Novo Bruxa de Blair evidencia o desgaste do gênero criado pela própria franquia

Vinicius Machado
SALA SETE
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3 min readSep 22, 2016

A Bruxa de Blair, de 1999, foi um verdadeiro marco no cinema. Além de ter sido praticamente o pioneiro do gênero de found footage (câmera de mão), ele também foi um dos primeiros grandes cases de sucesso em marketing viral. Para divulgar o filme, foi criado um site com imagens de uma expedição em busca da tal Bruxa de Blair. O resultado foi uma bilheteria exorbitante de US$ 250 milhões à frente de um orçamento de menos de US$ 100 mil e uma sequência horrorosa no ano seguinte.

Dezesseis anos depois, durante a San Diego Comic-Con, a Lionsgate anunciou que um suposto filme que seria exibido lá, intitulado de The Woods, era apenas um nome provisório para a sequência de A Bruxa de Blair. O público foi à loucura e com razão, já que o trailer parecia trazer de volta o gênero que consagrou o primeiro. Uma pena, no entanto, que isso ficou só no trailer.

Bruxa de Blair se passa anos depois do primeiro longa, quando o irmão de Heather assiste a uma gravação que pode ser sua irmã, depois de seu misterioso desaparecimento na floresta. O garoto então reúne alguns amigos e parte para a floresta em busca do paradeiro da garota.

Um dos maiores problemas do filme é sua insistência em querer parecer com o primeiro filme. A todo momento ele tenta usar o mesmo roteiro e os mesmos acontecimentos do primeiro só que de maneira ruim, ensaiada e superficial. Foi uma boa sacada dizer que este era uma sequência e não uma refilmagem, a vergonha é menor (ou não).

O formato é o mesmo found footage que todos conhecem. A diferença agora é que a tecnologia permite os personagens de manusearem outras câmeras mais atuais, como drones e outras câmeras menores, que podem ser usadas como desculpa na hora de deixar os enquadramentos mais estabilizados. Sim, aqui a impressão de um filme amador passa longe em diversos momentos.

Além das sequências parecerem superficiais, o filme também esquece de um fator importante dentro do gênero de câmeras de mão que é a saturação. Desde de 99 são lançados inúmeros filmes de temáticas diferentes e hoje já não é novidade nenhuma. Além disso, o público, pelo excesso do formato, dificilmente imerge na experiência de estar vendo algo amador, simplesmente porque ele sabe que não é e o filme não ajuda nem um pouco.

Outro problema que filmes de terror enfrentam é sua mesmice em criar situações que amedrontam. Neste, os jump scares, apesar de conter alguns bons, são usados em excesso e cansam. A intenção de um filme nunca pode ser assustar por assustar e é isso que acontece. Em nenhum momento a tensão de se estar perdido numa floresta assusta, mesmo sabendo que pode haver alguma entidade nela.

O diretor Adam Wingard tenta impor seu ritmo e um clima pesado, como em seus anteriores (Você é o Próximo, VHS) e ate consegue em alguns pontos, mas acaba tendo como retorno um filme em que os atores mais gritam do que desenvolvem suas feições. Não há empatia nenhuma e há uma correria desenfreada sem nexo algum.

Não contente, o roteiro ainda entra numas de viagens no tempo, sumiços de casas e aparições de criaturas sobrenaturais em CGI (!!!), o que faz aquele conceito de uma câmera na mão em busca de um mito e deixando a interpretação de existe ou não a tal bruxa cair por terra.

Sem cumprir o que promete no seu trailer, Bruxa de Blair coloca em evidência a exaustão do subgênero found footage e foge completamente do que é, de fato, Bruxa de Blair. Coincidentemente, se o primeiro filme foi o grande responsável por abrir a porteira para filmes desse formato, o último (assim espero) é o filme que marca a queda deles. Resta torcer para que nunca mais achem nenhuma fita sobre os acontecimentos na floresta de Burkittsville.

EXTRA

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.