O dia em que a Marvel errou

Vinicius Machado
SALA SETE
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6 min readAug 24, 2017

Desde 2008, ano de lançamento do primeiro Homem de Ferro, há uma discussão em torno de todos os filmes da Marvel. Nos debates, existem aqueles que gostam do tom mais familiar e colorido, assim como também há pessoas que detestam esbarrar em uma piada a cada cinco minutos, mesmo que o clima esteja pesado e as situações pouco propícias para isso. A discussão ganhou ainda mais corpo depois que a concorrente DC resolveu apostar num tom mais sombrio, com poucas piadas e e clima escuro nas suas produções.

De qualquer forma, enquanto a DC sofre para equilibrar seus filmes e achar uma tonalidade que agrade gregos e troianos, a fórmula da Marvel nos cinemas está gravada na cabeça de todos os seus espectadores. Não importa qual seja a produção, é possível identificar um filme da Casa das Ideias de longe e, gostando ou não, é uma fórmula consolidada e que dá certo. Os filmes rendem uma bilheteria absurda e ainda contam com uma movimentação comercial gigantesca, que envolvem redes sociais, sites especializados e produtos licenciados.

E para expandir esse universo ainda mais, em 2013, a Marvel fez uma parceria com a Netflix com o objetivo de colocar mais heróis dentro deste universo, que no caso eram Demolidor, Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. A ideia era começar da mesma forma que começaram os filmes: Uma série de cada herói para depois uni-los em um projeto maior, nesse caso Os Defensores.

Ao contrário do que acontece nos cinemas, e talvez para evitar uma saturação ainda maior, a estratégia era colocar esse heróis urbanos em produções mais intimistas. Por obter um orçamento mais limitado, ao invés de trazer heróis fantasiados lutando contra uma ameaça megalomaníaca, o que demandaria efeitos especiais e uma produção mais cara, o foco passou a ser os diálogos e os conflitos internos de cada um desses heróis. Sendo assim, na primeira série lançada, o Demolidor ganhou camadas nunca antes vista nas telas (porque o do Ben Affleck, né) em uma série que abordava culpa e um dilema interno entre a violência e religião. O resultado foi um sucesso, tanto de crítica, quanto de público.

Essa cena ❤

Depois disso, veio Jessica Jones e, junto com ela, vieram as primeiras dificuldades. Com uma trama bem amarrada, que abordava relacionamento abusivo e alcoolismo, a série sofreu com um problema crônico de ritmo, o que fez com que o público, mesmo vendo Killgrave, um dos melhores vilões das produções Marvel, se dividisse em opiniões. Ainda assim, as opiniões positivas eram maiores que as negativas. O mesmo aconteceu com Luke Cage.

Mas o que agravou a situação foi Punho de Ferro que, além de possuir os mesmos problemas de ritmo, ainda sofre com a falta de carisma do ator Finn Jones, problemas de roteiro, lutas mal coreografadas e tudo que se tem direito. Pela primeira vez em anos, a Marvel precisou lidar com as críticas negativas e, consequentemente, com sua primeira crise em um projeto. Aquilo que parecia ser uma fórmula de sucesso, se tornou uma fórmula irregular.

E aí chegamos em Defensores

Alguns meses depois do lançamento de Punho de Ferro, eis que chegou aquele que deveria ser o grande ápice, o evento final e a grande reunião dos heróis da TV, ao maior estilo Os Vingadores quando chegou no cinema e encerrou a primeira fase do MCU. Essa seria a grande chance dos produtores consertarem tudo aquilo que deu errado anteriormente e dar a volta por cima.

Não foi o que aconteceu.

Por ter sido terminada justamente no mês em que Punho de Ferro foi lançado, muito provavelmente o staff da produção não estava esperando uma repercussão tão negativa e manteve aquilo que eles julgavam estar dando certo.

Em resumo da história, mais uma vez O Tentáculo tenta colocar um plano em prática, desta vez para acabar de vez com Nova Iorque e manter aquilo que eles sempre buscaram: A imortalidade.

Mesmo com oito episódios, a série sofre com problemas de ritmo e se arrasta por muito tempo. Para se ter uma ideia, a junção dos heróis acontece apenas no final do terceiro episódio. Antes disso, há toda uma preparação para que eles, de maneira coerente, se encontrem. Os dois primeiros episódios, com exceção de um diálogo ou outro, se arrastam e forçam os olhos, já que há uma mania incessante dos diretores em manter a tonalidade e a paleta de cores em cada aparição de cada personagem.

A partir do momento em que a reunião acontece, as coisas melhoram, de fato, mas isso não quer dizer que a série engrena. Apesar de funcionar em alguns bons diálogos e boas interações entre os heróis, as sequências de ação continuam sendo um problema, principalmente as em que o Punho de Ferro aparece, esse o personagem mais problemático dos quatro. Com o problema de atuação de Finn Jones somado à deficiência das coreografias, fica difícil acreditar que seu soco é realmente forte. Sem contar que quando seu punho acende, ele utiliza a outra mão para acertar o oponente. Não me pergunte o porquê.

BLA BLA BLA (ele repete isso a cada 5 minutos)

Luke Cage (Mike Colter), por sua vez, não apresenta nada de novo a não ser um bom diálogo sobre méritos e conquistas com o Punho de Ferro no segundo episódio. Aqui, até mesmo o Demolidor (Charlie Cox) tem seu arco prejudicado por algumas questões internas de Matt Murdock, que o tornam de certa forma pedante e pouco inspirado. Com certeza, resta a Jessica Jones levar alguns diálogos nas costas, desta vez mais solta do que em sua série, onde ela sofria com os fantasmas de seu passado. Aqui, a personagem de Kyrsten Ritter volta às origens com sarcasmo e humor negro da personagem. Claro, que suas sequências de luta também não vão bem e parece que a atriz está brincando de lutinha com seus oponentes.

No entanto, um dos maiores problemas da série são seus vilões, que em momento algum demonstram ter um objetivo concreto, ou pelo menos não dá para entender. Sigourney Weaver, a grande vilã, até demonstra ser ameaçadora, mas o público não recebe amostras disso em nenhum dos oito episódios. Resta, então, para Elektra (Elódie Young) fazer o trabalho sujo e apresentar algum tipo de ameaça concreta aos heróis. O que pode se dizer um tanto quanto impressionante, já que a personagem, ressuscitada como Céu Negro, consegue derrubar até mesmo Luke Cage, mas sofre horrores para imobilizar o Demolidor.

Jessica Jones tá nessa série do mesmo jeito que a gente tá assistindo ela

Se há um lado positivo em Os Defensores, é que é um passatempo e seus acontecimentos servem para desenvolver melhor os personagens e deixá-los mais calejados para suas próximas temporadas solo. É pouco? Para uma série-evento feita pela Marvel, MUITO POUCO, mas ainda assim pode ser considerado um prêmio de consolação. Pela primeira vez, é possível dizer não só que a Marvel errou, como ela também tem o desafio de não fazer o público perder o interesse nas próximas temporadas que estão por vir.

Talvez seja o momento de repensar na sua estratégia de produto e numa reinvenção de fórmula para TV. Pode até ser que Justiceiro, que não tem data para ser lançada, apareça como uma sobrevida. Mas mesmo assim, reavaliar-se também é sinal de grandeza, reconhecer o erro também.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.