A Bela e a Fera conquista o público pela nostalgia, não pela qualidade

Vinicius Machado
SALA SETE
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3 min readApr 4, 2017

Não há dúvidas de que a galinha dos ovos de ouro da Disney no momento é transformar seus clássicos animados em filmes live-action. Alice no País das Maravilhas, Malévola (uma outra visão sobre A Bela Adormecida), Cinderela, Mogli e Meu Amigo, O Dragão renderam, ao todo, aproximadamente 3 bilhões de dólares em bilheterias. Afinal, além de conquistar as crianças, eles também atraem os adultos, que cresceram assistindo a esses clássico animados em suas fitas cassetes. A bola da vez, e talvez a que mais ganhou notoriedade é A Bela e a Fera.

A história todo mundo já conhece: Bela, ao trocar sua liberdade pela do pai no castelo da Fera, conhece objetos mágicos e descobre que a Fera é, na verdade, um príncipe que precisa de amor para voltar à forma humana. A direção é de Bill Condon.

Como já visto nos trailers, a ideia era de reproduzir fielmente aos quadros da animação, mas não é bem assim. Mesmo que alguns diálogos e takes sejam cirurgicamente iguais, o longa possui 45 minutos a mais de duração, que dá uma sustentação maior para o desenvolvimento dos personagens e explicar melhor algumas pontas, como o passado da família de Bela e duas novas canções. Não interfere muita coisa na trama, mas não vá ao cinema esperando uma cópia fiel, ainda bem.

Ainda assim, os fãs mais nostálgicos vão adorar ver as cenas e as ambientações recriadas para a vida real. No entanto, há alguns problema dentro da direção artística que prejudicam a experiência, como o caso do CGI, que em diversos momentos é identificado e parece mais uma animação 3D, inclusive a própria caracterização da Fera em alguns momentos dá essa impressão. É até difícil acreditar que foi a mesma Disney que fez maravilhas com os animais em Mogli. Sendo assim, fica uma certa apreensão para O Rei Leão, provavelmente o próximo a ser lançado.

Resultado de alguns desses problemas é a fraca direção de Condon, principalmente no caso de Emma Watson como Bela. A atriz teve toda a liberdade do mundo para moldar sua personagem, mas isso fez com que ela se tornasse um tanto quanto engessada. Durante as canções, por exemplo, suas expressões são robóticas e pouco eufóricas. Sua ideia de trazer empoderamento da personagem funciona até a página dois, ou melhor, até a cena um, com uma mulher incisiva, mais determinada, mas que depois volta ao convencional e vemos a mesma Bela (ou princesa) de sempre.

Por outro lado, Dan Stevens faz um belo trabalho por baixo da caracterização da Fera. Mesmo por baixo da fraca caracterização em CGI o ator consegue transmitir todas as angústias do personagem. Infelizmente, a transformação da Fera em humano é frustrante. É fato que o personagem só desperta o interesse do público quando é um animal, tanto aqui, quanto no desenho. Ainda falando em computação gráfica, há de se destacar o ótimo trabalho feito no caso dos móveis animados, tanto no visual, quanto na dublagem, carregada por um elenco de peso como Ian McKellen, Ewan McGregor e Emma Thompson.

Os dois grandes destaques são os carismáticos Luke Evans e Josh Gad como Gaston e Le Fou, respectivamente. O primeiro consegue fazer o tipo canastrão em um tom mais caricato do personagem e o segundo é o mais interessante de toda a trama. É em Le Fou que mora o diferencial do filme, colocando alguns conflitos morais em seus atos. Aliás, aquela polêmica toda em volta do preconceito a sua opção sexual não faz sentido algum.

A Bela e a Fera ganha o público muito mais pela nostalgia do que pela sua qualidade. Por mais que Condon se esforce para trazer a magia do clássico da Disney para a vida real, sua direção deixa a desejar, assim como sua montagem, finalização e a atuação de Emma Watson, uma das grandes responsáveis por todo alarde em torno do filme. Infelizmente, a atriz, assim como seu companheiro Daniel Radcliffe, ainda colhem os frutos de serem famosos por um só papel.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.