Uma maçã para chamar de minha.

Bruno Lucena
Saibalá
Published in
7 min readMar 22, 2017

Em uma parte do nosso processo de desenvolvimento estratégico de marcas entrevistamos nossos clientes tentando compreender qual a sua visão sobre marca, referências e expectativas com o nosso trabalho. Tecnicamente, chamamos a essa fase de Briefing, uma sequência de perguntas que visam extrair o máximo de informações possíveis sobre porque e para quem estamos criando. Nele, uma pergunta específica sempre me chama atenção, visto que ao longo dos últimos anos e dos mais de 100 projetos de branding que já realizamos, todos, essencialmente todos os clientes que atendemos respondem com unanimidade a ela. Trata-se da pergunta sobre quais marcas e logotipos os clientes mais admiram. A resposta pode até vir acompanhada de outros exemplares, mas a Apple sempre está presente no discurso final de qualquer empresa que entrevistamos e se pergunto o porquê, invariavelmente a resposta pode ser resumida em uma expressão como:

Ah! A Apple é genial e simples, quero que minha empresa seja assim um dia!”

Essa unanimidade em admiração e referência absoluta no imaginário de quem procura uma marca para si me ajudou a entender porque a Apple se mantém há tanto tempo como a marca mais valiosa do planeta, com um valor agregado altíssimo e sendo não apenas admirada por muitos ao redor do mundo, como também reconhecida por possuir diferenciais inquestionáveis até por aqueles que não são os seus maiores simpatizantes.

De todo modo, o fato que quero abordar hoje é que embora a grande maioria das empresas admirem a Apple e a tenham como referência almejando tornar-se um dia o que ela também se tornou, muito poucas estão dispostas a percorrer o caminho necessário com a mesma visão e investimento.

Certamente você já conhece a história da marca, abordada exaustivamente em vários artigos, livros, filmes, documentários, ou simplesmente pelos discursos arrebatadores de seu fundador Steve Jobs, que com seu perfil inconformado e de vanguarda tornou-se uma personalidade quase tão amada e a admirada quanto a sua própria criação. Mas é preciso examinar mais a fundo e tentar extrair de sua trajetória quais os tão almejados segredos para tamanho sucesso. Com certeza a lista seria grande, mas há alguns pontos chaves que gosto sempre de destacar.

A existência de Steve Jobs já pode ser considerada o primeiro grande aprendizado que a marca da maçã nos dá, afinal: Por trás de toda grande marca, há sempre um grande líder. Em seu papel, o velho Steve foi de extrema relevância no sucesso da marca e imbuiu na Apple um dos seus principais atributos, o Carisma. Pode até não parecer, mas o carisma é uma característica fundamental para produtos, empresas, marcas e pessoas de sucesso. Marcas carismáticas colocam o cliente no centro das atenções e os tratam como se fossem a pessoa mais importante do mundo, preocupam-se em contar histórias em serem maiores do que si mesmas. É assim que de forma mágica e incrível a Apple estabelece conexões emocionais com seus consumidores e usa o seu carisma para fomentar qualidades acessórias intrínsecas aos que se relacionam com ela, como: jovialidade, bom gosto, leveza e inovação.

Talvez, este pequeno ensinamento explique o porquê de na guerra dos titãs: Microsoft vs. Apple, a marca da maçã sempre vencer quando se trata de apresentar-se descoladamente para as pessoas, é assim que seus produtos tornam-se itens de desejo. A Microsoft por outro lado nunca conseguiu este feito, imaginamos sempre a marca como algo genial, funcional, importante, porém sério, dentro da caixa e conservador. Ainda levará algum tempo para que o Bill e sua equipe desmontem essa impressão da cultura organizacional da empresa.

Seguindo a análise, um dos pontos centrais do diferencial da marca está no valor dado ao design. Este é e sempre foi o principal fator de sucesso da Apple, a busca incessante por algo incrivelmente estético, funcional e friendly através da obsessão de buscar respostas no design, sempre colocando a marca a frente dos seus concorrentes. Se você ainda não consegue perceber isso, busque na internet o processo de criação de algum produto Apple e veja que o que temos na mão ao comprar um produto da marca são peças com alto nível de design embarcado, em todos os seus níveis de detalhes, fruto de estudos profundos de usabilidade, desempenho e estética. Não é por acaso, não foi sorte.

Novo Macbook Air.

