Me Chame Pelo Seu Nome é uma paulada sobre amadurecimento emocional

Vinicius Machado
SALA SETE
Published in
3 min readMar 21, 2018

A Itália é um dos países mais fascinantes que existem quando o assunto é romance. Além de suas belezas naturais, história, culinária, existe uma aura romântica que cerca suas cidades e casas. Não à toa, muitos filmes utilizam o país da bota como cenário para grandes histórias, como é o caso de Me Chame Pelo seu Nome, de Luca Guadagnino.

Inspirado no livro homônimo de André Aciman, o filme conta a história de Elio (Timothée Chalamet), que passa mais um verão na casa de seus pais na Itália. No entanto, tudo muda quando ele conhece Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.

Resumir o filme como um filme gay é tratar o filme com injustiça. Embora haja uma relação homoafetiva entre os personagens, em nenhum momento ele soa como um levantamento de bandeira muito menos acontece num cenário de opressão. Pelo contrário, ele se baseia no sentimento entre duas pessoas e somente entre elas, nunca para as pessoas em sua volta, e é exatamente isso que faz o filme ser um romance tão bem feito e cativante.

Guadagnino, ao lado de James Ivory, opta por criar uma narrativa gradativa, que vai se intensificando ao longo do tempo em uma verdadeira montanha russa de sensações. O processo da relação entre Elio e Oliver é natural e jamais apela para um sentimentalismo barato. Há uma certa lentidão nesse processo de aproximação entre os dois e mesmo assim ele se mantém regular durante suas duas horas, o que pode até fazer com que alguns torçam o nariz pela falta de ritmo.

Mesmo assim, tudo é orquestrado para que o público digira os acontecimentos, encontrando os sinais e identifique todas as particularidades dos personagens. As formas de toque, de olhar, de falar, tudo é muito detalhado e, embora o espectador já saiba para onde aquilo vai caminhar, há um certo incômodo dentro disso tudo, é como ficar dentro da cabeça de Elio e sentir suas dores e todos os seus conflitos.

A maioria das pessoas provavelmente se lembram de seu primeiro amor, de suas descobertas da idade, daquele amor impossível ou até mesmo um amor de verão que deixou marcas. Quem já passou por isso vai se identificar com toda a desordem emocional por conta do amadurecimento. Tudo é muito novo para o garoto e isso começa a pesar em suas ações, principalmente por conta das reações de Oliver.

Michael Suhlbarg, num dos diálogos mais bonitos dos últimos anos

Armie Hammer e Timothée Chalamet conseguem transmitir toda essa química entre o casal, mas é o garoto de 22 anos que se destaca no meio de tudo isso. Uma atuação melancólica e totalmente introspectiva, onde mesmo sem verbalizar os sentimentos, faz com que o público sinta e entenda todas as angústias.

No meio de tudo isso, ainda nos deparamos com um dos monólogos mais intensos dos últimos anos, feito pelo pai de Elio, interpretado por Michael Stuhlbarg. Num mundo onde personagens gays normalmente sofrem preconceito de alguma forma, este surge como um grito de otimismo e esperança pelo fim do preconceito e de novas formas de enxergar a sexualidade das pessoas.

Sob um cenário italiano maravilhoso, Me Chame Pelo Seu Nome é um grande filme sobre amadurecimento emocional e sobre como devemos encarar nossos próprios conflitos. Ao lado de uma grande trilha sonora (Mystery of Love, do cantor americano Sufjan Stevens é maravilhosa), temos atuações maravilhosas, um show de roteiro e, mesmo sem querer, um passo gigante na quebra do preconceito.

Se você gostou do texto, clica ali nos aplausos quantas vezes quiser ❤.
Não deixe de curtir nossa página do
Facebook e seguir no Twitter.

--

--

Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.