Capitão Fantástico é um filme que o mundo todo deveria assistir

Vinicius Machado
SALA SETE
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4 min readNov 24, 2016

Todo ano, em meio a blockbusters e filmes de produções gigantescas, surgem alguns filmes menores, mais simples e com pouquíssimo alarde. Vez ou outra, aumentam as divulgações por conta de uma indicação ao Oscar aqui, um Globo de Ouro ali, mas nada que movimente bilheterias. Filmes assim só são vistos por quem vai atrás, tem uma indicação ou assiste por acaso. Exemplo disso estão os clássicos cult Pequena Miss Sunshine e Na Natureza Selvagem, que estão prestes a ganhar um companheiro neste posto.

Trata-se do filme Capitão Fantástico, que estreou nos EUA em julho e por aqui surgiu apenas em festivais locais, mas tem previsão de estreia comercial na segunda semana de dezembro. O filme conta a história de uma família cujo os pais, preocupados a situação do mundo, decidem se isolar no meio de uma floresta. Isolados da vida urbana, eles criam seis filhos, ensinando noções de liberdade e direitos civis, além de técnicas de sobrevivência na selva. A situação da família fica comprometida por conta da morte da mãe, que obriga o pai a criar as crianças sozinho e enfrentar os desafios da vida moderna após deixar a floresta por um período.

Dirigido e escrito por Matt Ross, o filme transita entre a comédia e o drama sem precisar apelar para nenhum dos dois extremos. Há uma linha muito tênue entre estes dois estilos e o diretor sabe muito bem dosar em momentos certos sem deixar que um sobressaia o outro. Há também uma estética interessante, semelhante a filmes independentes. Pode se dizer que há elementos de Wes Anderson junto aos dois filmes que citei no primeiro parágrafo, mas não se engane, o filme não deve ser comparado com nenhum destes.

Logo no início o público já recebe toda a premissa do ponto de vista dos protagonistas. É muito fácil você se identificar e simpatizar com as filosofias de Viggo Mortensen, afinal, sempre surge conversas de como é perigoso ter um filho no mundo atual, diante todos os vícios e todas as crueldades explícitas. Aqui, há uma inocência cativante por parte das crianças, que só conhecem o que lhes é ensinado ou doutrinado pelo pai.

Tudo isso é feito sem a menor intenção de ser pretensioso e o diretor deixa isso bem claro, sem ridicularizar os hábitos da família ou caçoar dos acontecimentos. Os momentos de comédia são pelas peculiaridades mas nunca no sentido ridículo, algo mais como uma admiração ou pela simplicidade com que as coisas são feitas. Conforme a trama se desenvolve, o público vai recebendo todos os argumentos para que ele mesmo tome suas próprias conclusões.

Exemplo disso é o personagem de Frank Langella, que traz toda a carga dramática ao filme junto a Mortensen. São os dois opostos que fazem com que o espectador se emocione, seja pelas cenas em si, ou pelas atitudes dos dois, que defendem seus pontos de vista no modelo de criação dos jovens. Os dois atores são excelentes em seus papéis, mas o grande destaque aqui é definitivamente Viggo Mortensen, que carrega todo o filme com um personagem profundo e muito bem desenvolvido, que transita entre todos os gêneros que o filme propõe.

A segunda metade do filme pode até parecer um tanto quanto exagerada, mas dentro do universo do filme, ela parece ser completamente coerente e cheio de essência. Há uma cena musical próxima ao fim que coroa tudo isso que foi visto e deveria ter encerrado o filme com chave de ouro, mas o diretor optou por dar uma satisfação a seu público. Sem problemas, por aqui.

Leve e cativante, Capitão Fantástico é o típico filme que deve ser assistido por todos os seres humanos. Ele faz com que o espectador se divirta, sorria, chore, tenha raiva e pense muito a respeito de como é o mundo hoje. Um filme que surge silenciosamente e conquista, podendo estar até mesmo entre os melhores de 2016. Dentre tantos enlatados, é lindo saber que ainda existem filmes carregados de essência e alma.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.