Carros 3 é para manter o produto em alta, mas possui discursos interessantes

Vinicius Machado
SALA SETE
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3 min readJul 20, 2017

Carros é, inegavelmente, a franquia mais lucrativa da Pixar. Além de uma bilheteria exorbitante, seus produtos licenciados aparecem nas vitrines de lojas infantis há pelo menos 10 anos, quando seu primeiro filme estreou. Não à toa, surgiu uma sequência anos depois. O segundo filme foi uma lástima. Mesmo assim, a bilheteria foi boa e serviu para manter a chama do capitalismo acesa, aumentando cada vez mais os zeros na conta corrente da produtora e distribuidora (Disney) com seus produtos. Depois de alguns anos, eis que eles decidiram investir num terceiro filme, desta vez para tentar se redimir do fiasco e, claro, deixar o Relâmpago McQueen na mente da criançada.

Carros 3 volta às origens de seu primeiro filme e foca na corrida, como sempre deveria ter sido. Relâmpago McQueen passa a sofrer com o fato de ser um veterano nas corridas ao ver um novato mais veloz ultrapassá-lo por meio da alta tecnologia nos treinamentos. Ao chegar no seu limite para batê-lo, McQueen sofre um sério acidente durante uma corrida, que o obriga a abandonar o campeonato. Com medo da aposentadoria precoce, ele passa a se dedicar totalmente para tentar voltar à velha forma e bater os novatos.

A Pixar ainda sofre muito com suas sequências, com exceção a Toy Story, seus outros filmes não alcançaram uma unanimidade que havia em seus originais, como Procurando Dory e Universidade Monstros. Tanto que a própria produtora anunciou que 2019 seria o fim deste ciclo de continuações, com Os Incríveis 2. Aqui não é diferente. Depois de uma história nada a ver e a ideia bizarra de envolver carros numa trama sobre espionagem (oi?), eles tentaram ao máximo voltar às origens do primeiro filme. Felizmente conseguiram.

O primeiro passo para a melhoria foi o roteiro, que trouxe de volta a essência do primeiro filme e se focou totalmente nas corridas e o ambiente em volta delas. Desta vez, o assunto tratado é mais realista que seus anteriores. Se no primeiro o foco era adquirir humildade e aprender com os erros, este é sobre dar a volta por cima e superar seus próprios limites. Não se assuste se o enredo for parecido com, por exemplo, Rocky IV, quando a velha guarda começa a dar lugar para uma nova geração, cada vez mais preparada.

Uma das coisas mais interessantes do primeiro Carros é o fato dele fazer com que seu protagonista seja seu próprio vilão, o obrigando a vencer a si mesmo para superar as barreiras e a fórmula se repete aqui. Apesar de Jackson Storm ser declaradamente o antagonista do longa, é o próprio McQueen que precisa ter inteligência para superar seus próprios limites e voltar a vencer. A lição pode servir para as crianças, de nunca desistir e sempre se dedicar ao máximo, e também para os adultos, que lidam com situações parecidas com o caso de McQueen. O surgimento de uma nova personagem também ajuda muito quando o assunto é representatividade. A situação em que a personagem se insere também é uma das coisas mais relevantes do filme.

No entanto, é justamente o assunto do filme que pode frustrar um pouco as crianças, pelo menos no seu miolo. As corridas, que mais chamam a atenção, são deixadas de lado para que o protagonista busque recursos para conseguir vencer. Por quase uma hora, há diálogos demais sobre patrocinadores e um apelo emocional a respeito do antigo personagem, Doc Hudson, em uma bela homenagem ao personagem e a seu dublador, o ex-diretor e também piloto, Paul Newman, falecido em 2008. Os pais e os mais velhos vão se identificar em diversos pontos e podem até se emocionar, já as crianças podem se entediar pela ausência de adrenalina das corridas, que tanto movem o filme.

Sim, isso é uma sequência do filme

Carros 3 é, sim, uma tentativa de manter o produto em alta. Mas mesmo assim ele resgata alguns elementos que contribuem na narrativa, seja pelo emocional ou pela essência da franquia, que retorna de vez. Os fãs de corridas vão se deliciar com as sequências exuberantes e quase reais de velocidade em circuito oval e o público comum vai encontrar uma história bonitinha, de superação, com algumas lições e discursos a serem ditos. De qualquer forma, seria bom que se encerrasse por aqui, para que ninguém mais queira enfiar outro elemento num filme de corrida de carros que não seja, veja só, correr.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.