Quando as Luzes se Apagam tinha tudo para ser tão bom quanto o curta. Tinha

Vinicius Machado
SALA SETE
Published in
3 min readAug 20, 2016

Em 2013, um curta metragem conquistou os fãs do terror. Lights Out tem dois minutos e alguns segundos de duração, o suficiente para deixar diversos espectadores amedrontados com o mais clássico elemento do medo, o escuro. No curta, uma mulher, sozinha em casa, está prestes a dormir quando percebe que uma entidade assustadora se materializa toda vez que a luz é apagada. Uma produção interessante, de baixo custo e que, além de render algumas indicações a prêmios, chamou a atenção de Hollywood.

Veja o curta. Assustador, não?

James Wan, o maior nome do terror da atualidade, resolveu produzir o filme junto à distribuição ambiciosa da Warner e chamou o próprio diretor do curta para assinar o longa, David F. Sandberg. A história mantém a mesma premissa do curta, mas expande o núcleo de personagens. Preocupados com a saúde mental da mãe, dois irmãos passam a observá-la e descobrem que ela nutre uma amizade com uma entidade que aparece apenas na escuridão.

Um dos maiores erros da produção de Wan é não dar liberdade a Sandberg no roteiro, deixando a função a cargo de Eric Heisserer (Premonição 5 e o remake de A Hora do pesadelo). O diretor faz de tudo para impor uma dinâmica parecida com o do curta, mas enfrenta um roteiro absolutamente capenga e preguiçoso. Se as sequências assustadoras se conduzem de maneira interessante, como a exploração do escuro e das diversas luzes que salvam os protagonistas, as conclusões e maneiras de explicar tudo ao espectador são um tanto quanto falhas.

O grande apelo do curta é sua simplicidade em gerar medo. Nele, tudo é minimalista e o suficiente para deixar os mais impressionados com insônia, algo que não acontece no longa. Mais uma vez, por mais que o psicológico esteja presente em certos momentos (uma marca de Wan), ainda existe o mais tradicional defeito dos filmes atuais do terror: o susto pelo susto. Poucas vezes há uma construção na hora de gerar suspense e o excesso de jumpscare evidencia o conjunto de clichês básicos de uma produção genérica.

A introdução dos personagens, no entanto, é bem construída. Os três familiares, apesar de estereotipados, constituem uma certa empatia com o público. Maria Bello, veterana do terror, constitui uma mãe com problemas psicológicos bem construída e que incomoda o público na sua empatia (ou falta de) na hora de lidar com seus problemas junto aos filhos. Rebecca, interpretada por Teresa Palmer, faz a filha rebelde e entrega também um bom trabalho, principalmente no seu desfecho. Já o garoto Gabriel Palmer, no papel de Martin, faz um papel convincente.

Quanto ao monstro, sua construção é feita de maneira interessante, com uma dinâmica bem elaborada. Mas o problema está na sua origem, que possui uma explicação feita pela metade e sem pé nem cabeça. Isso sem contar nos inúmeros poderes que ela tem inexplicavelmente. Nesse caso, a impressão é de que os produtores tiveram diversas ideias e quiseram colocá-las todas em prática, uma atropelando a outra. O desfecho imprevisível e coerente é o que eleva a qualidade do filme. Uma sequência sem muito apelo, mas forte e bem atuada, destaque para Bello e Palmer.

Bem dirigido, Quando as Luzes se Apagam traz Sandberg como uma boa promessa na direção de terror, mas peca por cair na mesmice dos roteiros de filmes de terror genéricos e perde a oportunidade de entregar um clássico assustador, que brinca com o medo de escuro. Assim como Mama, o filme não chega nem perto da qualidade de seu curta e recorre aos mais básicos elementos superficiais do terror. James Wan pode até ser o maior nome do gênero na atualidade, mas é preciso pensar um pouco fora da caixinha para manter o posto.

EXTRA

Eu sei que estou devendo vídeo pra vocês, mas a vida tá corrida haha.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.