Com ritmo mais acelerado, Inferno traz uma adaptação justa para o cinema

Vinicius Machado
SALA SETE
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4 min readOct 13, 2016

Dan Brown é um escritor conhecido por seus best-sellers e também por sua característica completamente comercial. Seus livros já venderam milhões de exemplares e seus enredos são todos basicamente escritos na intenção de levar a obra para outros formatos, como o cinema. Parece que toda a história é feita no jeitinho para facilitar a vida dos roteiristas.

Sete anos depois de Anjos e Demônios estrear na telonas, mais uma adaptação das aventuras do professor de simbologia, Robert Langdon chega aos cinemas: Inferno. Desta vez, depois de acordar com amnésia em Florença, Itália, Langdon passa o tempo todo fugindo de assassinos ao lado da misteriosa e inteligentíssima dra. Sienna Brooks. Sua única pista para desvendar o mistério sobre como foi parar na Itália é um pequeno projetor que mostra a tela de Botticelli Mappa dell’Inferno, que logo Langdon percebe ter sido adulterado para o levar a uma obra de paranoico que colocou toda a humanidade em perigo e se suicidou.

Ron Howard mais uma vez comanda o longa e tenta dar uma dinâmica diferente ao filme logo no começo, impondo um ritmo frenético e até estonteante por conta de seus jogos de câmera e enquadramento. Porém, este é o elemento que tenta dar o diferencial do filme para os seus dois anteriores. Enquanto O Código Da Vinci e Anjos e Demônios leva um tempo para engrenar, este já se inicia cheio de tensão e a correria frenética rola por quase suas duas horas de duração. São poucos os momentos em que o espectador (ou os personagens) para pra respirar.

Brown produz enredos enlatados, todos com uma estrutura parecida e poucas variações de elementos, deixando as diferenças apenas na temática. Como livro, esta estrutura pode até funcionar bem, mas como filme é praticamente inviável criar uma franquia com elementos iguais, principalmente quando se trata de um mesmo personagem e aventuras parecidas. Por isso, Howard faz o possível para que o filme possua algum item a mais para apresentar ao espectador, já que a riqueza dos detalhes é bem menor do que na literatura. No livro, a exploração de Florença é muito maior, por exemplo.

O diretor, junto ao aclamado roteirista David Koepp, optou por colocar algumas novidades dentro de sua história, como no desfecho, que no livro é um tanto quanto decepcionante e neste apela um pouco mais para o convencional, um final mais adequado ao formato de cinema. É certo que pode parecer um tanto quanto clichê, mas ainda assim foi o mais coerente a se fazer, tendo em vista o público em geral, que poderia se decepcionar. Para os leitores, o quesito de adaptação ainda assim é bom, o roteiro se mantém muito fiel a boa parte do enredo e muitas cenas são facilmente lembradas.

Mesmo assim, certas coisas que incomodam desde o primeiro seguem da mesma maneira, como é o caso de todas as resoluções serem feitas na hora certa e os constantes furos de roteiros. O que acaba atrapalhando também é o excesso de flahsbacks e inserções de sonhos, mas estes são completamente compreensíveis pois também acontecem no livro e diversos momentos atrapalham o andamento da trama.

Um dos grandes pontos positivos da franquia toda são suas características técnicos, todos eles muito bem desenvolvidos. A fotografia, feita por Salvatore Totino desde O Código Da Vinci é incrível e se destaca ainda mais na bela cidade de Florença e todos seus atributos artísticos. A trilha sonora, feita por Hanz Zimmer, apesar de bem discreta, ajuda muito na criação das sequências de tensão e a montagem também impõe um dinamismo melhor, mas que pode prejudicar o espectador comum com tanta informação.

No entanto, o maior problema do filme fica por conta de seu elenco. Tom Hanks e Felicity Jones não convencem como protagonistas e a química entre eles simplesmente não rola (como parceria, sem qualquer envolvimento amoroso, que fique claro). Hanks faz o mesmo papel que faz há anos da forma automática e Jones, por sua vez, não chega nem perto de impor uma boa atuação. Sua Sienna Brooks não funciona e ela parece estar pouco interessada em fazer acontecer, sempre em tom sereno, até mesmo quando o papel exige um pouco mais de sua interpretação. Fica aí minha preocupação com seu trabalho em Rogue One.

Os destaques vão para os personagens pequenos, interpretados por Sidse Babett Knudsen, Irrfan Khan e Omar Osy, que fazem um trabalho bem feito e que dão suporte ao menos para Hanks na interação.

Assim como no livro de Dan Brown, Inferno é um pouco mais acelerado do que seus anteriores, mas ainda assim é mais do mesmo e traz poucos elementos novos para os fãs e espectadores. O diretor Ron Howard faz o que pode para dar um tom atual ao filme e consegue trazer suas próprias características para dentro do filme, uma ótima decisão dos estúdios. Afinal, nada melhor do que dar liberdade a quem conhece o universo da franquia como ninguém e sabe bem as diferenças entre entregar um produto literário e um produto cinematográfico. Nem sempre dá pra ser fiel, ainda bem.

Se quiser ver o que escrevi sobre o livro de Dan Brown, pode clicar aqui :)

EXTRA

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.