Moana - Um Mar de Aventuras é mais uma prova da preocupação da Disney com as novas gerações

Vinicius Machado
SALA SETE
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4 min readJan 12, 2017

John Musker e Ron Clements são dois peixes grandes dentro da Walt Disney Animation Studios. A parceria dos dois rendeu três clássicos da animação: A Pequena Sereia, Alladin e Hércules. Além de terem iniciado uma fase do estúdio que levanta discussões a respeito da representatividade e produções não tão convencionais, com A Princesa e o Sapo. O mais novo fruto desta parceria também marca a primeira vez dos dois diretores à frente de uma animação feita totalmente por computador.

Moana — Um Mar de Aventuras conta a história de Moana Waialiki, uma corajosa jovem, filha do chefe de uma tribo na Polinésia, que tem o sonho de conhecer o mar além dos recifes. Na intenção de ajudar seu pai em uma crise na Ilha que vive, ela parte, acompanhada pelo lendário semideus Maui, numa jornada para conseguir trazer de volta aquilo que seus ancestrais prezavam.

Desde o citado A Princesa e o Sapo, a Disney procura trazer algum tipo de discussão em suas animações. Enquanto Frozen traz uma temática familiar em um conto de fadas e Zootopia trata o preconceito com metáforas a animais, Moana da mais um passo em direção a filmes que trazem novos conceitos. Principalmente para as crianças.

A começar pelo fato da personagem ser totalmente o oposto do que as princesas são. Aliás, isso é algo que o próprio filme ironiza. Moana é corajosa, independente, não usa um vestido convencional, não busca por um príncipe encantado e não tem traços dessas princesas ao estilo Disney. Pelo contrário, seu corpo é totalmente moldado de uma maneira realista (principalmente os cabelos) para que ela parecesse realmente capaz de enfrentar um oceano, e ela é, meu amigo.

“Se você usa um vestido e tem um bichinho, então você é uma princesa”, diz Maui em um dos bons diálogos do filme.

Outro sinal de mudança é que o semi-deus Maui, nada mais é que um ajudante da protagonista. Aliás, a relação entre os dois é um dos grandes pontos do filme. Ambos são extremamente carismáticos e possuem bons momentos dramáticos e bons momentos de comédia, muitos com a ajuda das tatuagens de Maui, da água e do galo Huehue, três elementos que constroem os alívios cômicos e também contribuem para a narrativa, principalmente a tatuagem e a água do oceano, esse muito bem desenvolvido e que traz bastante profundidade (sem a intenção do trocadilho).

A trama em si pode até parecer um tanto convencional para os padrões, mas ainda assim consegue apresentar alguns aspectos interessantes, como é o caso do aprofundamento do cultura Polinésia, o misticismo, a proximidade da família e até mesmo os vilões do filme, alguns divertidos, outros nem tanto, mas que trazem algumas mensagens interessantes.

A produção da animação é outro deleite, onde temos um oceano praticamente real e movimentações de câmera muito ágeis. Não fosse a modelagem dos personagens, seria possível até esquecer que o que está sendo assistido é uma animação, de tão madura e bem feita.

Ainda assim, há espaço para as canções tornarem a experiência do filme ainda mais espetacular. Normalmente vemos os musicais convencionais no cinema com os personagens dedicados somente ao número, parando tudo aquilo que eles estão fazendo. Aqui não, com exceção da primeira canção, todas elas fazem parte do enredo e coroam os momentos de cada personagem. Não por menos, o compositor e produtor das músicas é Lin-Manuel Miranda, responsável por escrever os musicais Hamilton e In The Heights, da Broadway. Por isso, é absolutamente possível se sentir em um verdadeiro musical de lá. Como é o caso de "Shiny", cantada por um dos vilões do filme.

Veja o vídeo só se viu o filme, porque né.

No caso das animações durante as canções, podemos até ver algumas referências de filmes anteriores dos dois diretores, como “You’re Welcome” cantada por Maui, que lembra muito a estética de Hércules e um pouco do comportamento do Gênio, de Alladin. Aliás, as tatuagens de Maui também remetem aos desenhos de Hércules.

Moana, no fim de tudo, é um verdadeiro deleite visual e sonoro. É um filme bonito, divertido e que entrega muita alegria ao espectador, seja ele adulto ou criança. Com o adicional das mensagens transmitidas e quebra de alguns paradigmas que a Disney já estava disposta a quebrar. A mudança no conceito global é algo construído por gerações, e a Casa do Mickey sabe isso. Melhor para nós e para nossas crianças.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.