O Lar das Crianças Peculiares

Vinicius Machado
SALA SETE
Published in
4 min readOct 6, 2016

O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares é um romance de 2011, escrito por Ransom Riggs. O livro contém fotografias antigas reais, que guiam o leitor dentro trama e logo virou um sucesso entre o público jovem adulto. Não demorou muito para que os grandes estúdios se voltassem para a obra e, no mesmo ano de lançamento, a 2oth Century Fox adquiriu os direitos para levar o romance às telonas. Alguns meses depois, Tim Burton foi confirmado na direção do filme.

Estreado na última quinta (29), O Lar das Crianças Peculiares conta a mesma história do livro, com a ressalva de que o filme termina como uma edição só, e não uma trilogia como no meio literário. Ele conta a história de Jacob (Asa Butterfield) que, depois de uma tragédia com seu avô, decide viajar até uma pequena ilha no País de Gales para desvendar alguns mistérios contados por ele, que dizia ter morado em um orfanato com crianças de dons especiais.

O filme já teve polêmica logo quando os trailers foram lançados, em que os fãs perceberam logo de cara que os dotes de dois personagens (um deles principal) se inverteram. Depois da estreia, os leitores se dividiram no apoio às mudanças do filme em relação à adaptação.

Sim, o longa conta com inúmeras alterações não só nos personagens, quanto também na estrutura da história. Mas é preciso ressaltar que Jane Goldman faz um trabalho excelente na construção do roteiro, com uma adaptação de acordo com o formato. É chover no molhado dizer que cada mídia possui sua linguagem própria e muitas vezes, alterações são necessárias.

A escolha do diretor foi uma das melhores decisões do estúdio. Ao ler O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares com as fotos e todo o clima gótico do enredo, é praticamente impossível não pensar em Tim Burton dirigindo o filme. No entanto, é bem verdade que os últimos projetos do diretor ficaram aquém do esperado.

Desde 2007, com o musical Sweeney Todd, Burton não apresenta um trabalho com atores de maneira convincente. Alice no País das Maravilhas, Sombras da Noite e Grandes Olhos, apesar de terem suas características explicitas, não reproduzem todo o talento que o diretor já mostrou ter.

Neste novo filme, o diretor volta a fazer um filme digno de sua carreira e traz todos os elementos que justificaram isso ao longo dos anos. O diretor entendeu a essência do filme e trouxe seus próprios tons a ele. Inclusive, sua opção por utilizar mais recurso técnico do que digital prova sua vontade de dar um bom resultado ao público. Acredite, tem até stop-motion.

E mesmo que esses traços estejam evidentes, eles são discretos. Burton deixa seu ego um pouco de lado e deixa o longa correr sem exageros a não ser por uma cena de combate, muito bem feita e pra lá de bizarra, daquelas que o público bate o olho e pense “Sim, isso é Tim Burton”. Vale ressaltar que o fato de Johnny Depp e Helena Bonhan-Carter não integrarem o elenco (ufa!) também ajudam no frescor do trabalho dele.

Porém, um dos maiores problemas está exatamente no elenco. Asa Butterfield, por exemplo, não engrena como Jake e parece estar no piloto automático com uma atuação de poucas expressões, principalmente na hora em que ele conhece as tais crianças peculiares. Outra falha (e essa pode colocar na conta de Burton e Goldman) é a relação pouco aproveitada entre Jake e seu avô. O livro é praticamente estruturado por meio desta relação e no filme tudo é muito corrido e feito de forma superficial. Se o problema era tempo, que dessem uma diminuída em outros pontos. Neste, a fidelidade era imprescindível.

Ella Purnell, por sua vez, é quem tenta colocar algum tipo de expressão no casal protagonista, mas por mais que ela se esforce, a química simplesmente não funciona. Os destaques vão para Eva Green que mesmo mal aproveita se destaca com olhares e expressões e Samuel L. Jackson, que faz um vilão (inventado pelo próprio Burton para poder trabalhar com o ator) bem interessante e um tanto quanto bem humorado.

Seguindo uma linha tênue entre a fantasia infantil e o horror, O Lar das Crianças Peculiares funciona tanto como filme, quanto uma adaptação, mas ainda assim pode sofrer um pouco do preconceito com os fãs mais fervorosos. Este pode não ser o melhor de Tim Burton, mas depois de anos vendo alguns fiascos, pode ter certeza de que qualquer luz no fim do túnel é um bom sinal. Que continue assim.

EXTRA

Já viram o vídeo sobre a nova série da Netflix, The Get Down? Não se esqueça também de se inscrever no canal e curtir nossa fanpage o/

--

--

Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.