Dunkirk | Obra prima de Christopher Nolan é a maior experiência cinematográfica de 2017

Marlon Faria
Saideira
Published in
3 min readJul 26, 2017

Impossível começar essa crítica sem mencionar que eu nunca gostei muito de filmes de guerra. Tudo o que eu já havia assistido no cinema de guerra até então me soava gratuito demais, como se o tema fosse apenas uma desculpa para mostrar pessoas morrendo da pior maneira possível. Dunkirk me fez repensar o gênero e enxergar aquilo que está nas entrelinhas desse contexto bélico/armamentista.

O primeiro ato do filme apresenta as três perspectivas que acompanharão o espectador até o final do longa: a terra, o mar e o espaço aéreo. É interessante a maneira como Christopher Nolan, que exerce aqui a dupla função de roteirista e diretor, desloca o protagonismo por diversos personagens pertencentes a estas três linhas supracitadas e nos oferece assim uma visão global da trama principal do filme. Nada está ali por acaso, cada elemento e personagem em cena têm importante função na construção das mensagens emitidas pelo diretor.

Nem sangue, nem vísceras fazem parte da visão de Nolan sobre o campo de batalha. Extremamente econômico com esse tipo de recurso, o diretor nem chega a fazer uso dele. O foco aqui está na luta pela sobrevivência e nas relações interpessoais que se desenrolam em um contexto como este. E por falar em relações interpessoais, elas acontecem praticamente através do olhar. Pouquíssimos diálogos fazem parte do roteiro. O que sublinha a sensação de que Dunkirk fala mais com imagens do que com palavras.

Os subtemas vão da vergonha sentida pela derrota ao retornar de uma guerra, explicada nos ensaios sobre suicídio de Durkheim, ao pragmatismo dos líderes que precisam escolher se alocam no mesmo espaço de um navio resgate um soldado ferido deitado em uma maca ou sete soldados saudáveis de pé. É preciosa a maneira como o longa coloca o público frente ao pior lado daquilo que chamamos de humanidade. É possível ler na expressão dos personagens a dúvida:

“O que resulta de uma guerra, além da destruição?”

Em termos técnicos, fica difícil pontuar aspectos negativos. As soluções e os planos de câmera criativos do inglês são impecáveis. Aliás, a sensação é de estar realmente imerso em cada uma das situações apresentadas na tela. Com destaque para as cenas aéreas, com direito a câmeras presas nas asas dos aviões, e para as sequências aquáticas que assustam de tão reais. São cenas realmente inimagináveis. Ainda mais quando leva-se em consideração a predileção de Nolan por efeitos práticos.

A trilha sonora, assinada pelo maestro Hans Zimmer, é primorosa. Clássica na hora certa, moderna quando necessário e sempre auxiliando na construção sensorial do filme. Existe uma sinestesia muito forte aqui. Interessante a escolha dos instrumentos de corda como base sonora pra esta trilha. Existe um violino persistente e extremamente claustrofóbico que surge, desaparece e ressurge em momentos específicos da trama. Curiosamente, a parceria Hans Zimmer e Nolan, que criou o recurso sonoro “baum”, lá em ‘A Origem’, prova aqui que é possível construir uma trilha sonora extremamente orgânica e que eleve o grau de tensão e suspense sem fazer uso desse mesmo recurso já saturado pelo uso excessivo no cinema de ação recente.

O elenco de atores brilha. A ausência de um núcleo protagonista faz com que todos tenham excelentes momentos. O destaque fica com Mark Rylance, que confere maturidade cênica aos seus colegas de trabalho. O ator, interage basicamente com dois jovens e é interessante a dinâmica impressa pelo trio. O estreante Harry Styles começa a sua carreira de ator com o pé direito. Não há como torcer o nariz para a atuação do rapaz. Convincente e dramaticamente maduro, apesar de sua pouca idade e experiência.

Dunkirk não só me fez mudar de ideia sobre o filmes de guerra como se tornou o meu favorito do gênero. Uma experiência visual, sonora e reflexiva que certamente renderá algumas (ou muitas) indicações na temporada de premiações. Faz repensar as últimas críticas feitas por Christopher Nolan aos filmes para TV, particularmente ao streaming. O cara está certo. A TV pode ser uma boa distração, mas a verdadeira experiência cinematográfica está na sala escura e na tela grande.

Nota: 🍺🍺🍺🍺🍺

[Agora as críticas do Saideira receberão uma nota. Sendo um chopinho a nota mais baixa e cinco chopinhos a nota mais alta]

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Marlon Faria
Saideira

Journalist, Planner, Copywriter and Podcaster | Rio de Janeiro - Brazil