteiro. Mas agora entro como quem experimenta a água fria da piscina com os dedos dos pés. Como quem tem uma breve lembrança de um prato apimentado e prova de novo com a ponta da língua. Já fui longe para agora voltar. Para o zero.

E no zero estamos. Aparentemente. Ainda que em cada um de nós sobre intensidade, a superfície é rasa, sempre. É permeada por ditos não-ditos. Por trocadilhos involuntários, mal-entendidos, meias-verdades. Uma dimensão de coisas que cobrimos com a falta de jeito dos principiantes de dizer e sorrir e olhar, como se nunca tivéssemos feito isso antes.

A gente avança um passo e volta dois, três, todos. Uma dança lenta que não se encontra com um ritmo rápido. A música de fundo está ali, latente. Mas a coreografia a gente finge que esqueceu.

Eu não vou, você não vem. Você não vem, eu não vou. E assim ficamos. Coisas que começam e terminam porque não continuam. Ou arrumam um jeito mal arranjado de seguir e dar errado. Tem um quê de orgulho e um outro quê muito maior: o de medo. E, enquanto isso, a gente brinca de adivinhação. De longe. Cada um com sua própria porção insuficiente do outro e achando que sabe.

Mas não sabemos. De nada.

Prometo, ainda vou te perguntar, mas, por favor, me pergunte primeiro.

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