Lápis, tubo ou pastilha: descubra o material certo para sua aquarela

Equipe Saibalá
Saibalá
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8 min readApr 4, 2016

Em entrevista para a Saibalá, Spett dá dicas de como tirar o melhor proveito da técnica pelo uso de diferentes materiais

Para quem está começando a trabalhar com a técnica de aquarela, pode ser um desafio entender as escolhas mais adequadas de materiais e a maneira de utilizá-los, uma vez que os pigmentos existentes para esse tipo de pintura variam em forma, prática de uso e resultado final.

Em conversa com a Saibalá, Leandro Spett, professor dos cursos online de Introdução à Caricatura: muito além dos defeitos e Caricatura em Aquarela: técnicas para trabalhar cores, luz, sombra e volume, explicou as principais diferenças entre a pastilha, a aquarela em bisnaga e o lápis aquarelado, apontando as principais características de cada material e dando dicas de como tirar melhor proveito das opções disponíveis.

Então vamos lá. Basicamente, a primeira pergunta é a seguinte. Tanto na pintura quanto na caricatura feitas com a técnica de aquarela, é possível variar entre o uso de alguns materiais, como tinta ou lápis aquarelado. Na sua opinião, quais são as principais diferenças que marcam a escolha de cada um?

Olha, vou te falar a diferença entre a aquarela em pastilha, a aquarela em bisnaga, que é o tubo, e a aquarela no lápis aquarelado.

A pastilha é mais seca por natureza. Quando a pessoa tá trabalhando com a aquarela, ela vai sentir no pincel, na textura do pincel, com a passagem de água sobre a tinta, se ela é mais aguada, menos aguada ou mais pastosa. No caso do tubo, é mais aguada e pastosa, e no caso da pastilha, que vocês viram eu fazendo, é mais seca, então você precisa de um pouco mais de água.

“O que muita gente faz de errado é molhar o lápis na água e pintar. Isso tá completamente errado, não se faz isso.”

Então cada uma delas dá uma diferença. Obviamente vocês me perguntaram do lápis. O que muita gente faz de errado é molhar o lápis na água e pintar. Isso tá completamente errado, não se faz isso. O lápis, na verdade, em boa parte das vezes, é tão somente um acessório posterior, de fazer texturas, complementos. É diferente de você fazer uma aquarela completa usando só o lápis aquarelado.

Como é que se faz? Você pinta, mais forte ou mais fraco, deixa seu traço lá, e aí passa o pincel com água sobre ele. Esse é o macete. Então por ele ser pó, porque o lápis é pó, na hora de passar o pincel com a água, ele vai se espalhar menos do que se você estivesse usando aquarela natural, que é a aquarela de pastilha ou a de tubo.

Então ele vai dar o que? Menos manchas. Mas ele pode te dar mais textura, porque você vai usar o lápis, por exemplo, pintando com ele na transversal, ou então vai dar só uma pincelada — uma pincelada não, uma “lapisada” né — com o lápis em alguns sentidos, ou pra direita ou pra esquerda, e depois passar um pouquinho de água pra tentar dar algum efeito.

Mas o efeito que você tem com a aquarela normal não é o mesmo que você tem no lápis. O lápis ele é menos, ele mistura menos, ele tem menos manchas. A aquarela natural, da pastilha e do tubo, ela tem mais manchas, e ela é mais. Ela tem mais possibilidades.

Então o ideal seria usar a aquarela natural e o lápis juntos?

Exatamente. Tem que ser os dois juntos. Quer dizer, quando você faz só aquarela de pastilha e tubo, você não precisa do lápis. Você pode usar. O lápis vai te dar uma textura legal, diferente, um complemento legal. Fazer uma aquarela inteira só no lápis é muito mais complicado.

Porque você tem que fazer a primeira camada, passar o lápis, depois passar a água com o pincel por cima, esperar secar, pra depois fazer o lápis de novo. Se esse for o seu único recurso, lógico que é o que você vai usar.

Mas o ideal, se você quiser usar o lápis, é fazer uma base de aquarela normal, ou até mesmo uma base de ecoline (aquarela líquida), de guache, ou de alguma outra tinta a base de água, esperar secar, e aí passar o lápis por cima, fazendo os complementos que você quiser, de quantas maneiras quiser, entendeu?

O lápis não é o grosso, não é o essencial do trabalho aqui. Ele é muito mais pra criar efeitos ou sombras sem ter que usar o pincel.

E o lápis te dá mais controle, isso é verdade. O lápis te dá mais controle de onde você quer encaixar tal tinta, em tal lugar, com tal frequência. Essa é a diferença. E a diferença é grande, é legal isso. Entendeu, não inventaram lápis aquarelado só porque é legal. Era pra realmente dar esse tipo de efeito.

E você diria que é difícil pra quem está começando misturar essas técnicas ? Quando a pessoa deve começar a usar junto?

Quando ela quiser. Realmente, não tem que ter nenhum conhecimento prévio. Lógico, quanto mais estudada a pessoa for, quanto mais trabalhado for o desenho, quanto mais conhecimento de uso de material a pessoa tiver, óbvio que vai ser mais fácil.

