Simples e ágil, O Homem nas Trevas é um dos filmes mais interessantes do ano

Vinicius Machado
SALA SETE
Published in
4 min readSep 21, 2016

No ano de 2013, com Sam Raimi na produção, o lançamento do remake de A Morte do Demônio marcava não só o renascimento de uma franquia trash dos anos 80 como também a estreia do diretor uruguaio Fede Alvarez à frente de um longa-metragem. O filme teve uma boa recepção e eu disse aqui que o diretor sabia muito bem como explorar os elementos do terror e também dar uma dinâmica própria ao filme, se desprendendo um pouco do que são os clássicos. Ali surgia um diretor com um potencial enorme.

Três anos depois, novamente sob o olhar do produtor Raimi, Alvarez retorna às telonas com um filme para chamar de seu, onde ele dirige, produz e escreve: O Homem nas Trevas.

Na trama, três ladrões de casas decidem roubar a casa de um velho ex-militar cego, que acabou de ganhar um indenização milionária. Porém, o grupo percebe que está lidando com um homem perigoso e que esconde diversos segredos em sua casa, localizada em um bairro praticamente fantasma de Detroit.

Aparentemente o diretor parece fazer o caminho contrário dos diretores convencionais. Enquanto muitos deslumbram com a oportunidade de usar efeitos e mais efeitos especiais, ele parece gostar do simples. Seu curta, Ataque de Pânico, é megalomaníaco e com muito efeito especial, já A Morte do Demônio conta com truques de ilusionismo para as cenas mais sangrentas. No caso de O Homem nas Trevas, o foco é total no jogo de câmeras, com uma paleta escura e relações humanas, sem muita firula.

Um dos grandes acertos do filme é sua objetividade de acordo com sua proposta. Em menos de dez minutos já está estabelecido o perfil de cada um dos protagonistas e suas motivações. A partir daí, a proposta é colocada na mesa e o jogo psicológico do enredo começa.

Alvarez vem de uma escola de terror tradicional, que utiliza muito mais o psicológico na hora de impressionar. Ele havia tentado isso em A Morte do Demônio, mas o foco maior ali era o gore, também muito bem executado. Neste novo filme, ele possui uma liberdade que lhe permite fazer jogos de terror psicológico mais desenvolvidos. Durante seus 90 minutos, a tensão é enorme e não deixa o espectador respirar por muito tempo.

O nome inicial do filme, em inglês, era A Man In the Dark, e foi bem traduzido para o titulo nacional. Porém, o título foi alterado para Don’t Breath, que combina muito mais com o contexto e já deixa o público agoniado logo de cara. O nome nacional se manteve.

O trabalho das cenas é muito bem desenvolvido em um ambiente escuro e que prejudica também a visão de quem está assistindo. O silêncio e a trilha bem discreta no filme potencializa o fato de qualquer barulho pode colocar tudo por água abaixo para os personagens. Fato interessante é que as lentes usadas por Stephen Lang dificultavam, de fato, a visão do ator, o que ajuda na hora de tornar a deficiência real dentro do filme.

Outro ponto interessante no filme está em seu roteiro. Apesar de objetivo e simples, a trama conta com algumas pequenas reviravoltas e brinca com os valores do público, onde cada um pode ter uma interpretação diferente sobre para quem torcer. No primeiro ato, os conceitos sobre a vítima parece estar estabelecida, mas ao decorrer do filme, o espectador percebe que não é bem assim e que nessa história pode não ter mocinho nenhum.

O elenco também contribui bastante com um trabalho muito bem feito. Jane Levy e Dylan Minnette se destacam no lado dos ladrões, mas é Stephen Lang que carrega o filme, onde é muito bem dirigido e se faz exaltar seu vigor físico, junto a uma voz que, apesar de poucas falas, faz o público se intimidar a cada frase dita.

Ágil, claustrofóbico e agoniante, O Homem nas Trevas é um dos filmes mais interessantes de 2016 e só comprova que Fede Alvarez tende a crescer muito dentro do gênero. É verdade que ele não trouxe nada de inovador, mas sua habilidade em explorar os elementos básicos impressiona junto com sua versatilidade na hora de colocá-los em prática. A cada ano que passa, ver bons filmes de terror/suspense se sobressaindo aos blockbusters é um grande alívio. O gênero respira e agradece, seus fãs também.

EXTRA

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.