Cheio de tensão, Rogue One traz uma visão mais crua do universo Star Wars

Vinicius Machado
SALA SETE
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5 min readDec 15, 2016

Há aproximadamente um ano, eu estava em uma sala de cinema me debulhando em lágrimas com os créditos finais de Star Wars Episódio VII — O Despertar da Força. Apesar de ter visto a trilogia prequel de Star Wars no cinema, a impressão era de que aquela era a primeira vez em que eu via, de fato, um episódio de Star Wars na tela grande. Eram novos personagens junto com antigos, um roteiro estruturado à base do clássico, um tanto quanto requentado, mas a abertura de uma nova trilogia. No entanto, mal sabia eu que, um ano depois, eu estaria na mesma situação, mas agora com um mundo de Star Wars completamente diferente do que estava acostumado a ver.

Rogue One — Uma História Star Wars conta a trajetória da equipe de pilotos da Aliança Rebelde na missão de roubar os planos da Estrela da Morte.

Sabe quando a sequência de algum clássico é lançada e muitos dizem que ela acompanhou o crescimento de seu público? Pois Rogue One representa exatamente isso. O filme é muito mais maduro do que os episódios e parece querer acompanhar a idade de seu público mais fiel sem perder a essência do que realmente representa a franquia. É possível ter a aventura de sempre, mas desta vez acompanhada de uma carga maior de drama e angústia.

Um dos grandes responsáveis disso é a imposição do Império no seu auge, onde aquele papo de esperança ainda estava surgindo. O que encontramos aqui é uma galáxia devastada e amedrontada com o regime político e com o fim dos Jedis. A percepção do clima tenso é nítida. Finalmente o espectador sente que está acontecendo uma guerra, coisa que servia apenas para um pano de fundo para os conceitos da saga.

Estes conceitos ainda estão presentes e carregam um peso muito maior. As premissas de fraternidade e lealdade alcançam altos níveis dramáticos e as filosofia da Força estar presente no coração das pessoas como uma religião de uma forma nunca vista antes. É incrível como um filme desse gênero consegue trazer certas metáforas e críticas sociais tão atuais. Como é o caso de remeter um planeta ao Oriente Médio e colocar um conflito coerente dentro disso. Ou também o caso dos pontos de vista conservadores do Império perante as atitudes da Aliança Rebelde. É possível se discutir a situação política do mundo apenas usando Rogue One.

O roteiro possui seus momentos piegas, de frases feitas, e até exagera um pouco no fan service, mas num contexto geral ele consegue cumprir o que promete, além de acertar no timming em certos momentos, como é o caso do momento em que o filme acaba, o que deixa ele basicamente um membro essencial da saga sem precisar, necessariamente, ser um Episódio oficial. Aliás, é um longa que pode muito bem introduzir um novo público ao universo de Star Wars. Comece por ele, depois vá para o Episódio IV, Episódio V e Episódio VI.

A direção de Gareth Edwards (Godzilla e Monster) e baseada no ritmo, que demora um pouco para engrenar até apresentar todos os personagens (e são muitos), mas depois consegue engatar e faz com que o público fique na ponta da poltrona, apreensivo por cada movimento. A partir de um momento, não há mais humor e ele se torna praticamente um filme de guerra, e dos bons. As diversas mudanças de cenário poderiam até ser um problema, mas aqui a montagem traz muita dinâmica e o diretor não deixa a trama cair no marasmo nunca.

O elenco por sua vez também possui alguns pontos fracos. O diretor Edwards não é lá muito bom na direção de atores e traz alguns personagens interessantes, mas sem muita profundidade. Felicity Jones faz um trabalho ok como Jyn Erso, assim como Diego Luna no papel de Cassian Andor. Os destaques vão para a dupla Donnie Yen e Wen Jiang, respectivamente Chirrut Imwe e Baze Malbus, guardiões que se juntam aos rebeldes no meio da trama. No entanto, é preciso dar o destaque a Alan Tudyk, ator que dá vida ao droide K-2SO. Um verdadeiro contraponto de C3PO. Sincero até demais, é dele as melhores cenas de humor e as melhores sacadas nos diálogos.

A história do cinema sendo escrita

Um dos grandes destaques do filme acontece logo na primeira parte: Orson Krennic, um dos vilões do filme, conversa com um velho conhecido dos fãs, Grand Moff Tark, o grande general do Império, respeitado até por Darth Vader, interpretado por Peter Cushing. Só que tem um detalhe. Cushing morreu há muitos anos.

Pois é. A construção do personagem é toda feita por CGI e captura de movimentos, que o deixa assustadoramente idêntico ao ator. Algo realmente histórico, e mesmo que seu tempo de tela seja baixo, e um conceito a se levar para frente. É para se pensar se não podemos ter um dia Christopher Reeve de volta ao papel de Superman, por exemplo. Aliás, aguardem surpresas.

Rapaz, e não é que me fizeram certinho?

Maduro, cru, sujo e cheio de personalidade, Rogue One — Uma História Star Wars é como se alguém sentasse ao lado da nossa cama e contasse uma nova história, de um novo livro, mas da mesma série. É tão diferente, mas tão familiar ao mesmo tempo.

É o filme que expande de vez o universo gigantesco criado por George Lucas, com um novo olhar, mas sem perder a essência do que sempre foi.

Ano passado, disse que O Despertar da Força só ficava atrás de O Império Contra-Ataca. Pelo visto, é bom eu parar de ranqueá-los, porque pelo andar da carruagem, as mudanças de posição vão ser constantes.

Ah, e o Darth Vader? Bom, o máximo que posso dizer a vocês é…aproveitem e sintam medo ❤.

EXTRA

Ainda não viu Westworld? Corre pra assistir, mas antes confira nosso vídeo sobre a mais nova série da HBO lá no canal Eu Vi Ali.

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Vinicius Machado
SALA SETE

Jornalista, cinéfilo, fanático por Star Wars e editor do blog Sala Sete. Escreve sobre filmes e não dispensa uma boa conversa sobre o assunto.