Logan é um filme bom pra caralho!

Vinicius Machado
SALA SETE
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5 min readMar 3, 2017

Primeiramente, desculpe o palavrão, eu não sou lá uma ótima pessoa para criar títulos (deve dar pra perceber), mas desde que eu saí do cinema eu estou com essa na cabeça e não consigo imaginar outro título que não esse. Aliás, eu até queria escrever apenas isso no texto, repetidas vezes. Acho que seria o suficiente. Mas não desistam de mim, sério.

A verdade é que há muito tempo eu não saia de um cinema tão extasiado com um filme de super-herói. O último foi O Cavaleiro das Trevas. A sensação que tive na época era de que eu não precisava ver mais nenhum Coringa nos cinemas, a versão definitiva estava ali. O mesmo vale para Logan e Wolverine. Talvez um dos maiores desejos dos fãs de quadrinhos era poder vê-lo na sua forma mais fiel, coisa que em dois filmes solo não aconteceu. Finalmente o público pode abraçar a franquia e se despedir do personagem (tomara) de uma forma digna.

Logan é o último filme do carcaju nas telonas, ou pelos menos o último interpretado por Hugh Jackman. A inspiração para o filme foi a HQ “O Velho Logan”, mas não se engane, as histórias são completamente diferentes. Em 2029, Logan está Visivelmente esgotado emocionalmente e fisicamente. Longe de seus dias de glória ao lado dos X-Men, ele ganha a vida como chofer, para cuidar de um Charles Xavier doente e tendo que lidar com um grupo corporativo, que está em busca de Laura Kinney, ou X-23.

Logo na primeira cena já dá pra perceber que finalmente temos o verdadeiro carcaju em cena. Alguns caras tentado levar as peças de seu carro e, ele, muito relutante em iniciar uma confusão, acaba cedendo. É braço cortado pra cá, cabeça perfurada pra lá e tudo o que se tem direito quando falamos do Wolverine. As sequências de ação, inclusive, são uma atração à parte. Frutos de uma direção excelente de James Mangold, que coloca o filme com os pés no chão, sem precisar de muitos efeitos, explosões ou megalomanias. Os combates são, em sua maioria, corporais e sangrentos, que trazem a essência do herói.

Mas se engana quem acha que o filme é só ação desenfreada. Não é. Nele há muito mais profundidade do que se pode imaginar junto a uma mistura de influencias e gêneros, que vai de um road movie até chegar em um western (vi muito do Eastwood no personagem), sempre mantendo construção do drama, sem exageros. Há um verdadeiro equilíbrio entre a sensibilidade e a rigidez, que talvez seja o grande ponto do filme. A decadência do personagem é retratada de forma dura e seca, que dá até uma certa agonia.

A direção de Mangold é cirúrgica. Em seu melhor trabalho na carreira (fez também Johny & June e Os Indomáveis), além dele conseguiu extrair toda a essência que faltava do herói nas telonas, ele consegue também criar um desenvolvimento jamais visto do herói. Arrisco-me a dizer que nem nos quadrinhos há tamanha profundidade. E o mais impressionante é que há tons de realidade ali, marcados pelo cansaço e pela culpa que todos os personagens carregam.

Hugh Jackman definitivamente tem sua melhor atuação na carreira. O ator australiano consegue passar tudo o que foi citado com maestria. Suas expressões e sua fisicalidade potencializam todo o sofrimento de Logan. É incrível como ele conseguiu incorporar o personagem por tanto tempo. Sua despedida é feita com chave de ouro.

Mesmo assim, Mangold é esperto. Contar apenas como Jackman poderia ser arriscado. Por isso, traz Patrick Stewart de volta à pele de Xavier, desta vez muito debilitado. Ele faz também uma de suas grandes atuações na carreira e consegue dar o apoio de coadjuvante com perfeição. Por mais que deixem soltas algumas informações do que aconteceu com o restante dos X-Men (e isso é genial), é possível perceber que o personagem carrega uma certa culpa por isso, o que fica explícito em seus olhares. Seu entrosamento com Jackman é um grande diferencial, que consegue transmitir tanto a melancolia de um homem cuidando de um idoso debilitado, quanto a relação de amizade entre os dois, que rende até alguns takes cômicos.

Ainda que haja estes dois gigantes em cena, é Dafne Keen, no papel da X-23, que consegue roubar a cena. A menina é uma verdadeira atração e consegue segurar nas costas tudo o que acontece no filme. As cenas de ação da garotinha são um deleite para os fãs. No entanto, suas melhores participações são enquanto ela está muda. Seu afeto por Logan cresce gradativamente dessa maneira, com um certo mistério (tem até um quê do game The Last of Us). Quando ela começa a falar, parece que perde um pouco da graça, mas nada que atrapalhe. A menina é sensacional, acredite.

Pesado, melancólico, visceral e pé no chão, Logan é um dos melhores filmes de heróis de todos os tempos. Se é que pode ser chamado assim. E sim, pode ser comparado diretamente com O Cavaleiro das Trevas. Muito mais do que ter trazido o verdadeiro Wolverine para as telonas, algo que os fãs precisavam, ele funciona como um filme maduro, sobre solidão, culpa, e responsabilidades. Além de nos mostrar até com um olhar otimista de que ciclos se iniciam e chegam ao seu fim, sem mais, nem menos e é essa nossa trilha (e a dos filmes, se é que você me entende). Depois de 17 anos no papel, Hugh Jackman deu seu adeus de uma forma tão incrível, que é difícil de acreditar que precisou dois filmes ruins para um bom acontecer.

Ah, não tem cenas pós-créditos. Ainda bem. :)

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.