Interaction South America: a última e histórica edição

Ana Coli
Saiba+
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8 min readDec 22, 2017
Saiba+ no ISA Floripa

O ISA não volta mais: o mais tradicional evento da comunidade de UX sulamericana vai expandir suas fronteiras e se tornar ILA — Interaction Latin America. Em 2018, será o Rio de Janeiro a sediar a primeira edição repaginada do evento.

Para tentar recordar o que de melhor ouvimos nesses três dias de ISA Floripa (9, 10 e 11 de novembro), escrevemos duas ou três coisinhas que marcaram cada um de nós — OK, a missão foi um pouco difícil e a galera se empolgou, virou textão. Veja abaixo nossos relatos e compartilhe as suas melhores impressões nos comentários.

Equipe da Saiba+ presente no ISA: Ana Coli, Jéssica Rojas, João Barros, Oliver Pfeffer e Victor Carvalho.

Primeiro dia — as palestras da comunidade

Victor: o que me impressionou foi o circuito de palestras silenciosas, acontecendo paralelamente no salão principal. Através de um fone, você escolhia qual canal/palestra gostaria de ouvir. Foi bem peculiar e, apesar de parecer que não iria funcionar, foi uma das melhores experiências inovadoras que tive em talks. Facilitava muito para você acompanhar as palestras que queria ver, sem precisar ficar correndo pra lá e pra cá trocando de salas. Era só trocar o canal e você já estava escutando o que estava rolando e, se interessasse, andava alguns poucos metros e já estava assistindo a uma nova palestra. Uma enxurrada de conteúdo e conhecimento.

João: destaco a palestra de Maria Lígia Klokner, UX designer da Booking, que falou sobre o design focado em contexto. Além de iniciar sua palestra comentando o quanto gostaria de ter as habilidades do detetive Will Graham, da série “Hannibal”*, para conseguir entender o usuário e se colocar no seu papel, Klokner também falou sobre a experiência e o quanto realmente temos o controle sobre ela. Como exemplo, Klokner citou Walt Disney — para ela, o primeiro (e talvez o único) UX designer — e a dedicação da Disney para entregar sempre o plus da experiência — e como as empresas estão utilizando Machine Learning + UX + Empatia para criar experiências únicas.

Oliver: outra palestra marcante foi a de Luis Felipe Fernandes, fundador da HandMade. Ele deixou claro que em todos os processos e projetos nos quais trabalhamos existem diversas métricas e dados a serem analisados para tomarmos nossas decisões, mas que muitas vezes não é claro qual é a principal métrica de sucesso que deve guiar o nosso trabalho. Em seu discurso, Luis Felipe analisou isso com uma perspectiva de produto, citando exemplos de métricas únicas de sucesso de empresas como Netflix. Apesar de muito rápido, foi o suficiente para que eu refletisse sobre as métricas únicas de sucesso dos projetos em que eu trabalho, tanto pessoais como profissionais. E fica a pergunta: está claro, para você, para sua equipe e até para a empresa qual é a métrica única de sucesso que deve guiar todo o restante das análises de dados e, consequentemente, os esforços?

Segundo dia — começam os keynotes

Depois da experiência ultra bacana do primeira dia, as palestras principais — chamadas de “keynotes” — aconteceram no formato tradicional, com todos do público voltados para o mesmo grande palco. Afinal, era hora de ver as estrelas do ISA 2017.

Jéssica: mapeamos o usuário, sabemos o que ele acessa, por onde, em qual situação etc… Mas isso não significa que criar soluções mais eficientes ficou fácil. Com a Cynthia Savard Saucier**, do Shopify, vimos como a empatia realmente só acontece quando passamos por alguma situação em que a falta de informação no design de algum produto nos afeta. E então questionamos para quem estamos desenhando, para nós ou para os outros? É preciso não só entender o usuário, mas também ter mais empatia para não cair no limbo do dark design.

