O segredo por trás das grandes criações

A visão de Marcio Alek sobre a importância de cultivar um repertório para conceber boas ideias

Há uma frase de Marx que diz que “tudo que é sólido desmancha no ar”. Deslocada de seu contexto original e aplicada à moda é pura poesia.

Em moda, como em qualquer outra vertente das artes aplicadas, bem como de todas as artes em geral, é fundamental que se possua um olhar atento sobre tudo o que acontece em seu entorno. A criação se alimenta dos elementos que gravitam em torno num constante processo de renovação de si mesma. Não há criação sem a apreensão dos elementos e dos conceitos que já foram construídos, pois sua desconstrução depende de conhecê-los. É necessário que o criador possa construir seu mundo particular de repertórios, sem o qual, a imaginação é um lugar árido e seco. A criação precisa ser provocada e instigada!

No Studio Berçot, escola em Paris em que me formei, há uma teoria que diz que seus alunos são capazes de criar uma coleção inteira a partir de uma caixa de fósforos, o que é pura verdade. Mas isso só é possível porque eles são preparados para absorver o seu entorno e tudo o que se passa nele. Então, ao iniciar o processo de criação a partir de um tema escolhido, seja a caixa de fósforo ou um grão de areia, como foi o caso de uma antiga coleção da Prada, outras informações virão sedimentar o processo, disparando, num ato contínuo, o encadeamento necessário ao desenvolvimento da coleção, pois não se pode criar nada a partir de uma caixa de fósforo ou de um grão de areia sem que se tenha visto, antes, o mundo no qual eles estão inseridos.

Em primeiro lugar, para quem deseja trabalhar com moda, é importante conhecer sua história e como ela se transformou, se reinventou ao longo do tempo, imitou a si mesma incansavelmente, revolucionou as necessidades e ajudou a tornar possíveis novos modos de vida, e como ela contribuiu para que o mundo seja o que ele é. Entender que o que move a moda e instiga suas mudanças e adaptações é, sem prejuízo do desejo, a necessidade do cotidiano e vice-versa. De uma certa maneira, também, ao se olhar para o passado, percebe-se que a moda evolui concomitantemente à arte, haja vista, a título de exemplo, a moda óptica de Courrèges no anos 1960 e o minimalismo nos anos 1990. Sim, a moda é cíclica e vale-se, às vezes, de si mesma. Mas não é só isso.

Compreender que tudo faz parte da mesma matriz e que a evolução de um acarreta a inevitável evolução do outro, absorver o mundo e o tempo presente e conhecer o passado, e junto a isso tudo, aprender a dominar as ferramentas técnicas necessárias para a práxis, (o desenho, a modelagem, técnicas de estamparia e colorimento, processo criativo, beleza, marketing, costura, customização, história da moda, etc.) percebendo que essa compreensão faz parte de um todo, é o primeiro passo que você terá dado para se transformar no que você é.

Em colaboração com a Saibalá, Marcio Alek desenvolveu o curso online Croquis de moda: o primeiro passo de uma coleção.