Crítica | Licorice Pizza

Vinicius Machado
SALA SETE
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4 min readFeb 10, 2022

Por Raissa Ferreira

O tempo começa como algo relevante em Licorice Pizza, principalmente quando falamos dos anos que já vivemos, mas, aos poucos, vai se tornando insignificante. Se a maioria das pessoas não sabe nada sobre a vida aos 15 anos, elas provavelmente vão saber ainda menos aos 25, afinal, crescer é muito difícil em qualquer idade. Alana (Alana Haim) está nessa faixa dos 20 e poucos anos, tem um emprego que odeia e uma vontade enorme de encontrar alguém que a tire daquela cidade, daquela vida. Gary (Cooper Hoffman) é um estudante de 15 anos, com uma carreira, muitas ambições e a confiança que você não esperaria de alguém tão jovem. O adolescente tem um carisma difícil de ignorar e é assim que ele se aproxima de Alana, e de outras mulheres e meninas em diferentes momentos. Apesar da relutância da jovem adulta em criar qualquer tipo de relação com o garoto, algo entre os dois parece os unir, uma conexão que apesar de apaixonante não precisaria ser romântica para nos encantar.

A impressionante primeira atuação de Alana Haim nos dá uma personagem que é ao mesmo tempo insegura, perdida, mas que também é uma visão grandiosa no filme, já que a olhamos de forma tão apaixonada quanto Gary a vê. Cooper Hoffman não fica para trás e, provavelmente, deixaria seu pai muito orgulhoso (há inclusive uma referência ao papel de Philip Seymour Hoffman em Embriagado de Amor). O longa cria uma atmosfera apaixonante, de um amor jovem, da empolgação de encontrar alguém que nos faz sentir renovados, independente da fase da vida em que estamos. É impossível não sorrir em grande parte do filme graças a essa energia, quase como se ele fosse capaz de resgatar alguma juventude esquecida dentro de nós. Além de ser um dos filmes mais engraçados e divertidos do diretor, é também o que carrega seu romance mais leve e gostoso de assistir.

Paul Thomas Anderson trabalha a diferença entre muitas idades aqui, não só entre Alana e Gary, mas também entre Alana e os diferentes homens que cruzam seu caminho. É uma reflexão sobre maturidade além dos números que carregamos nos documentos. No fim, todos os homens são imaturos, das crianças até os com mais de 60 anos, todos em algum momento se comportam como meninos e acabam tendo atitudes estúpidas. Mas Alana não foge dessa questão também, ela parece estar o tempo todo num limbo da sua própria idade, sem saber se é adulta ou jovem, como se encontrar e seguir um caminho nessa fase de sua vida. Então ela transita por essas gerações, seja com Gary e sua turma de crianças e adolescentes, com homens mais velhos que não se importam tanto assim com ela, como o personagem de Sean Penn, ou com pessoas em sua faixa de idade, como em seu trabalho com o vereador Joel Wachs (Ben Safdie), que também não resulta em boas relações. Nessa busca, Alana também tem atitudes imaturas em certos momentos e se vê muitas vezes sem rumo, sem saber onde se encaixar e cercada de idiotas.

É na relação entre ela e Gary que está o maior encontro, aquele entre duas pessoas que são companheiras, se divertem juntas, que também brigam mas que conseguem partilhar o conforto do silêncio, de apenas estarem uma ao lado da outra, não importa o que aconteça. Os dois parecem estar sempre atraindo um ao outro, mesmo quando estão distantes. É tudo sobre encontrar alguém, essa pessoa pra quem corremos quando tudo parece estar errado.

Independente do que acontece no final, do tipo de relação que PTA quis construir aqui (e ele nos faz até torcer por ela), esse encontro, esse amor, pode vir em várias formas e sentidos e qualquer julgamento sobre a diferença de idade dos dois fica totalmente de fora quando você se entrega para essa história.

Enquanto Alana procura uma conexão, pulando de encontro em encontro com outros homens, ela se frustra muitas vezes e corre, corre muito, sempre na direção de Gary. Assim como todos nós encontramos pessoas ao longo da vida, algumas no momento certo e outras no mais errado possível, nos decepcionamos, nos desencontramos. E, talvez, quando chegar o momento em que vamos nos cansar de tanto correr, podemos dar a sorte de encontrarmos o que procuramos, como esses dois conseguiram.

Colaboração: Raissa Ferreira é apaixonada por cinema desde sempre, trabalhando com marketing para pagar as contas e assistindo a filmes para viver. Dou palpite no Letterboxd sobre o que assisto e tento refletir sobre as representações femininas em tudo que consumo.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.