Ana: Savard deu uma aula de como se fazer uma palestra, com ritmo, bons insights, gifs de gatinhos e um suspense sobre a morte ou não de um melhor amigo (spoiler: ele sobreviveu). Gostei muito quando ela sugeriu acrescentar algum elemento de estresse ao teste de usabilidade: a gente sempre tenta deixar o entrevistado o mais à vontade possível, mas, em muitas vezes, essa não é a situação real de uso da interface. Sob estresse, o usuário vai conseguir achar e entender tudo que desenhamos e escrevemos na interface?

Oliver: a palestra “Emotional IoT: How to create connections with people”, de Ricardo Nascimento, foi a mais instigante do dia para mim. Ele relacionou as possibilidades futuras de comunicação com a evolução das tecnologias vestíveis, a amplitude que nos trarão essas inteligências e como servirão de interface para a conexão digital do ser humano em um futuro já presente.

A minha mente explodiu quando ele falou que já existe a possibilidade de se candidatar para uma experiência cyborg, implantando chips em seu corpo e uma série de outras coisas ao alcance do público em geral. Me senti em um filme de ficção científica. Entrei no site e, em sua tela de abertura, está escrito “Design yourself”.

Como são escolhidos os participantes desses testes tecnológicos? Se já enfrentamos problemas em experiências que estão ao alcance de nossas mãos, imagina quando elas estiverem DENTRO de nossas mãos? Com quais tipos de relacionamentos entre organismos e tecnologia vamos ter que nos preocupar? Como serão feitos os testes de usabilidade desses produtos? Quanto e como serão expandidos os sentidos humanos? Vamos ter que desenvolver produtos adaptáveis para cyborgs diferentes no futuro? As experiências de cada usuário será diferente de acordo com o seu organismo? Como desenhar interfaces cerebrais? Como serão as interações dos protótipos virtuais?…

Victor: além da palestra de Cynthia, foram destaques desse dia Heiko Waechter, da Huge, com “Creating Emotionally Intelligent Machines” e Russell Parrish, da IBM, com “Nudges: Influencing User behavior”.

Equipe da Saiba+ no ISA Floripa

Último dia — até logo, Floripa

Podemos utilizar o design para causar uma mudança social?

João: Quem viu a palestra de Mariana Salgado, designer e pesquisadora da Finnish Immigration Service (Migri), já sabe que sim. Salgado argumentou que não estamos desenhando apenas interfaces, mas sim o impacto social que essas interfaces podem ter em nossas comunidades. O case apresentado por ela foi o moni.com, um cartão que utiliza a tecnologia de BlockChain para dar identidade a refugiados, permitindo que eles sejam reconhecidos e possam receber seus salários, pagar suas contas, ter um emprego e serem cidadãos ativos.

Oliver: “Empatia é você se colocar no sapato das outras pessoas, compaixão é você fazer algo em relação a isso. Mais do que empático, você deve ter compaixão. Compaixão permite tomar ação em relação à empatia”, foi uma das falas de Luis Arnal, da Insitum, que mais me impactaram durante a palestra “The Designer as Behavior Architect. How to maximize the use of behavioral economics in the design process”.

Sendo empatia uma competência indispensável para quem trabalha com UX, a colocação de Luis gerou algumas discussões interessantes em conversas pelos corredores do evento, mas o que realmente me fez refletir sobre compaixão — e acredito que a muitos outros presentes — foi a palestra de Lucas Radaelli, do Google, “Accessibility and universal design: developing software that is really for everyone”.

Jéssica: muitas vezes nossas soluções são baseadas em dados e informações que acreditamos serem certas, mas com Radaelli percebemos que é preciso entender as limitações mais a fundo, entrar em contato, tentar sentir e passar pelos problemas que nossos usuários passam.

Oliver: a pergunta que eu não podia calar em minha cabeça foi: o que realmente nós UXers estamos fazendo em relação a acessibilidade nos grandes projetos ou até mesmo nos pequenos detalhes do dia-a-dia? O que EU poderia estar fazendo em relação a isso e não estou? Empatia eu senti, agora ficou de lição de casa ir atrás da compaixão.

