Mulher-Maravilha | Girl Power e bom roteiro marcam o filme solo da heroína

Marlon Faria
Saideira
Published in
5 min readMay 31, 2017

Os filmes de super-heróis não possuem uma representante feminina como protagonista desde 2005, quando o fracassado Elektra chegou aos cinemas. Apesar de não ter ido bem, nem com o público e nem com a crítica, o longa pode ser considerado um marco na indústria por ser o único na história das adaptações de HQ a colocar uma mulher no centro de sua trama.

Muito se fala sobre a superioridade das produções da Marvel sobre a DC nos cinemas. Entretanto, a primeira não teve a coragem e a audácia suficientes para produzir um filme solo de sua heroína mais famosa do momento, a Viúva Negra. Nem mesmo a popularidade da personagem e o carisma emprestado por Scarlett Johansson foram decisivos para que a empresa arriscasse. E, no mundo milionário de Hollywood também vale a velha regra dos gramados: quem não faz, leva.

Elektra é o único filme de super-herói com uma protagonista feminina? Era. Até hoje.

Mulher-Maravilha chega aos cinemas de todo o mundo esta semana. A DC/Warner decidiu contar pela primeira vez nas telonas a história da princesa Diana. Filha de Zeus com a rainha Hipólita, a amazona foi criada sem saber de sua predestinação: ser a única capaz de deter Ares, o deus da guerra. Isolada do contato com o mundo além do véu de névoa que recobre a ilha de Themyscera, Diana seguiu uma rotina exaustiva de treinos, sob os cuidados de sua tia, a general Antíope, interpretada brilhantemente por Robin Wright (House of Cards). O destino da jovem guerreira muda quando Steve Trevor, um capitão da força aérea americana cai de avião na costa da ilha.

Steve é um espião radicado em Londres e, ao explicar como foi parar em Themyscera, conta sobre a Primeira Guerra Mundial e as milhões de mortes decorrentes dela. Aqui, o filme consegue conquistar o espectador familiarizado com conflitos geopolíticos. Imediatamente, Diana conclui que ‘a guerra para acabar com todas as guerras’ é motivada por Ares (afinal, ele é o deus da guerra) e embarca com o Steve para Londres, objetivando matar o vilão (que ela imagina existir), pôr fim ao confronto entre os homens e livrar sua terra da ameaça do vilão.

A realidade vivida por Diana destoa completamente da Londres da Primeira Grande Guerra. A personagem difere das mulheres locais em absolutamente tudo. Postura, trajes, beleza, coragem e, obviamente, força física. No arco mediano do filme, Diana vai para o front de batalha, e são inúmeros os “textões” implicitos e explícitos no roteiro, prestando um serviço muito importante de empoderamento da mulher e oferecendo a este filme um caráter social pulsante.

Gal Gadot, por muitos desacreditada quanto ao seu potencial para encarnar uma das personagens mais emblemáticas dos quadrinhos, mostrou que o frescor de uma new face era de fato aquilo que o filme precisava. A atriz israelense não só imprime contornos bastante pessoais a personagem, como também apresenta um trabalho corporal vigoroso. Fica fácil comprar a ideia de que é ela a executar as cenas de luta e isto certamente é resultado de uma excelente postura cênica. Poucas são as sequências que exigem maior envergadura dramática de Gal. Mas a atriz não decepciona e transparece bastante sensibilidade.

Chris Pine passou aqui em seu teste de fogo. O ator precisava ser um coadjuvante que atuasse como alívio cômico, mas também como interesse amoroso, sem nunca sobrepor o protagonismo da heroína. E é isso que ele consegue fazer. Alguns tons abaixo do vigor de Capitão Kirk, de Star Trek, Pine desenvolve muito bem seu personagem dentro da área delimitada para ele no roteiro. Ser um bom coadjuvante implica em prestar boas assistências para a protagonista e, ao mesmo tempo, se ater a sua própria curva dramática. Ponto muito positivo para o ator e para a direção de elenco.

O terceiro e último ato do longa lembra bastante os filmes anteriores deste universo, dirigidos por Zack Snyder. Existe um uso excessivo de slow motion e um CGI pouco preciso. As duas coisas, separadas, já seriam problemáticas. Juntas, são o coquetel molotov capaz de macular uma produção, até então, acima da média. Por falar em Snyder, ele participa no argumento e, junto de sua mulher, Deborah Snyder, assina a produção executiva do filme.

A direção ficou nas mãos de Patty Jenkins, que já havia nos presenteado com Monster, que rendeu o Oscar de melhor atriz para Charlize Theron. O trabalho de Patty aqui é quase impecável. Algumas sequências poderiam ser verdadeiros desastres se confiadas a mãos pouco habilidosas. Felizmente não é o caso. Falta ainda uma impressão digital da artista. Algo que demarque qual é, afinal, o seu estilo. E isso se evidencia pela maneira como a mão e Snyder parece pesar aqui, sobretudo no design de produção.

Mulher-Maravilha diverte, fornece material para reflexão e ainda brinda os fãs com alguns easter eggs que só eles seriam capazes de captar, como uma cena em que explicam como Diana adotou o sobrenome Prince, entre os humanos. Um filme bélico, heróico e inventivo que apresenta novas faces do feminino para um público que, em sua maioria, ainda precisa pensar muito sobre o assunto. O longa se junta a Logan e Guardiões da Galáxia como as melhores produções do gênero até o momento.

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Marlon Faria
Saideira

Journalist, Planner, Copywriter and Podcaster | Rio de Janeiro - Brazil