Steve Jobs valorizava o design em seu nível máximo e não o colocava em detrimento diante de outros atributos como engenharia, facilidade de produção e baixo custo, mas os equiparava em igual importância sabendo que os investimentos nesse tipo de diferencial não eram gastos extras, mas mecanismos de encantamento. A consequência dessa incessante busca foram produtos que revolucionaram a maneira como nos relacionamos com a tecnologia (Ipod, Iphone, Macbook Air…) e uma marca mundial que vendeu 40 bilhões de dólares ao ano apenas com uma gama de seis produtos.

Observar o exemplo da Apple é entender que o design extrapola os limites do processo. Precisamos como gestores e colaboradores — de qualquer área que seja — enxergar o design como uma disciplina que estimula a criatividade e a saída alternativa para soluções de problemas. Com esta mentalidade, não só criaremos produtos, mas inovação e promoveremos a mudança de paradigmas a partir da nossa própria mudança de pensamento. “Como posso melhorar isso?” A pergunta geralmente feita em Universidades de design de produto, na geração de protótipos, serve também e principalmente para os negócios e para vida. Toda inovação nasce deste questionamento e nenhum negócio pode ter relevância se não responde corretamente ao desafio de existir para melhorar algo em sua categoria.

Continuando nossa busca por parâmetros de sucesso, vemos na Apple a presença constante do atributo do Inconformismo, filho legítimo do bom design. Não se trata de se dar por satisfeito ao fazer o aparelho com melhor desempenho, não se trata apenas de fazer o aparelho mais estético e inovador, é preciso ir além e também investir em lojas conceituais, com arquitetura de ponta, com atendimento padrão, com embalagens projetadas especialmente para encantar, com acessórios únicos e etc., afinal a experiência precisa ser completa.

Apple store. Quinta Avenida. Nova Iorque.

Muitos de nós estamos satisfeitos e orgulhosos quando conseguimos um bom produto, em uma boa loja, com um bom atendimento e paramos de investir na capacidade de ir além. Se você pensar bem, a Apple não precisaria investir na criação das Apple Stores para vender seu produto, convenhamos que ela não precisaria sequer de loja física para isso, mas as suas lojas não apenas se tornaram uma realidade, como sua excelência e conceito as tornaram mais um ícone de valor para agregar experiência e distinção àcompra do produto e status da marca.

Esse pensamento de nunca se conformar é o abismo que separa os ordinários dos extraordinários. Claro que alcançar este nível de marca, esmagados pelos quatro Cs’ (custo, cliente, concorrência e capacidade) não é uma tarefa fácil, mas seremos extintos se não tentarmos e este comportamento se reflete em grandes, mas também em pequenas ações diárias da vida de uma empresa.

Para estar completa, a equação da nossa análise não pode deixar de conter um outro conselho fundamental que a história da Apple nos lembra bem: busque a simplicidade. Ironicamente, vivemos bombardeados a todo instante por uma profusão de informações e o ser simples torna-se cada vez mais difícil. Mas a Apple faz isso muito bem, desde os seus produtos e layouts até as embalagens, ressignificando o conceito de simplicidade de um modo desafiador que nos obriga a voltar para o que é essencial e convida para o combate aos excessos. Como resultado alcança a elegância, afinal não há como ser elegante sem antes ser simples.

Por fim, a Apple é movida por um propósito de marca e não por uma missão colada em um quadro na parede. Seu lema é: “Challange the status quo”ou traduzido: Desafie o que é normal. Foi este o pensamento e a missão que fez a Apple expandir-se do mercado de computadores para revolucionar também a indústria da música através do Ipod, e posteriormente quase extinguir marcas consagradas como Blackberry e Motorola ao ressignificar o que era um celular com o lançamento do seu Iphone. Tudo isso só foi possível porque em última instância o que a marca vende não são computadores, celulares, relógios ou aparelhos com players de música, mas o que você tem nas mãos ao comprar algo assinado pela Apple representa algo que ninguém pensou igual e uma invenção que fez o mundo ir além, desafiando o normal, e mostrando que é possível. Essa é a verdadeira alma da Apple e se você deseja ser assim em seu mercado também, lembre-se:

- Tenha Carisma;

- Incorpore o design como pensamento;

- Seja Inconformado;

- Seja simples e elegante;

- Tenha um propósito;

No mais trabalhe duro, pense diferente e desafie o comum.

Good luck!

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