Ana: “How is designing for China market different from the Western Tech ecosystem and what you can learn from it?” era o título da palestra de Elaine Ann, CEO da Kaizor Innovation, nascida em Hong Kong, mas com larga experiência profissional também nos Estados Unidos. Dentre tantas curiosidades sobre a China da fala de Ann, me chamou a atenção ela destacar que as metodologias que utilizamos nos nossos projetos de UX foram desenvolvidas, em sua maioria, pelos norte-americanos, que pertencem a uma sociedade individualista, bastante diferente da chinesa — e também da brasileira. Isso me fez pensar que talvez precisemos de metodologias mais próximas da nossa ‘cara cultural’ — e pode ser por isso mesmo quase sempre as adaptemos ao nosso jeitinho.

Ana: uma das últimas palestras do evento foi “The Tale of the Mysterious Graph of Data”, de Rob Nero, do Spotify. Fiquei bem feliz com o peso que ele deu para o atendimento ao consumidor. Alguns dos projetos mais bacanas dos quais participei começaram na central de atendimento, “pegando carona” nas ligações dos atendentes. O call center é uma fonte inesgotável de conhecimento sobre nossas interfaces, devemos acioná-los com sabedoria.

Jéssica: são tantos dados que muitas vezes fazemos como o Rob Nero: ficamos perdidos sem saber da onde eles vêm. Continuamos analisando gráficos com que já estamos acostumados e deixamos de lado áreas internas do produto, como o atendimento ao consumidor, que podem nos dar informações extremamente impactantes na experiência do usuário.

Uma comunidade pra lá de especial

Um evento do porte do ISA, o maior de UX do mundo, tem meses de trabalho, muita gente e dedicação envolvidos.

Victor: a experiência no evento foi muito bem projetada, dentro e fora: bairro tranquilo, praia (rs), centro de convenções próximo. No evento, o layout do espaço e a sinalização, como os foodtrucks na entrada, lugares para descansar, carregar o celular e conversar, tudo muito bem pensado.

Ana: meu parabéns especial vai pra quem teve a ideia de colocar música + comida + bebida no encerramento das palestras! Foi realmente o toque especial do evento: as apresentações terminavam e o povo todo continuava ali, reencontrando amigos e fazendo novos, dançando, atualizando o Instagram… Muita alegria e um clima de celebração.

As pessoas foram o grande destaque do ISA.

Victor: começando por quem organizou, pessoas apaixonadas pela área, fazendo tudo voluntariamente, parabéns à organização. Seguindo pelo pessoal de suporte e staffs, muito atenciosos e educados. Depois nossos colegas de profissão, aquela energia e conversas respirando design todos os dias, com muito networking e troca de experiências. E fechando com os palestrantes de alto nível, figuras importantes no mundo do design de interação, de empresas das quais sonhamos fazer parte, com um conhecimento que nos faz buscar melhorar sempre e servem de guia e inspiração.

Jéssica:Eestamos em um momento em que o desenvolvimento acelerado das tecnologias nos traz muitas informações e, no meio de tantos dados, precisamos decidir o que fazer com tudo isso. No ISA 2017, ficou clara a diversidade de possibilidades que temos nas mãos e como cada um vem tentando aplicar de alguma forma essa imensidão de conhecimento. Depois de um evento desses, a ansiedade toma conta e nos traz a vontade de revolucionar tudo. Mas acredito que é necessário ir com calma. Precisamos aproveitar todos esses dados e informações que estão em nossas mãos, ficar cada vez mais livres de hipóteses e mergulhar ainda mais no conhecimento dos usuários que estão entrando em contato com nossas interfaces.

Depois do anúncio do Rio de Janeiro como sede do ILA 2018, os super early tickets se esgotaram em minutos. Ainda tem muita água para rolar até lá e novos ingressos serão colocados à venda — fique atento ao site e às redes sociais do evento.

Links:

* Hannibal: http://www.imdb.com/title/tt2243973/

Veja também Westworld: http://www.imdb.com/title/tt0475784/?ref_=nv_sr_1

**Livro: http://shop.oreilly.com/product/0636920038887.do

Se você gosta do tema de Design Social, veja a palestra de Jennifer Pahlka em 2012 no TED: https://www.ted.com/talks/jennifer_pahlka_coding_a_better_government

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