Porque ela vai entender mais de cor, de mistura, de sobreposição. Tem que lembrar, aquarela é do tipo de tinta que você vai do claro pro escuro, e não do escuro pro claro como a tinta a óleo.

A pessoa tem que ter um certo conhecimento se ela quiser aprofundar. Mas começar, não tem problema nenhum. Pelo contrário. Mas o ideal seria que ela combinasse as duas técnicas. Ou então, a título de treino, pegar um pedaço de papel e mandar ver no lápis, ver o que acontece. E ser feliz, entendeu?

Vai e destrói de usar o lápis em cima do papel e taca o pincel com água por cima, quer dizer, não tem nenhuma restrição se o cara tá começando, se ele é intermediário ou se ele é avançado.

Então quando a gente fala de tipos de traço, ou de qual momento usar cada um dos materiais, é isso que você falou. Dependendo de quando se quer um pouco mais de textura você vai pra um caminho, quando se quer um pouco mais de manchas é pra outro caminho.

Exato. Então, quando você quer, por exemplo, a precisão. Com o pincel, você tem que ter muitos tamanhos diferentes, pra fazer os super detalhes ou as grandes manchas, os grandes fundos. Quer dizer, pra cada tipo de resultado que você queira no desenho é preciso um tamanho diferente, um formato de pincel diferente.

Com o lápis não. Você tem só a ponta. Se você quiser ela bem fina tem que apontar bem fino, senão você tem que gastar ele. Mas em geral, se tem mais controle com o lápis porque a água ainda não tá inserida.

Você tem só um lápis seco, aí você rabisca um pouquinho, vai aumentando, aumentando, aumentando e então passa o pincel com água. E aí aquele espaço que você pintou com o lápis, vai ser preenchido com o pincel com água. Entende? Aí é que tá a diferença. Então, o lápis é o que vai te dar uma textura que o pincel não dá.

E por ser um complemento, na hora de comprar esse material, o lápis, não tem que ser tão completo como um kit de pastilha, por exemplo. Ou não?

Eu sou sempre favorável à pastilha. A verdade é o seguinte, com seis, oito cores de aquarela, um estojo pequeno, você consegue milhares e milhares de cores.

Mas é muito mais interessante ter um estojo grande, de 24 cores. O meu tem 48, por exemplo. São variações e variações das mesmas cores. Então é interessante. Eu prefiro ter bastante, não só porque aí eu não tenho que ficar montando a cor que eu quero, como se você fica montando a cor, e uma hora acabou, você precisa montar de novo e às vezes não se lembra da proporção de quanto de azul pra quanto de vermelho tinha pra conseguir o roxo. Entendeu? Então você já compra o roxo.

Na minha opinião, acho que é melhor você ter um estojo completo bem grande, de no mínimo 24 cores de pastilhas, ou tubos de aquarela. E o de lápis, aí sim, ele é complementar. Aí uma caixa de 12 já basta.

Mas se você quiser mais… Aí vai do querer do artista. Se quiser 12, se quiser 24. Eu tenho uma caixa de 120 lápis de cor aquarelados, 120. Absurdo. Mas é que eu ganhei e eu tenho, eu adoro. Acho o máximo.

É que você adora material né, professor?

Ah não, eu vou te falar. Eu entro lá na loja, vou pra comprar uma borracha e eu saio com três sacolas e 500 reais a menos no bolso.

E você, que já chegou a recomendar marcas de pastilhas e tubos, tem alguma recomendação pra lápis também?

Olha, vou te falar. A faber castell é uma boa marca, viu. Mas eu te digo que a mais famosa de todas, e realmente é de muito boa qualidade, é a Caran d’Ache. Ela tá num nível superior. Você tem umas outras marcas que podem ser: Conté, que é francesa, você tem até pastel aquarelado na verdade, mas o ideal seria o lápis normal; e você tem a Derwent, inglesa, que acho que no Brasil é bem pouco conhecida. Mas a Caran d’Ache é uma escolha certeira, não tem como errar.

E você, pessoalmente, tem costume de usar, ou você prefere ficar só na pastilha mesmo?

Confesso que eu quase nunca uso. Eu gosto, tenho, mas quase nunca uso. É muito mais pelo costume do que pelo gosto. Porque eu gosto. Mas tá lá o estojo [de pastilha], colocado na sua frente, e você vai direto. Às vezes até esqueço de pegar a caixa pra fazer o complemento. Eu tenho tanta tinta em pastilha, tenho pelo menos essas 48 e mais uns 2, 3 estojos paralelos com cores paralelas, e já acabo deixando, infelizmente, o lápis de lado. Deveria usar sim viu? Deveria. É bem legal.

Leva mais tempo quando se usa o lápis ou realmente é o costume?

Não, é o costume, é o costume. Inclusive eu deveria dar um gás aí, dar uma pesquisada, dar uma elaborada melhor no trabalho. Com certeza. Vale a pena.

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